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SOBRE O BLOG: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blog, apenas vinculam os respetivos autores.

quarta-feira, 16 de março de 2022

Superstições relacionadas com a água

 
Sobre superstições

Superstição (do latim superstitio, “profecia, medo excessivo dos deuses”) ou crendice é a crença em situações com relações de causalidade que não se podem mostrar de forma racional ou empírica. Ela geralmente está associada à suposição de que alguma força sobrenatural, que pode inclusive ser de origem religiosa, agiu para promover a suposta causalidade.

Superstições são, por definição, não fundamentadas em verificação de qualquer espécie. Elas podem estar baseadas em tradições populares, normalmente relacionadas com o pensamento mágico.

Por regra,  quem é supersticioso acredita que certas ações (voluntárias ou não) tais como rezas, curas, conjuros, feitiços, maldições ou outros rituais, podem influenciar de maneira transcendental a sua vida. (Fonte, texto adaptado)

A seguir, vamos transcrever algumas superstições e crendices relacionadas com a água, apresentadas pelo Dr. José Leite de Vasconcelos, na sua obra “Etnografia Portuguesa“, e que dizem respeito à água:

Superstições acerca da água

– A água benta tem grande virtude. Quando as mãos suam é bom mantê-las em água benta (Samodães).

– Dizem em Óbidos, Mangualde, Paços de Ferreira e Lisboa que, quando duas pessoas lavam as mãos juntas, em breve bulham. Nos Açores (S.Miguel), para evitar a briga, cospem na água.

– As águas de baptizar as crianças que não estejam baptizadas deitam-se em sítio onde não passe ninguém por cima e em que não dê o sol (Óbidos e Mangualde).

– Não é bom beber água de noite, porque ela está a dormir, e se não puder deixar de beber-se bata-se para a acordar e não fazer mal (Óbidos e Mangualde). Também em Carviçais, Moncorvo, se diz que a água dorme de noite, e em Baião, quando alguém tem sede de noite e quer beber água, é necessário deitar uma pinga fora e diz-se: «Acorda, água, que eu também já acordei!» «Vamos pelo que diziam os antigos»! O mesmo se faz na Beira Baixa, como se vê um trecho de Nuno de Montemor:

«- Para se beber, é preciso acordá-la primeiro.

– E como se acorda?

O velho serrano aproximou-se da cantarinha batendo três vezes no cântaro com os dedos nodosos.

– É assim…- ensinou.

E sacudindo a água verteu-a no copo confiadamente.

– Agora pode bebê-la à vontade…»

– Em Óbidos (Peral) afirma-se que a água é corredia. Bebendo-a de bruços, à noite, a gente levanta-se com o Inimigo (Carviçais, Moncorvo).

– Bebe sangue quem num charco bebe por cima; se for por baixo, bebe matéria (Elvas; informação de António Tomás Pires).

– Não dão maleitas a quem bebe água por uma brecha (mina) nova de água (Cinfães).

– Quem urina num rego de água urina a fortuna.

– Se a água está fria quando se bebe, diz-se que não adivinha outra, i. é, não choverá (Elvas; informação de António Tomás Pires).

Epostracismo, leconomancia e hidromancia

– Epostracismo: em Mangualde os rapazes costumam capar a água com pedras.

– Fecundidade

À porta de Dona Aldonça
Corre um cano de água clara,
A mulher que dela bebe
Logo se sente pejada…

– Leconomancia e hidromancia: em Mangualde e Óbidos levam água às pessoas que se supõem mordidas por um cão ou qualquer animal raivoso, porque vêem na água o animal que mordeu.

– Em Guimarães, quando as mulheres que têm o diabo no corpo vão á mulher benta, a Braga, para lho expulsar, deitam sal no rio ao passarem por ele (ouvido em 1884).– Em Óbidos, quando vão buscar água à fonte, costumam escorrer bem o cântaro antes de saírem, porque, se levam no fundo algum resto, a fonte seca.

- Na Nazaré fazem o mesmo na fonte, para que a fonteira não venha a casar com um bêbedo. As raparigas de …, quando iam à Fonte Velha, costumavam deitar uma gota de água na cavidade de uma pedra que estava ali perto. E no Alandroal, quando trazem o cântaro da fonte com água, atam-lhe uma junca ao gargalo para que a água se conserve fresca.

– Na Estremadura entornar água significa lágrimas, tristezas; por isso em Lisboa deitam-lhe vinho, porque entornar vinho é sinal de alegria.

Fonte: Etnografia Portuguesa – vol.VI, J. Leite de Vasconcelos

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