Número total de visualizações do Blogue

Pesquisar neste blogue

Aderir a este Blogue

Sobre o Blogue

SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite, Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

sábado, 11 de junho de 2022

Ainda e sempre a minha rua. - Segunda parte.

Por: António Orlando dos Santos (Bombadas)
(colaborador do "Memórias...e outras coisas...")
 
A minha rua apesar de ser assim 
As outras para mim não têm mais valor
Foi nessa rua onde nasceu minha mãe 
O meu pai e eu também 
E onde vive o meu amor !

(Versos de uma canção popular da minha juventude . Cantava Maria Clara).

Volto assim, como havia prometido à Rua S. João de Deus, mais conhecida por Caleja do Forte, onde se centram os meus sentidos que vão ajudar-me a pôr em letra redonda algumas das minhas recordações de criança e adolescente.
No lugar do Pontão que era em frente à casa e oficina do Manuel Reis, desenvolvia-se toda a parte lúdica da rua que no tempo da minha criação tinha mais crianças do que há hoje em qualquer Escola da cidade. Era aí que os adultos passavam para acederem a suas casas e onde a garotada, livremente e sem impedimentos, brincava.
O Tio Manuel Reis era de um feitio quezilento, sem ser violento, pois sempre queria que as coisas corressem a "su manera ". Dada a azáfama da sua oficina a Rua era ocupada pelas bicicletas que na espera de conserto a ocupavam, umas desmanteladas outras esperando que as reparassem de males menores mas impeditivos da sua circulação.
Naquele tempo não havia os pruridos de comportamento que hoje há na sociedade e a maioria vestia modestamente e os remendos na fatiota, ou os arames nas biqueiras dos sapatos eram o pão nosso de cada dia. Os que se aproximavam mais dos padrões actuais no respeitante à vestimenta eram uma mão cheia de meninas e um número diminuto de rapazes que quando se tratava de jogar ao berlinde ou ao futebol se deitavam ao chão que normalmente tinha óleo respingado por aquela catrefa de bicicletas, motorizadas e motores de rega que se sobrepunham a todos os lamentos das mães que se manifestavam contra o facto de a garotada se sujar e esfarrapar entre a saída de casa de manhã e o regresso para almoçar.
A produção e correspondente ocupação do solo era uma prerrogativa que o Reis usava sem que alguém pudesse impedir o uso e abuso do espaço circundante, pois com a saída, ou morte? da tia Lamega, o Reis comprou a casa do lado oposto e fez dela armazém e loja de bicicletas, motorizadas, motores de rega e peças sobresselentes. O status quo era indiferente às pretensões de qualquer das partes pois ninguém se opunha ao desfrute do espaço público. Garotos não faltavam e farragachos também não.
A seguir ao Reis morava a menina Estrela, que era gorda mas muito meiga. Era amiga do Sr. Carreta e a roda do sol não parou por causa dessa amizade. O Frederico ia -lhe fazer as compras ao Pousa e ao Sr. Raul azeiteiro e quando ia ao Pousa comprar fósforos de cera, pedia sempre em latim que só nós entendíamos: Sô Pô di a menina Stê qui mi déze una cás di fofiá (sic). O Pousa coçava a cabeça e dizia para o Gata Russa: - Vê lá o que quer esse que eu não o entendo.
Do outro lado era a casa da tia Cândida Ramires que era a habitação do Sr. Carreta, que era alfaiate no Garrido e "vonveiro" voluntário de “Vragança " e do seu irmão Guitarra que era caçador e tinha sete cães. Era um castiço e queria aos perros como se fossem seus filhos. Não fazia mal a uma mosca, mas coelhos e perdizes não faltavam no seu tempo. Moravam também na dita casa a filha Maria Helena, duas netas, Bernardete e Sofia e a tia Cândida Ramires que já era Senhora de idade e já quase não saía da cama.
Do lado contrário vivia a tia Belizanda Barradas que já era viúva e tinha filhos já adultos, o Arlindo morava em S. Lourenço, o Benjamim estava na África e o Zé que era Sargento Músico e casou com a minha prima Rosa estava na tropa algures d' ó por aí abaixo. No andar superior morava a Albertina com os seus três filhos: Helena, Fátima e Valdemar. Mais tarde quando a Albertina foi com os filhos (as) para Lisboa morou nesse andar o Sr. Artur Belizário e a Ermelinda. Nos baixos da tia Cândida Ramires, primeiramente morou a Helena Ferra e quando saiu foi viver para lá a tia Maria Mônica, mulher de quem já escrevi algo e que para mim foi a pessoa mais pura que me foi dado conhecer em todo o tempo que levo de vida.
Lado oposto, casa do Sr. Garrido e Sra. Belizanda com os seus filhos António e Adelaide, Laila para o povinho. Recordo esta família como uma das mais íntimas e de quem continuo a sê-lo, mesmo que ambos os maiores hajam falecido.
Do lado esquerdo ascendente depois da Ferra nesse tempo vivia a avó do Carlinhos da Sé e o próprio Carlinhos que já estava internado no Albergue de onde fugia sempre que o Polícia Mau, lhe "zurzia o aparelho ". Seguidamente viveu lá a tia Santana e o Fernando que ela criou e que mais tarde esteve no Patronato e que não vejo há muitos anos. Em frente e do lado direito ascendente vivia o casal sem filhos, penso eu, Tio Abílio Engraxa e a mulher tia Albertina do Engraxa, que trabalhava no cinema e era uma senhora fantástica pois tinha sempre um rebuçadinho para dar à garotada. Trazia sempre dois ou três cartazes do cinema "fly overs" para nos dar quando ela achava que os filmes eram bons para nós.
Do mesmo lado e na casa seguinte morava o Sr. Belchior, esposa e filho, Zé Lula, que teve venda de peixe no mercado e foi para-quedistas. Outro grande amigo meu dos meus tempos de menino. Esquerda ascendente, casa da menina Celeste madrinha do Moisés. Era gente abastada da aldeia que às vezes era ocupada por estudantes e recebia os víveres que eram transportados numa burra que parecia a do presépio, pois era mais mansa que uma rola. Penso que esta senhora era da família dos Silvanos mas como era pouco dada a conversas nunca fui muito sabedor das ligações, excluindo que era madrinha do Moisés.
Na casa a seguir moravam os sogros do Professor Maximino e a esposa que continuou a viver ali por muitos anos. Hoje pára por aqui pois falta-me a disponibilidade para chegar ao cimo.
Brevemente retomarei a tarefa de findar a resenha histórica.
Até amanhã se Deus quiser.



Bragança, 07/06/2022
A. O. dos Santos
(Bombadas)

Sem comentários:

Enviar um comentário