Por: José Mário Leite
(colaborador do Memórias...e outras coisas...)
Parece milagre, concedem os mais céticos.
É um milagre de Nossa Senhora do Castelo, garante a maioria dos devotos que, no terceiro domingo de maio, se aventuram pela fragada para celebrar a Festa das Açucenas, nas imediações de um dos mais belos promontórios sobre o inebriante Vale da Vilariça.
Milagre ou não, o certo é que, todos os anos, no mês das rosas e das flores, que por ali não abundam, no meio de carrascos, carvalheiras, alguns zimbros, severos e soturnos blocos gigantescos de granito, lá estão elas, as açucenas! Puras, frágeis, belas e delicadas, exibindo a sua alvura graciosa e leve, povoam as cercanias do monte de S. Joãozinho.
Quem, indiferente à abrasadora canícula que cobre de suor os mais afoitos dos romeiros e desperta cobras e outros répteis, sobe a fragada, vindo da Terrincha, ou a desce, proveniente da Adeganha e Cardanha, ou como a maioria dos romeiros, se atreve a sujeitar os respetivos veículos aos desengonçantes solavancos do estradão de terra que serve o Santuário, não pode, mesmo que o quisesse, ficar indiferente às dezenas e dezenas de corolas brancas, rodeando um fino e rendilhado coração amarelo, no meio de botões de um verde suave e desmaiado prestes a abrir, enfeitando a vizinhança da ermida.
No terreiro, após dois anos tristes, escuros, sombrios e deprimentes, esperam-nos os dois andores, cuidadosamente preparados e enfeitados por cuidadosas e diligentes mãos de gente da Adeganha. O da Virgem, o de S. João Baptista alindado com rosas vermelhas e o da Virgem com as naturais e óbvias açucenas alvas e cândidas. Os peregrinos, este ano, são menos. E, mais velhos, parece-me. Porém, por entre as cadeiras alinhadas no terreiro para assistir à missa concelebradas pelos reverendos padres João e Joaquim, circula livre e alegremente, uma criança, com pouco mais de dois anos. O amigo e conterrâneo Rui Vilela informa:
– É a nossa mascote! É a única criança que temos, agora na Adeganha.
A alegoria é óbvia. Enquanto os sacerdotes se paramentam, à vista do povo, a reflexão chega, espontânea e imperativa. A pequenina que borboleteia por entre assistentes da missa é, tal e qual, a açucena que se impõe, entre duas fragas encostadas como se quisessem protegê-la, no meio de uma pequena mata de carrascos que a bordeja, como me assinalou a devota de primeira hora, desta festividade, Ermelinda Pinto.
Cumprindo a promessa feita, há séculos atrás, por Maria, à jovem pastora que demandando, a abandonada igreja se ajoelhou para rezar, todos os anos, pela primavera, o Santuário floresce e mostra o seu esplendor, no meio da aridez e apesar do calor escaldante. Indiferentes à pobreza do solo, à aridez climática, à teimosia militante das autoridades que se recusam a cumprir promessa eleitoral, voluntária e com garantia de “palavra de honra” de melhorar os acessos, as açucenas aparecem, atraem, deslumbram e cumprem a divina determinação.
Cumprindo o desígnio vital da humanidade, alheia aos desacertos governativos, distante da ausência de incentivos ao desenvolvimento do interior, na Adeganha, envelhecida e despovoada, uma criança, alegre e festivamente, teima persistir e renovar a vetusta freguesia.
Da senhora do Castelo, com a minha mãe e o meu tio, com o carro sujo de poeira e depois de o sujeitar a violentos e demolidores solavancos, trouxe uma açucena e uma esperança num futuro melhor.
É um milagre de Nossa Senhora do Castelo, garante a maioria dos devotos que, no terceiro domingo de maio, se aventuram pela fragada para celebrar a Festa das Açucenas, nas imediações de um dos mais belos promontórios sobre o inebriante Vale da Vilariça.
Milagre ou não, o certo é que, todos os anos, no mês das rosas e das flores, que por ali não abundam, no meio de carrascos, carvalheiras, alguns zimbros, severos e soturnos blocos gigantescos de granito, lá estão elas, as açucenas! Puras, frágeis, belas e delicadas, exibindo a sua alvura graciosa e leve, povoam as cercanias do monte de S. Joãozinho.
Quem, indiferente à abrasadora canícula que cobre de suor os mais afoitos dos romeiros e desperta cobras e outros répteis, sobe a fragada, vindo da Terrincha, ou a desce, proveniente da Adeganha e Cardanha, ou como a maioria dos romeiros, se atreve a sujeitar os respetivos veículos aos desengonçantes solavancos do estradão de terra que serve o Santuário, não pode, mesmo que o quisesse, ficar indiferente às dezenas e dezenas de corolas brancas, rodeando um fino e rendilhado coração amarelo, no meio de botões de um verde suave e desmaiado prestes a abrir, enfeitando a vizinhança da ermida.
No terreiro, após dois anos tristes, escuros, sombrios e deprimentes, esperam-nos os dois andores, cuidadosamente preparados e enfeitados por cuidadosas e diligentes mãos de gente da Adeganha. O da Virgem, o de S. João Baptista alindado com rosas vermelhas e o da Virgem com as naturais e óbvias açucenas alvas e cândidas. Os peregrinos, este ano, são menos. E, mais velhos, parece-me. Porém, por entre as cadeiras alinhadas no terreiro para assistir à missa concelebradas pelos reverendos padres João e Joaquim, circula livre e alegremente, uma criança, com pouco mais de dois anos. O amigo e conterrâneo Rui Vilela informa:
– É a nossa mascote! É a única criança que temos, agora na Adeganha.
A alegoria é óbvia. Enquanto os sacerdotes se paramentam, à vista do povo, a reflexão chega, espontânea e imperativa. A pequenina que borboleteia por entre assistentes da missa é, tal e qual, a açucena que se impõe, entre duas fragas encostadas como se quisessem protegê-la, no meio de uma pequena mata de carrascos que a bordeja, como me assinalou a devota de primeira hora, desta festividade, Ermelinda Pinto.
Cumprindo a promessa feita, há séculos atrás, por Maria, à jovem pastora que demandando, a abandonada igreja se ajoelhou para rezar, todos os anos, pela primavera, o Santuário floresce e mostra o seu esplendor, no meio da aridez e apesar do calor escaldante. Indiferentes à pobreza do solo, à aridez climática, à teimosia militante das autoridades que se recusam a cumprir promessa eleitoral, voluntária e com garantia de “palavra de honra” de melhorar os acessos, as açucenas aparecem, atraem, deslumbram e cumprem a divina determinação.
Cumprindo o desígnio vital da humanidade, alheia aos desacertos governativos, distante da ausência de incentivos ao desenvolvimento do interior, na Adeganha, envelhecida e despovoada, uma criança, alegre e festivamente, teima persistir e renovar a vetusta freguesia.
Da senhora do Castelo, com a minha mãe e o meu tio, com o carro sujo de poeira e depois de o sujeitar a violentos e demolidores solavancos, trouxe uma açucena e uma esperança num futuro melhor.
José Mário Leite, Nasceu na Junqueira da Vilariça, Torre de Moncorvo, estudou em Bragança e no Porto e casou em Brunhoso, Mogadouro.
Colaborador regular de jornais e revistas do nordeste, (Voz do Nordeste, Mensageiro de Bragança, MAS, Nordeste e CEPIHS) publicou Cravo na Boca (Teatro), Pedra Flor (Poesia) e A Morte de Germano Trancoso (Romance), Canto d'Encantos (Contos) tendo sido coautor nas seguintes antologias; Terra de Duas Línguas I e II; 40 Poetas Transmontanos de Hoje; Liderança, Desenvolvimento Empresarial; Gestão de Talentos (a editar brevemente).
Foi Administrador Delegado da Associação de Municípios da Terra Quente Transmontana, vereador na Câmara e Presidente da Assembleia Municipal de Torre de Moncorvo.
Foi vice-presidente da Academia de Letras de Trás-os-Montes.
É Diretor-Adjunto na Fundação Calouste Gulbenkian, Gestor de Ciência e Consultor do Conselho de Administração na Fundação Champalimaud.
É membro da Direção do PEN Clube Português.
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