Por: António Orlando dos Santos (Bombadas)
(colaborador do "Memórias...e outras coisas...")
De vez em quando, espiritualmente, regresso à Caleja. Não sou capaz de deixar de o fazer e hoje, creio, sei porquê. É que a vida já começa a ter cabelo branco e lembra-me a história do Rei que disse ao lavrador: -Muita neve vai na serra. O lavrador sabedor de segredos velhos respondeu: -Já Senhor, é tempo dela.
Foi este pequeno diálogo que decorei na escola, a primeira coisa que me veio à cabeça, quando hoje encontrei o meu amigo de infância que se chama José Mendes e é conhecido pelo nome do guerreiro filisteu que enganado pela bela Dalila deixou cortar o cabelo depois de um ato de amor, Sansão. Destruiu o edifício mas já não valeu de nada.
Para terminar o dia depois de jantar, fui ver as novidades no Face book e encontrei uma mensagem e uma fotografia de Kodak com os dois meus amigos Adérito e Fernando Meneses, que nos anos cinquenta também moraram na Caleja e que uma nebulosa no meu cérebro não apagou mas, que se manteve como que apagada durante mais de quarenta anos. No caso do Bebé que o Fernando eu tenho visto algumas vezes.
Vem isto a propósito de que como eu comento numa resposta que lhe dou no Face, bebé era como se chamava aos nascituros ricos ou em casos muito excecionais aos garotos muito bonitos e o Adérito era-o de facto. Será isto apenas, que esta lembrança que vem dum tempo remoto merece ser escrita no Face quando há tantas histórias mais interessantes para contar? Decidi mencionar esta porque me parece que o encontro com o Zé Mendes me tocou fundo no coração e a foto dos manos Menezes me transportou para um mundo que já não existe e que apenas a nossa memória pode recordar.
Ora aconteceu que esta lembrança de um tempo passado me trouxe outras recordações que embora não diretamente ligadas a estes meus amigos da minha infância me transporta para o começo da rua e me faz lembrar de gente de quem guardo bem no fundo do baú, a face, o feitio e o nome.
Os leitores mais conhecedores daqueles ares terão ocasião de fazerem um pouco de esforço mental e relembrarem gente que a seu modo fez história que marcou a nossa vida.
Começo por mencionar no começo da rua na casa primeira do lado ascendente, o Senhor Amadeu Rabichoilo com a sua Barbearia mais o seu irmão Toneco que com a esposa e uns tantos filhos enfeitavam a entrada do reino maravilhoso. Porta lateral da D. Branca Xiote e a seguir uma "loja" onde dormia o macho do Má Cara. Foi também Taverna de vinho novo. Na porta seguinte era a Barbearia do Zé Rabel, grafo com b pois o v era coisa que não se usava. Era um personagem que deveria ser descrito por alguém capaz de fazer deste homem o que ele era, um cavalheiro com pouca sorte, mesmo assim um cavalheiro.
Não tenho ideia clara se o Sr. Garrido tinha a alfaiataria onde eu conheci o Zé Rabel ou se era na casa ao lado. Falta-me aqui a planta, mas já mencionei o Sr. Garrido e ele merece que eu um dia diga alguma coisa do bom feitio deste bragançano verdadeiro.
A seguir vinha a casa do Guicho. Tia Beatriz Guicha mais o marido e três filhos, Herculano, Chico e Teresinha.Tia Júlia Nascas e família, Passarinho e uma irmã e família colateral e o sapateiro Tio Severa com a esposa e creio que estes não tinham filhos.
Seguia-se a tia Rabala e marido mais o filho, o meu amigo Joaquim que mantém a casa que foi a primeira a salvar-se ao camartelo.
Por último do lado ascendente a Senhora Olívia e o seu marido Tio Manuel Vinte com as suas filhas, Mariazinha e Antoninha. Não vou mais à frente pois ficará para outra crónica a segunda secção que começará com a casa e oficina do Reis.
No entanto falta o lado esquerdo ascendente. A saber, Taverna do Amador e D. Branca, pais do Duarte e Domingos, Tio Cacete e família que usavam a casa como ponto de apoio à família que vivia em S. Lourenço. A seguir morava o Chico Broa mais a mãe Tia Beatriz, nos baixos tia Santana e filhos e por último o Tio Francisco e Tia Branca, pais da Aida e do Moisés.
Reparem nas pessoas que moravam em tão curto espaço e que número elevado de criaturas se criaram com o pouco que a fortuna lhes concedeu.
Depois vem a festa dos nomes e nomeadas, que foi a razão primeira para esta crónica muito sem jeito, mas que faz pensar na facilidade de ápodos sociais em que quase todas as famílias eram referidas pelo nome "de guerra" que subsiste ainda na memória coletiva.
Tenho consciência que este meu exercício de escrita não terá qualidade real que valha. Pareceu- me no entanto que é um pouco uma pequena ajuda ao coletivo que sendo socialmente atingido por algum infortúnio, foi capaz de se libertar da condição de último na escala e construiu um futuro melhor para os seus.
Ajudou muito a emigração mas estou certo, que fazendo uma análise sociológica se detetariam alguns milagres de ascensão social dignos de registo.
E finalmente conseguiu-se uma coesão que nem o camartelo da Câmara & Torralta destruíram.
Foi este pequeno diálogo que decorei na escola, a primeira coisa que me veio à cabeça, quando hoje encontrei o meu amigo de infância que se chama José Mendes e é conhecido pelo nome do guerreiro filisteu que enganado pela bela Dalila deixou cortar o cabelo depois de um ato de amor, Sansão. Destruiu o edifício mas já não valeu de nada.
Para terminar o dia depois de jantar, fui ver as novidades no Face book e encontrei uma mensagem e uma fotografia de Kodak com os dois meus amigos Adérito e Fernando Meneses, que nos anos cinquenta também moraram na Caleja e que uma nebulosa no meu cérebro não apagou mas, que se manteve como que apagada durante mais de quarenta anos. No caso do Bebé que o Fernando eu tenho visto algumas vezes.
Vem isto a propósito de que como eu comento numa resposta que lhe dou no Face, bebé era como se chamava aos nascituros ricos ou em casos muito excecionais aos garotos muito bonitos e o Adérito era-o de facto. Será isto apenas, que esta lembrança que vem dum tempo remoto merece ser escrita no Face quando há tantas histórias mais interessantes para contar? Decidi mencionar esta porque me parece que o encontro com o Zé Mendes me tocou fundo no coração e a foto dos manos Menezes me transportou para um mundo que já não existe e que apenas a nossa memória pode recordar.
Ora aconteceu que esta lembrança de um tempo passado me trouxe outras recordações que embora não diretamente ligadas a estes meus amigos da minha infância me transporta para o começo da rua e me faz lembrar de gente de quem guardo bem no fundo do baú, a face, o feitio e o nome.
Os leitores mais conhecedores daqueles ares terão ocasião de fazerem um pouco de esforço mental e relembrarem gente que a seu modo fez história que marcou a nossa vida.
Começo por mencionar no começo da rua na casa primeira do lado ascendente, o Senhor Amadeu Rabichoilo com a sua Barbearia mais o seu irmão Toneco que com a esposa e uns tantos filhos enfeitavam a entrada do reino maravilhoso. Porta lateral da D. Branca Xiote e a seguir uma "loja" onde dormia o macho do Má Cara. Foi também Taverna de vinho novo. Na porta seguinte era a Barbearia do Zé Rabel, grafo com b pois o v era coisa que não se usava. Era um personagem que deveria ser descrito por alguém capaz de fazer deste homem o que ele era, um cavalheiro com pouca sorte, mesmo assim um cavalheiro.
Não tenho ideia clara se o Sr. Garrido tinha a alfaiataria onde eu conheci o Zé Rabel ou se era na casa ao lado. Falta-me aqui a planta, mas já mencionei o Sr. Garrido e ele merece que eu um dia diga alguma coisa do bom feitio deste bragançano verdadeiro.
A seguir vinha a casa do Guicho. Tia Beatriz Guicha mais o marido e três filhos, Herculano, Chico e Teresinha.Tia Júlia Nascas e família, Passarinho e uma irmã e família colateral e o sapateiro Tio Severa com a esposa e creio que estes não tinham filhos.
Seguia-se a tia Rabala e marido mais o filho, o meu amigo Joaquim que mantém a casa que foi a primeira a salvar-se ao camartelo.
Por último do lado ascendente a Senhora Olívia e o seu marido Tio Manuel Vinte com as suas filhas, Mariazinha e Antoninha. Não vou mais à frente pois ficará para outra crónica a segunda secção que começará com a casa e oficina do Reis.
No entanto falta o lado esquerdo ascendente. A saber, Taverna do Amador e D. Branca, pais do Duarte e Domingos, Tio Cacete e família que usavam a casa como ponto de apoio à família que vivia em S. Lourenço. A seguir morava o Chico Broa mais a mãe Tia Beatriz, nos baixos tia Santana e filhos e por último o Tio Francisco e Tia Branca, pais da Aida e do Moisés.
Reparem nas pessoas que moravam em tão curto espaço e que número elevado de criaturas se criaram com o pouco que a fortuna lhes concedeu.
Depois vem a festa dos nomes e nomeadas, que foi a razão primeira para esta crónica muito sem jeito, mas que faz pensar na facilidade de ápodos sociais em que quase todas as famílias eram referidas pelo nome "de guerra" que subsiste ainda na memória coletiva.
Tenho consciência que este meu exercício de escrita não terá qualidade real que valha. Pareceu- me no entanto que é um pouco uma pequena ajuda ao coletivo que sendo socialmente atingido por algum infortúnio, foi capaz de se libertar da condição de último na escala e construiu um futuro melhor para os seus.
Ajudou muito a emigração mas estou certo, que fazendo uma análise sociológica se detetariam alguns milagres de ascensão social dignos de registo.
E finalmente conseguiu-se uma coesão que nem o camartelo da Câmara & Torralta destruíram.
Bragança 02/06/2022
A. O. dos Santos
(Bombadas)
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