Valorizar estas artes é o propósito da Associação de Municípios da Terra Quente Transmontana com a Rota Saber Fazer que proporciona aos turistas experiências com os artesãos e quer chamar mais gente para estas atividades artesanais.
Nos cinco concelhos do distrito de Bragança que integram a rota, Macedo de Cavaleiros, Mirandela, Carrazeda de Ansiães, Vila Flor e Alfândega da Fé, há artesões que se dedicam às atividades apenas por gosto, tirando do artesanato um rendimento extra, mas também quem trocou de profissão pelos saberes tradicionais e quem fez destes um projeto de vida.
Francisco Taveira tem 27 anos e há uma década descobriu o gosto por reparar pipas velhas, quando começou a trabalhar numa empresa de vinho do Porto.
Decidiu dedicar-se à tanoaria e instalou o próprio negócio na aldeia de Carvalho de Egas, em Carrazeda de Ansiães, e é dos poucos tanoeiros a fazer este trabalho de reparação dos cascos antigos, que “fazem bom vinho”.
“Não tenho mão a medir”, disse à Lusa, durante um evento promovido pela Associação de Municípios.
Francisco está relativamente perto da grande produção do Douro e tanto concerta pipas mais pequenas na oficina da aldeia, como vai até às adegas dos grandes produtores para trabalhar num tonel de 10 mil litros.
“O longe faz-se perto com as estradas que temos”, sublinhou.
A única queixa de Francisco é sobre a falta de financiamentos de programas nacionais ou comunitários destinados a estas atividades. No caso dele, está a investir do que ganha para poder ter mais máquinas e um espaço melhor e maior e para poder pagar a alguém que o ajude a fazer o trabalho.
Da mesma opinião partilha Sofia Pombares, que em Podence, a aldeia dos Caretos Património da Humanidade, em Macedo de Cavaleiros, está à frente de um negócio que tem crescido sem financiamentos.
Sofia deixou a enfermagem para se dedicar exclusivamente ao artesanato dos Caretos, desde as máscaras aos fatos, uma atividade que iniciou há alguns anos apenas por lazer aos fins de semana, junto com o marido, que morreu recentemente, e que sempre esteve envolvido no tradicional Entrudo Chocalheiro.
Começaram por fazer máscaras para os Caretos, seguiram-se pequenas recordações para os turistas, os fatos, alojamento local e está prestes a inaugurar um parque de campismo na aldeia.
“Sempre tudo da nossa iniciativa, vamos caminhando aos poucos e vamos construindo sempre mais e investindo, não temos qualquer tipo de apoio”, afirmou.
A elevação dos Caretos de Podence a Património da Humanidade aumentou a procura, com excursões de turistas durante todo o ano, apesar de as épocas altas serem o Carnaval e o verão, com os veraneantes das praias fluviais do Azibo.
A Associação de Municípios da Terra Quente Transmontana quer que estes artesãos “se sintam valorizados” e estruturar uma oferta turística em articulação com os diferentes operadores locais, como indicou a presidente Júlia Rodrigues.
A rota dá aos artesãos apoio de um ateliê de design para que possam criar novas peças.
A artesã Fátima Gomes já teve alguns curiosos nos teares na aldeia de Lamas de Orelhão, em Mirandela, mas “não quiseram ficar” e continua a tecer sozinha tapetes e mantas de lã.
Há cinco anos que Fátima Gomes tem encomendas do Japão, como contou esta artesã que emigrou para França e regressou ao tear, na aldeia de Lamas de Orelhão, onde permanece desde 1987 e é única dedica à arte.
Na aldeia de Valtorno, em Vila Flor, Alexandra Araújo e o marido apostaram na cultura tradicional da amêndoa, começaram há uma década a fazer mais plantação e decidiram fazer também a transformação.
Trabalham “40 a 50 toneladas por ano” e vendem para lojas locais, Vila Real, Porto, Braga, Angola e França o miolo embalado, farinha, manteiga e quatro tipos de amêndoa coberta, tudo feito de forma artesanal.
Compram também aos agricultores da região e, além da mão-de-obra familiar, fazem contratações sazonais na apanha da amêndoa e do mirtilo para compotas.
A Rota Saber Fazer integra ainda artesãos como o agricultor Bruno Pires, que na aldeia de Freixiel, em Vila Flor, faz quadros em ráfia, terços com caroços de azeitona e outro artesanato das ideias que surgem com o que vai observando e recolhendo no campo.
A idade da reforma permitiu a dedicação total de Armando Pereira, um aposentado da Função Pública, às guitarras que começou a construir ainda jovem por lazer e pelo gosto de tocar.
É um dos artesãos que oferece experiências, na aldeia de Sambade em Alfândega da Fé, e que têm encomendas de particulares, músicos e casas da especialidade para instrumentos que podem custar até 1.100 euros, no caso da guitarra portuguesa.
A aldeia em Alfândega da Fé foi o refúgio de Lúcia Morais, uma antiga professora que começou por fazer fuxicos (flores), faz bonecas de trapos e outros materiais, depois de se reformar e ficar viúva.
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