Daniel Veríssimo, um economista fascinado pela natureza, desafia-nos a pensar na possibilidade desta espécie chegar ao nosso país. Recentemente foi detetado um animal em Espanha.
Chacal-dourado. Foto: Dhaval Vargiya/WikiCommons |
O chacal-dourado (Canis aureus), mais pequeno que um lobo e maior que uma raposa, está num nível intermédio entre os dois na cadeia trófica. As fêmeas (45 – 50 centímetros e cerca de 7 a 11 quilos) são ligeiramente mais pequenas que os machos (70 centímetros e entre 8 a 12 quilos), com uma pelagem entre o dourado, o castanho escuro e tons alaranjados.
Os chacais formam casais monogâmicos que ficam juntos para toda a vida, protegem um território com cerca de 1.500 hectares e têm uma ninhada por ano, entre 2 a 8 crias. Têm uma dieta generalista e podem caçar, comer restos de animais mortos e até consumir fruta. São altamente adaptáveis, sobrevivem numa grande variedade de habitats, desde florestas fechadas a paisagens abertas, de zonas quentes a zonas frias e são extremamente inteligentes.
São uma espécie relativamente recente. Apareceu no fim do Pleistoceno na Índia e os primeiros fósseis no Médio Oriente e Grécia têm cerca de 7.000 anos.
Apesar de estar presente no Sul Oriental da Europa há alguns milhares de anos, nas últimas décadas tem tido uma expansão rápida, primeiro para a Europa Central rumo ao Norte, até ao Báltico e Escandinávia e depois, nos últimos anos, para Sul, pela península Itálica até Roma. Está estabelecido no sul de França e recentemente foi detetado o primeiro exemplar na Península Ibérica, na província espanhola de Álava, no País Basco.
O chacal-dourado está num estado de expansão intermédio. Em algumas zonas as populações estão estabelecidas mas ainda existe imenso território que pode colonizar.
Chacal-dourado. Foto: Ummidnp/WikiCommons |
Contudo, existem outras espécies em estados de expansão mais adiantado. Por exemplo, a rola turca (Streptopelia decaocto) começou a
espalhar-se pela Europa
no começo do século XX e hoje está estabilizada um pouco por todo o continente. Outro caso, mas num estado mais inicial, é o do porco espinho (Hystrix cristata), com um aumento da área de distribuição nos últimos anos no Norte Itália; em breve cruzará os Alpes (no passado existia uma espécie de porco espinho na Europa, também esteve presente em Portugal e os últimos registos são da última idade do gelo).
Corredores ecológicos, de Norte a Sul e de Este a Oeste, por montanhas, campos e rios são cruciais numa altura de rápidas alterações climáticas. Boas ligações entre diferentes áreas selvagens permitem aos animais encontrar novos territórios, recuperar zonas de distribuição antigas e colonizar novas áreas.
Caminhar pelas montanhas do Norte de Portugal, numa manhã de primavera e, entre vales verdes e frescos, ouvir os uivos dos chacais ou passear pelas planícies alentejanas e, num final de tarde de Outono, entre uma paisagem quente e seca ver um chacal curioso camuflado na vegetação rasteira.
Em breve esta visão pode ser realidade. Com um ritmo de expansão rápido, em pouco mais de 3 a 7 anos deve chegar a Portugal e entre 10 a 15 anos deve ficar estabelecido. Só prova que a natureza não é estática, é dinâmica e que está sempre em constante evolução. E isso não deve ser visto como algo mau ou indesejável, mas como algo normal e natural.
O chacal-dourado vai chegar a Portugal e, à semelhança do urso pardo, é apenas uma questão de tempo.
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