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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

quarta-feira, 2 de agosto de 2023

Agressividade

Por: Manuel Eduardo Pires
(colaborador do Memórias...e outras coisas...)

De um ponto de vista biológico é natural que a luta pela sobrevivência o explique e nos desculpe, mas o ser humano não é flor que se cheire. Nas palavras do escritor andaluz arturo pérez-reverte, “el ser humano es un hijo de puta muy peligroso”. A nossa agressividade não é nova nem está a aumentar, ideia que qualquer manual de história do oitavo ano afasta de raiz. Ela está-nos na massa do sangue, ou nos genes, ou lá o que se lhe queira chamar e não depende de género, idade, raça, etnia, instrução, classe, crença, predileção sexual ou clubística. Quanto a isso, sejam quais forem os rótulos que possamos colocar, a natureza animal fez-nos a todos bastante parecidos.
Muitos preceitos religiosos partem desse pressuposto, a que chamam pecado, e o conceito de salvação não é mais que a salvação da nossa malvadez que, curiosamente, e embora não pareça, provoca tanto dano em quem a sofre como em quem a faz. Nem sequer é de espantar que sejamos maus para os outros, quando a ciência da mente nos diz que também podemos fazer grandes patifarias a nós próprios. O masoquismo é isso mesmo, a pulsão de agredir voltada para dentro, fenómeno tão poderoso quanto vulgarizado. É provável que a única maneira de não sermos agressivos ou, melhor, de o sermos menos, é ter consciência de que o podemos ser. É provável que um paz-de-alma tenha aprendido a conhecer e dominar os seus impulsos e um desordeiro não.
A agressividade e a violência que dela decorre existem, são factos com que temos que lidar. Mesmo que quiséssemos ignorá-las, aí estão os jornais, as televisões e agora a internet para nos lembrar os seus muitos graus e formas. Ainda bem que se divulgam para que se possam condenar. Diminuir o valor da violência ou ignorá-la é tão indesculpável quanto ela própria. Mas há que desconfiar. Estamos envolvidos por um nevoeiro mental que entre outras coisas nos leva a ver o mundo a preto e branco, passar ao lado das nuances da realidade, excluir o incerto e o duvidoso que estão em toda a parte: as pessoas ou são boas ou são más, virtuosas ou viciosas, vítimas ou agressoras. Mas por que não as duas coisas? Por que razão não podemos ter um anjo num ombro e um demónio noutro?
Isto por um lado. Por outro, os meios de comunicação estão pouco interessados na verdade, na objetividade e na reflexão sobre elas. Tendo em conta que a realidade é complexa e ambígua, colocam-se entre nós e ela (por isso se chamam media) fazendo o favor de no-la interpretar. À primeira vista pode parecer simpático, e de certo modo é. O problema surge quando a filtram de forma simplista e no-la dão em espetáculo para causar impacto, o que hoje em dia é a regra, e em vez de informados somos desinformados.
O número de mulheres maltratadas ou mortas às mãos de homens inseguros, ciumentos, ressabiados é trágico para todos os efeitos. Nem que fosse só uma já o era. Por acaso, na nossa espécie (ao contrário de outras) o macho é geralmente mais forte do que a fêmea, podendo servir-se dessa superioridade para arrear na parceira quando a vida não lhe corre bem. Mas, sempre que o arcaboiço lho permite, a mulher pode também ser agressora. Em sete por cento dos casos, segundo as estatísticas, não sendo difícil calcular que o número peque por defeito se pensarmos que muitos desgraçados que as chupam se calem por vergonha.
Depois não se trata só de espancar ou assassinar. É do senso comum que a violência psicológica pode ser tão ou mais destrutiva do que a física. Acontece que neste campo as forças entre os sexos se apresentam bastante mais equilibradas, se é que não se pode considerar que a mulher leva vantagem. Muitas vezes, no recato das vidas caseiras, ela exerce um poder real através da astúcia, da intriga e da manipulação; presta um culto continuado a conflitos, dificuldades, complicações, e não costuma ser escassa quando se trata de esgrimir o impropério. 
Suponho por isso que nalguns casos de violência doméstica a comunicação social nos dá a conhecer apenas a ponta visível de um icebergue. Um produto em cuja manufatura participaram ativamente dois artífices. O resultado de uma guerra em que cada combatente lutou com as suas armas. O desfecho infeliz de um drama em que dois protagonistas agiram e se condicionaram e não existiria se uma das partes, qualquer delas, negasse o seu contributo ou, uma vez iniciado, arranjasse forma de se distanciar.

Nordeste - abr. 2019

Manuel Eduardo Pires
. Estes montes e esta cultura sempre foram o meu alimento espiritual, por onde quer que andasse. Os primeiros para já estão menos mal, enquanto a onda avassaladora do chamado progresso não decidir arrasá-los para construir sabe-se lá o quê, mas que nunca será tão bom. A cultura, essa está moribunda, e eu com ela. Daí talvez a nostalgia e o azedume naquilo que às vezes digo. De modo que peço paciência a quem tiver a paciência de me ir lendo.

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