sábado, 26 de agosto de 2023

Torre de Dona Chama: memórias e tradições

 Mais uma vez, viajei até ao nordeste transmontano para conhecer uma pequena vila em plena terra quente transmontana que há muito me chamava atenção. Vamos conhecer a vila, um pouco da sua história e das tradições de Torre de Dona Chama.


Torre de Dona Chama é uma pequena vila do concelho de Mirandela, no distrito de Bragança, em pleno coração da Terra Quente Transmontana. É um povoado antiquíssimo, anterior à fundação da nacionalidade, e é terra de usos e costumes ancestrais. 

Esta vila de belas paisagens, alguns miradouros e um vasto património histórico e cultural, pertence ao concelho de Mirandela, tem pouco mais de 900 habitantes (Censos 2021) e, como a maior parte das localidades do interior, viu partir uma parte significativa das suas gentes para outras terras à procura de uma vida melhor e de um futuro mais risonho.

Esta é a maior freguesia do concelho de Mirandela que cresceu perto da margem do rio Tuela, a pouco mais de uma vintena de quilómetros da sede de concelho. Torre de Dona Chama é terra de cultura e tradições ancestrais, gente acolhedora, bons enchidos e de azeite de grande qualidade.

Torre de Dona Chama

Origem de Torre de Dona Chama

A origem do povoamento deste local é muito antiga, vem da Pré-História. Pelo que se julga saber e pelos vestígios encontrados, a povoação terá tido origem no topo do monte de São Brás. Aqui foram encontrados vestígios de um castro da Idade do Ferro (aproximadamente do I milénio antes de Cristo) – época em que as comunidades habitavam em povoados fortificados, vulgarmente conhecidos por castros –, mas acredita-se que aqui terá havido um outro povoado anterior, da Idade do Bronze, talvez dos finais do II milénio antes de Cristo.

Depois, o povoado teve ocupação romana e sabe-se que foi habitado, pelo menos, até à Idade Média, altura em que a povoação se mudou do monte de São Brás para a sua actual localização. A cruz sueva na capela de São Brás é um dos vestígios de que o território terá tido ocupação ao longo de várias épocas.

A torre erguida simbolicamente no largo do Prado

O topónimo Torre de Dona Chama

À semelhança do que acontece em muitas outras localidades, topónimo e lenda confundem-se. A origem do nome da localidade é bastante antigo, é de origem medieval, ainda anterior à formação da nacionalidade. Segundo a tradição popular, uma princesa moura, de nome Dona Chama, terá habitado uma torre num castro luso-romano num morro (monte de São Brás), derivando daí o nome da povoação.

Segundo a página oficial da Câmara Municipal de Mirandela, o topónimo evidência a existência de uma “torre” e de uma senhora local, “dona” do lugar onde estava construída a “torre”, que se chamaria “Chama”.

Alguns historiadores associam a origem do topónimo a Dona Chamôa Rodrigues, uma dama nobre, senhora de várias terras entre Douro e Minho, que aqui terá vivido pelo ano de 960 e que aparece referenciada, posteriormente, nas Inquirições de D. Afonso III (1258). Segundo os costumes da época, era normal que a nobre dama, senhora de grande poderio económico, vivesse numa torre. 

O nome Turris de Domina Flamula surge em documentos datados do século XI e, mais tarde, com o primeiro foral, atribuído por D. Dinis, em 1287, assume a forma de Torre de Dona Cliâmoa, passando posteriormente a Torre de Dona Chama.

Os naturais ou habitantes de Torre de Dona Chama designam-se por Torreenses, Flamenses ou Flamulenses (este termo é o menos utilizado).

Torre de Dona Chama teve o seu primeiro Foral, atribuído por D. Dinis, em 1287

A história de Torre de Dona Chama

Torre de Dona Chama é uma vila do concelho de Mirandela, no distrito de Bragança, cuja lenda e topónimo se confundem. Mas tanto a lenda como a povoação parecem ter tido origem medieval. Em documentos datados do século XI faz-se referência à Turris da Domina Flamula. Esta senhora Domina Flamula (nome bastante utilizado até ao século XII – o nome Flamula deu origem a Chamôa e, posteriormente, a Chama), era Chamoa Rodrigues, uma grande senhora aqui da região, com poder e muitas posses – há quem defenda que Chamoa Rodrigues seria sobrinha de D. Mumadona Dias, a fundadora de Guimarães, e historiadores que defendem a tese de descendência do Conde de Achígaz que, na altura, possuía terras no Marão e no Tua até às proximidades de Torre de Dona Chama.

Chamoa Rodrigues teria a sua residência no outeiro de São Brás, numa torre ou numa habitação torreada que, naquele tempo, era comum em pessoas de posses. Diz-se que ainda lá existem os restos dos alicerces de uma torre que, entretanto, desapareceu por completo.

Não existem muitos documentos referentes a Torre de  Dona Chama anteriores ao primeiro Foral concedido por D. Dinis, em 1287, que impunha encargos e estabelecia o respectivo termo. No entanto, o concelho foi extinto poucos anos mais tarde (1293) por falta de cumprimento dos encargos estabelecidos no Foral, passando a localidade a pertencer a Mirandela que assumiu os encargos devidos e assumindo os futuros.

Em 1299, D. Dinis atribui novo Foral a Torre de Dona Chama, reestabelecendo o concelho.

Já no decorrer das guerras com Castela (século XIV) a região chega a ser dominada por um fidalgo de Leão e que, na regência do Mestre de Avis, o território volta a ser português.

Em 1512, D. Manuel I concede novo Foral a Torre de Dona Chama. Possivelmente, será no decorrer do século XVI que se dá a mudança da anterior localização da povoação para a sua actual localização.

E documentos de meados do século XVIII dá-se relevância à feira de Torre de Dona Chama que, na altura detinha grande importância na região de Trás-os-Montes.  Importância que se irá manter até ao início do século XX, principalmente, como centro de comercialização de gado.

Já no início do século XIX, com a crise e a depressão – e consequente emigração –, Torre de Dona Chama começa a perder importância, deixando de ser sede de concelho (em 1855) e passando a fazer parte do território de Mirandela. Situação que se mantém até aos dias de hoje.

A lenda de Dona Chama

Torre de Dona Chama está associada a uma lenda que foi passando de boca em boca, geração após geração. Esta tradição oral, tão comum nas nossas localidades do interior, foi criando diferentes nuances e misturando dados históricos com a mitologia. Hoje, lenda e origem histórica confundem-se, mas ao que parece a Lenda de Dona Chama tem origem medieval.

Existem diversas versões da Lenda de Dona Chama mas que, basicamente, confluem em duas variantes com maior ou menor folclore: uma refere uma princesa moura, dona de muitas terras, que chamava os trabalhadores agrícolas da torre onde habitava; e, uma outra, com base numa bonita princesa moura que se chamava Dona Chama e que tinha um “fraquinho” por homens cristãos.

Numa das variantes da Lenda de Dona Chama, diz a tradição que, onde hoje se encontra a vila de Torre de Dona Chama, habitou uma princesa moura que mandou construir uma torre num morro. Na torre colocou um sino para, nas horas das refeições, chamar as gentes que trabalhavam nos campos. Sempre que se ouvia o sino tocar, as pessoas diziam: - Vamos lá, que a dona chama! E daqui terá nascido o nome da povoação.

A outra variante, bem mais rebuscada, mas mais popular, conta que havia uma bela princesa moura, de nome Chamorra (ou Chamona), que vivia numa torre. A princesa, que nunca saía da torre, tinha fama de ser muito bela, deixando ver, ocasionalmente, por uma fresta, o seu rosto e uma das mãos, onde brilhava um anel, símbolo do seu poder. Mas a princesa escondia um segredo...

A princesa tinha uma inclinação por cristãos de tez e branca e, volta e meia, chamava homens aos seus aposentos que convidava a pernoitar na torre para satisfazer os seus desejos, mas nenhum saía com vida dessa noite.

Um dia, um cortesão que havia sido chamado à torre da princesa, avisado sobre as histórias de homens que iam para a torre e de lá nunca mais voltavam, consegue que a princesa adormeça profundamente a seu lado. O homem, vendo a princesa a dormir, e aterrorizado pelos pés de cabra que via aproveitou para lhe tirar o anel, que era bem conhecido dos seus criados e resolve fugir. Cobriu-se com um manto da princesa e, de anel em riste, foi passando pelos guardas até que conseguiu sair.

Já o homem ia bem longe quando a princesa acordou e se apercebeu que tinha sido enganada. Desesperada, chamou os seus guardas e ordenou que fossem no encalço do homem gritando “a Dona Chama!”.

O homem por onde ia passando ia gritando “Chama, Chamorra, pernas de cabra, cara de Dona”. Consta que não conseguiram apanhar o homem e que, a princesa com medo de ser descoberta, matou-se atirando-se abaixo da torre. E daqui, advirá o nome de Torre de Dona Chama…

Algum do edificado mais antigo da zona histórica de Torre de Dona Chama

A simbologia da Festa dos Rapazes

Em Trás-os-Montes as Festas de Inverno iniciam-se antes do Natal e prolongam-se até ao Carnaval. São diversas as localidades do nordeste transmontano (principalmente do distrito de Bragança) que estão associadas a este ritual pagão que coincide com o solstício de Inverno e que estão ligadas ao começo de um novo ciclo e a ritos da passagem dos rapazes da adolescência para a idade adulta (Festa dos Rapazes). O culminar destas manifestações, características do nordeste transmontano, talvez seja o Entrudo Chocalheiro de Podence. Não se sabe ao certo quando terão começados estas celebrações, mas crê-se serem ancestrais.

Em Torre de Dona Chama, a Festa dos Caretos, dos Rapazes e de Santo Estêvão decorre nos dias 25 e 26 de Dezembro. Esta festa é uma manifestação cultural colectiva do povo desta vila que conjuga a manifestação religiosa – em devoção a Santo Estêvão –, o ritual pagão da passagem dos rapazes à vida adulta e a representação da luta entre Cristãos e Mouros pela reconquista do território nacional.

A Festa dos Rapazes começa na noite de 25 de Dezembro quando, no centro da vila (no largo da Berroa), se faz uma enorme fogueira com grandes troncos de árvores (o Madeireiro) para aquecer as pessoas do intenso frio que se faz sentir por esta altura do ano no nordeste transmontano. A fogueira deverá arder até ao dia seguinte e à volta dela, ao som de bombos e tarolas, come-se caldo verde, carne grelhada e bacalhau seco (sem demolhar). Tudo bem regado com o (bom) néctar da região. Segundo os mais velhos, antigamente, só se comia bacalhau cru, salgado, e bebia-se o vinho da terra e aguardente. É o convívio e a confraternização das gentes da terra noite fora.

Depois, um grupo de pessoas, sempre acompanhados de bombos, percorrem as ruas da vila, casa a casa, para lançarem os “Jogos à Praça” – um grupo de mordomos vai de casa em casa, chamando toda a população a participar, usando “embudes” (funis grandes de metal com que se enchem os túneis do vinho) para “chamar nomes” satíricos aos  habitantes das casas, desafiando os moradores a, no dia seguinte, participarem nos “Jogos”. É uma forma de apelar ao envolvimento de todos os habitantes da vila na festa. Finda a ronda pelas casas da vila, juntam-se todos à volta da fogueira, pela noite dentro, para comer e beber em alegre convívio.

Segundo a tradição, a meio da noite, pela calada, um grupo afastava-se e percorria as casas e quintas da vila para... roubar burros. Os burros eram escondidos e, no dia seguinte, ao som dos bombos, encenava-se a sua venda no centro da vila, uma encenação a que chamam Ciganada.A eles juntam-se os Caretos e as Madamas (homens disfarçados de mulheres e mulheres vestidas de homens, com a cara tapada por rendas para não serem reconhecidos).

No passado, os burros tinham um papel importante na lavoura e no transporte de pessoas e mercadorias, pelo que os donos dos burros protegiam os seus animais para que estes não fossem “roubados”. Hoje, praticamente não há burros em Torre de Dona Chama, por isso a burricada faz-se com pessoas disfarçadas.

No dia 26, decorre a missa em honra de Santo Estêvão – o primeiro mártir do Cristianismo (logo após a morte de Jesus Cristo, Estêvão tornou-se num dos sete primeiros diáconos da igreja nascente, pregando os ensinamentos de Cristo e convertendo judeus e não-judeus. Foi detido pela autoridades judaicas, condenado por blasfémia e foi apedrejado até à morte) –, numa encenação que mistura o sagrado com representações pagãs. A missa tem a presença do Rei Mouro e da Rainha Moura e à porta da igreja ficam os Caretos e os caçadores. Os Cristãos pressionam os monarcas mouros para que se convertam ao Cristianismo. No final, o Rei Mouro converte-se, mas a Rainha não. A Rainha sai acompanhada pelas mouriscas e é perseguida pelos caçadores que a tentam capturar disparando tiros de pólvora seca. Os Caretos, a favor dos Mouros, formam uma linha para evitar que o povo se envolva na contenda. Tudo termina no largo do Prado, onde está representado o castelo dos Mouros. Com a chegada da Rainha, os Mouros tentam proteger o castelo e tudo termina com os caçadores a pegarem fogo ao castelo Mouro. A festa retrata, assim, a conquista Cristã da Península Ibérica ocupada pelos Mouros desde o século VIII.

A Festa dos Caretos, dos Rapazes e de Santo Estêvão de Torre de Dona Chama faz parte do Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial (desde Setembro de 2022)..

Torre de Dona Chama tem um interessante património com arquitectura tradicional

O que ver em Torre de Dona Chama

Torre de Dona Chama é uma vila relativamente pequena, com o seu centro histórico e uma zona mais moderna com algum comércio e serviços. 

A região ao redor da vila é caracterizada por paisagens naturais de grande beleza, com colinas, campos de cultivo e alguns cursos de água e é um óptimo lugar para actividades ao ar livre.

Torre de Dona Chama (e o concelho de Mirandela) faz parte da Rota do Azeite de Trás-os-Montes – uma Rota criada com o objetivo de estimular o desenvolvimento turístico e comercial do sector oleícola da região. O azeite de Trás-os-Montes é um produto certificado, com Denominação de Origem Protegida (DOP) e é um pólo importante no desenvolvimento da economia regional, como produto de grande qualidade e procura.

Numa volta pela vila conseguimos nos aperceber da riqueza das suas casas típicas, embora muitas delas em mau estado. No centro da vila são visíveis alguns comércios, mas também algumas construções abandonadas. 

Visitei Torre de Dona Chama pela manhã cedo, o sol ainda não emanava o seu calor típico destas latitudes, ainda estava nevoeiro e fazia-se sentir um fresquinho matinal. As ruas encontravam-se praticamente sem ninguém. Aqui e ali, um ou outro residente mais idoso e algumas pessoas junto aos cafés. É a cruel realidade (já habitual) da falta de pessoas no interior do país e da falta de políticas (sérias) para atrair e fixar população em terras do interior – segundo números dos últimos Censos (2021), cerca de 50% da população residente em Portugal concentra-se em 31 municípios (dos 278 do continente), localizados maioritariamente nas Áreas Metropolitanas de Lisboa e do Porto, situação que se verifica há décadas. 

Embora Torre de Dona Chama seja uma vila relativamente pequena, é uma localidade bastante pitoresca onde há alguns pontos de interesse a conhecer.

Igreja de Nossa Senhora da Encarnação

Igreja de Nossa Senhora da Encarnação

A igreja matriz de Torre de Dona Chama encontra-se na zona histórica da localidade, zona mais central. Dedicada a Nossa Senhora da Encarnação, padroeira da vila, a igreja é um bonito edifício barroco dos finais do século XVII, ou dos inícios do século XVIII. 

Construído em cantaria de granito, o templo de frontaria vistosa, é formado por nave, capela-mor e por uma torre sineira quadrangular.

No seu interior, o templo apresenta pinturas murais na entrada para a capela-mor e, no tecto, em abóbada de berço, uma pintura da cena da Anunciação, datada de 1844. A capela-mor tem um riquíssimo retábulo em talha dourada e o seu tecto é revestido com 24 caixotões de madeira pintados com figuras da igreja.

Sobre a porta principal podemos observar a data de 1815, que deverá corresponder à data da remodelação da sua fachada.

Pelourinho de Torre de Dona Chama

Pelourinho de Torre de Dona Chama

Num largo da zona antiga da vila, enquadrado por bonitas casas de arquitectura tradicional (embora algumas em mau estado), está o Pelourinho de Torre de Dona Chama. 

Não se conhece ao certo a datação deste Pelourinho, que tem sido alvo de diversas teorias, mas o mais provável é que tenha sofrido várias intervenções ao longo do tempo. Apesar do monumento ter inscrita a data de 1582, o Pelourinho tem sido datado como sendo do século XIII devido ao foral atribuído por D. Dinis (1287). Aquilo que se pode comprovar é que existem alguns elementos notoriamente mais antigos do que outros. 

O Pelourinho de Torre de Dona Chama é construído em granito e a sua coluna é encimada por um bloco paralelepipédico com o escudo das quinas. A meio da coluna ainda se pode observar o orifício de suporte às argolas de sujeição.

O Pelourinho está “acompanhado” por um berrão (porco em pedra de origem pré-histórica).

Castro Luso Romano de São Brás

O Castro de São Brás localiza-se no monte do mesmo nome, nas imediações da vila. Assente num cabeço granítico, junto da capela, o Castro apresenta várias linhas de muralhas. Devido aos vestígios aqui encontrados, calcula-se que a sua ocupação remonte ao final da Idade do Bronze e que tenha tido ocupação de forma continuada até ao século XVIII e, tal como outros castros da região, com especial destaque durante o período romano.

O Castro de São Brás beneficiava de uma localização privilegiada, num cruzamento viário de importantes vias romanas, bem como da proximidade de solos agrícolas férteis, o que muito provavelmente contribuiu para uma continua ocupação até à Idade Média.

Capela de São Brás

A Capela de São Brás encontra-se no cimo de um outeiro, a cerca de 400 metros de altitude, com excelente vista e onde se localizava o antigo povoado. 

Esta pequena capela situa-se no Monte de São Brás, retirada do centro da vila e, até 1758, foi a matriz de Torre de Dona Chama. Este templo é de provável construção medieval com reconstruções nos séculos XVII, XVIII e XX. Pensa-se que aqui terá existido, anteriormente, um outro templo (talvez dedicado a Santa Maria que é o orago local), e que o culto de São Brás só tenha surgido após a ruína do templo pré-existente.

A capela apresenta uma fachada um alvenaria de granito com sineira e cruz latina. No seu interior, apresenta três altares, sendo o altar-mor dedicado a Nossa Senhora da Encarnação (padroeira da vila). Os outros dois são dedicados a São Brás e a Santa Luzia. O tecto da capela apresenta uma pintura do século XVIII ou XIX e o seu retábulo-mor em talha policromada é datado do século XVIII.

Com a construção da actual matriz, a antiga capela passou apenas a celebrar o culto a São Brás (no primeiro domingo de Fevereiro). Ao lado da capela existe um coreto “em forma” de torre, numa alusão ao nome da localidade.

O Berrão de Torre de Dona Chama, uma escultura da Idade do Ferro

O Berrão de Torre de Dona Chama

Instalado junto ao Pelourinho da vila está o Berrão de Torre de Dona Chama. 

Os berrões, ou Verracos, são esculturas zoomorfas em pedra (quase sempre em granito) representando animais – porcos, javalis, touros e ursos. Crê-se que estas esculturas da Idade do Ferro estejam relacionadas com cultos antigos ligados à fertilidade, ou como figuras protectoras do gado, talvez oriundas dos povos Celtas que por aqui terão andado até às invasões romanas. Estas esculturas têm sido encontradas em localidades muito antigas, que já existiam na Idade do Ferro, ou ainda em antigos castros.

O Berrão de Torre de Dona Chama representa um suíno, que os locais chamam de berroa ou ursa. Este Berrão, muito provavelmente, terá vindo do monte de São Brás onde existiu um castro. Cronologicamente, esta escultura, construída numa só pedra, remonta à Idade do Ferro (1.200 a.C. - 1.000 d.C) e a primeira referência documental a esta peça surge no século XVIII.

Capela do Divino Senhor dos Passos

Capela do Divino Senhor dos Passos

A Capela do Divino Senhor dos Paços encontra-se no centro da vila (largo do Santo).  É um templo simples, de construção em granito, de fachada simples, com sineira e cruz latina, aparentemente, recuperado recentemente.

A sua festa realiza-se no segundo fim de semana de Agosto e é a festa da vila por excelência. 

Capela do Senhor dos Aflitos

Já fora dos limites do centro da vila, junto à EN206-1, em direcção a Vilares, existe uma pequena capela dedicada ao Senhor dos Aflitos. A capela apresenta uma bonita frontaria, trabalhada, com as armas de Portugal, onde se pode ler a inscrição “Promessa de João Júlio de Macedo” e a data de 1925.

Ao lado da capela existe um alpendre com um cruzeiro com pinturas e uma pequena fonte.

Lagar dos Mouros

A cerca de cinco quilómetros do centro da vila (M535 e depois um caminho de terra), numa pequena elevação conhecida como Monte do Cercado, fica o Lagar dos Mouros.

Aqui encontramos um lagar de vinho escavado numa única rocha num pequeno afloramento granítico, cuja origem remonta à ocupação romana. O Lagar tem cerca de 2,5x2,5 metros e é perfeitamente perceptível, pelo que podemos deduzir que, naquela época, por aqui existiam plantações de vinhas. Daqui possui uma excelente vista para o sítio arqueológico do Castro de São Brás.

Ponte romana sobre o rio Tuela

Ponte sobre o Rio Tuela

Também conhecida como Ponte de Torre de Dona Chama, ou Ponte Romana sobre o Rio Tuela, a ponte encontra-se na EN206 a cerca de três quilómetros da vila. 

Quem chega à vila de Torre de Dona Chama pela EN206 não fica indiferente à beleza da Ponte que cruza o rio Tuela. Esta é uma importante Ponte, cuja ancestralidade e história se revela nas marcas das pedras de granito dos seus arcos e na reduzida largura do seu tabuleiro. Esta Ponte é uma construção milenar, de origem Romana (século III) que, ao longo dos tempos, foi sofrendo alterações e obras de restauro e de manutenção.

Calcula-se que a Ponte de Torre de Dona Chama fazia parte da Via Romana XVII, do Itinerário de Antonino – a mais antiga via romana do norte da Península Ibérica –, que ligava Bracara Augusta (Braga) a Austurica Augusta (Astorga), passando por Aquae Flaviae (Chaves). Junto à ponte foi encontrado um marco miliário (sem inscrições) o que poderá comprovar a teoria de que por aqui passaria esta importante via romana.

Já durante a Idade Média passaria por aqui um eixo viário regional que ligaria Guimarães a Bragança. Não muito longe da Ponte encontra-se um antigo caminho empedrado, talvez desse período.

A ponte, classificada como monumento nacional, é de construção em granito e o seu tabuleiro tem cerca de 100 metros de comprimento. Junto ao rio, temos um espaço amplo onde podemos observar os seis arcos da ponte, os grandes talhamares que funcionam também como contrafortes da estrutura e os viadutos quadrados para escoamento das águas, durante as enchentes.

Torre de Dona Chama é uma terra ancestral que vale a pena visitar

Torre de Dona Chama é uma vila pitoresca, com bastante história e cheia de tradições que vale a pena conhecer e visitar numa deslocação à região de Mirandela e à Terra Quente Transmontana.

Em Torre de Dona Chama, como em outras localidades do interior do território português, um passeio pelas suas ruas, praticamente sem ninguém, proporciona-nos não só uma viagem ao passado, mas também uma visão do futuro (já presente), sobre a qual devemos reflectir. É urgente começar a mudar mentalidades e atrair pessoas para o interior do país. É crucial criar infra-estruturas para fixar as população em terras do interior.

A vila e um pouco da sua história já fiquei a conhecer. Quanto à Festa dos Caretos, dos Rapazes e de Santo Estêvão, apesar de ficar a conhecer as suas tradições e a sua história, vou ter que lá voltar em altura própria para sentir a tradição in loco.

Ali perto…

Macedo de Cavaleiros

A cidade de Macedo de Cavaleiros fica a cerca de 25 quilómetros de Torre de Dona Chama, numa zona bem central do nordeste transmontano, no distrito de Bragança É um território rico em história e em recursos naturais onde se inclui o georparque mundial da Unesco, Geopark Terras de Cavaleiros e a Paisagem Protegida da Albufeira do Azibo. Portanto, um território com muito para ver.

Podence e  Albufeira do Azibo

A cerca de 30 quilómetros de Torre de Dona Chama fica a aldeia de Podence, terra dos Caretos. Aproveite para percorrer as ruas da aldeia fora da altura do Carnaval e admire todo o colorido da arte urbana que cobre as suas casas. Visite a Casa do Careto e conheça os costumes e tradições ligadas aos Caretos. Pode ficar a saber mais sobre os Caretos de Podence AQUI..

Ali ao lado, fica a magnífica Albufeira do Azibo e as suas praias fluviais. A zona envolvente à Albufeira é denominada de Paisagem Protegida da Albufeira do Azibo e é um espaço de importância regional e nacional, possuindo um elevado valor patrimonial e paisagístico onde se incluem várias espécies ameaçadas. Um óptimo local para visitar, fazer caminhadas ou ir à praia.

Romeu

Romeu é uma pequena e encantadora aldeia transmontana a cerca de 26 quilómetros de Torre de Dona Chama. Conhecida por muitos devido ao excelente restaurante Maria Rita, a pequena aldeia de Romeu, com cerca de 50 habitantes, tem uma história muito interessante e está repleta de pontos de interesse. 

Linha de Terra já lá esteve e pode ler tudo sobre a aldeia AQUI.

Mirandela

Mirandela é uma cidade, sede de concelho, a cerca de 24 quilómetros de Torre de Dona Chama. A cidade de Mirandela é banhada pelo rio Tua. À sua volta, encontram-se muitos montes e, por essa razão, em Mirandela verifica-se um microclima caracterizado por Verões abafados e quentes, sendo daí a origem do nome Terra Quente Transmontana. A povoação é muito antiga, anterior aos Romanos, é uma cidade muito bonita e cheia de atracções, monumentos e zonas de lazer. Não faltam pontos de interesse onde passar um dia muito agradável. Mirandela também é conhecida pela sua gastronomia e pela famosa Alheira de Mirandela.

Veja a publicação original AQUI.

João Pais

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