Por: Manuel Eduardo Pires
(colaborador do Memórias...e outras coisas...)
Não é debalde que a Europa (e o Ocidente em geral) exibe uma aura de vigor material e implícitas promessas de bem-estar, vida fácil, tolerância, integração. Tudo isso atende aos desejos de qualquer ser humano e não poderia deixar de atrair forasteiros que, acossados por um mundo de misérias, acorrem àquilo que julgam como um porto de abrigo. É bom que assim seja, pelo menos em nome das cristianíssimas caridade e compaixão.
Acontece que por cá também nem tudo são rosas. A começar pelo facto de tal imagem de abundância e satisfação, levada à cena pela ubíqua publicidade, ter fortes elementos fantasistas, logo enganadores. A sociedade real que por esses persuasivos meios promete mundos e fundos dá o pão com parcimónia, e ainda assim sacado com unhas e dentes. Razão pela qual cria fatalmente faixas maiores ou menores de excluídos e autoexcluídos, forçados a ver de fora a sonhada prosperidade, gente para quem muitos devaneios consumistas serão sempre utópicos.
Mas há mais. O progresso não foi dado de borla, tem e sempre teve altos custos. Bastaria dizer que os seus alicerces foram unidos, ao longo de séculos, com uma massa feita de suor, sangue e lágrimas. Ou que se chegou aqui à custa de um longo processo de mudanças, movido a ideias poderosas, que sacrificou gerações à violência, à guerra, à ruína e moldou as mentalidades. Pertencer a este espaço não reside apenas em ser herdeiros do lastro que em nós se acumulou em camadas e nos identifica com o todo civilizacional e a variedade das culturas. É preciso ainda ter em mente que, no presente, a marcha da vasta máquina europeia vive de uma aposta colossal em investimento, planificação, organização, produção que exige grandes esforços a todos mas se impõe como contrapartida aos níveis e estilos de vida. A título de exemplo, a inclusão de uma criança implica um aprendizado árduo que se pode estender por mais de duas décadas e ainda assim não é certa pois, contra o que a ideologia bem-pensante insinua, o sucesso está longe de poder sorrir a todos.
Lugares propícios a uma vida mais ou menos digna, estas sociedades cobram pesados custos às pessoas, gerando nelas fortes sentimentos ambivalentes, em equilíbrio instável. Se é certo que alimentam, protegem e incluem, também com frequência são escassas, opressivas e remetem muitos para fora das suas realizações mais atrativas. A regra é subir a pulso no meio de dura competição. A luta por um lugar ao sol é renhida e os que ficam à sombra, sobretudo esses (e são a maioria), têm de conformar-se a uma vida de trabalho aturado, de monótono e amargo desencanto. Mas, sobretudo, pelo interesse geral os desejos dos indivíduos devem vergar-se a sérias imposições, restrições e renúncias que contrariam os impulsos mais básicos.
Não é pois de estranhar que os escolhos da vida nos possam levar a vários graus de inveja, frustração, ressentimento, ódio e irrompam depois em formas mais ou menos conscientes de agressividade e destrutividade. E se tais forças são geralmente contidas por laços de identificação com a coletividade, também não é necessário que elas nasçam de minorias raciais, étnicas, culturais, religiosas ou entre os que por razões várias aqui vão chegando, mesmo que os seus vínculos connosco sejam baixos ou mesmo inexistentes.
Por tudo isto creio que o “terrorismo islâmico” não parece ser senão uma forma de delinquência, que os novíssimos media incitam e promovem a crime organizado. E a sua ideologia, um pretexto que dá forma a essas paixões ambíguas para com a sociedade e que, alimentadas por pulsões destrutivas, resultam no desejo de a violentar. Para lá do desejo de fuga à mediocridade como forma de vida, à excitação da aventura e do risco, vários sinais mostram claramente que o idealismo espiritual e social dos seus adeptos é uma cortina para tapar o inconfessável.
De facto, mal se propõem fundar algo parecido a um estado é vê-los a satisfazer cobiças grosseiras em inúmeras traficâncias; a saciar ímpetos sexuais desposando uma série de raparigas incautas; a ceder a instintos homicidas trucidando populações indefesas, mesmo que muçulmanas; e a nadar em poder irrestrito para obter tudo isso. Justamente o que de forma mais cómoda fariam aqui na Europa, berço de muitos deles, caso as leis e os costumes não lho proibissem.
Acontece que por cá também nem tudo são rosas. A começar pelo facto de tal imagem de abundância e satisfação, levada à cena pela ubíqua publicidade, ter fortes elementos fantasistas, logo enganadores. A sociedade real que por esses persuasivos meios promete mundos e fundos dá o pão com parcimónia, e ainda assim sacado com unhas e dentes. Razão pela qual cria fatalmente faixas maiores ou menores de excluídos e autoexcluídos, forçados a ver de fora a sonhada prosperidade, gente para quem muitos devaneios consumistas serão sempre utópicos.
Mas há mais. O progresso não foi dado de borla, tem e sempre teve altos custos. Bastaria dizer que os seus alicerces foram unidos, ao longo de séculos, com uma massa feita de suor, sangue e lágrimas. Ou que se chegou aqui à custa de um longo processo de mudanças, movido a ideias poderosas, que sacrificou gerações à violência, à guerra, à ruína e moldou as mentalidades. Pertencer a este espaço não reside apenas em ser herdeiros do lastro que em nós se acumulou em camadas e nos identifica com o todo civilizacional e a variedade das culturas. É preciso ainda ter em mente que, no presente, a marcha da vasta máquina europeia vive de uma aposta colossal em investimento, planificação, organização, produção que exige grandes esforços a todos mas se impõe como contrapartida aos níveis e estilos de vida. A título de exemplo, a inclusão de uma criança implica um aprendizado árduo que se pode estender por mais de duas décadas e ainda assim não é certa pois, contra o que a ideologia bem-pensante insinua, o sucesso está longe de poder sorrir a todos.
Lugares propícios a uma vida mais ou menos digna, estas sociedades cobram pesados custos às pessoas, gerando nelas fortes sentimentos ambivalentes, em equilíbrio instável. Se é certo que alimentam, protegem e incluem, também com frequência são escassas, opressivas e remetem muitos para fora das suas realizações mais atrativas. A regra é subir a pulso no meio de dura competição. A luta por um lugar ao sol é renhida e os que ficam à sombra, sobretudo esses (e são a maioria), têm de conformar-se a uma vida de trabalho aturado, de monótono e amargo desencanto. Mas, sobretudo, pelo interesse geral os desejos dos indivíduos devem vergar-se a sérias imposições, restrições e renúncias que contrariam os impulsos mais básicos.
Não é pois de estranhar que os escolhos da vida nos possam levar a vários graus de inveja, frustração, ressentimento, ódio e irrompam depois em formas mais ou menos conscientes de agressividade e destrutividade. E se tais forças são geralmente contidas por laços de identificação com a coletividade, também não é necessário que elas nasçam de minorias raciais, étnicas, culturais, religiosas ou entre os que por razões várias aqui vão chegando, mesmo que os seus vínculos connosco sejam baixos ou mesmo inexistentes.
Por tudo isto creio que o “terrorismo islâmico” não parece ser senão uma forma de delinquência, que os novíssimos media incitam e promovem a crime organizado. E a sua ideologia, um pretexto que dá forma a essas paixões ambíguas para com a sociedade e que, alimentadas por pulsões destrutivas, resultam no desejo de a violentar. Para lá do desejo de fuga à mediocridade como forma de vida, à excitação da aventura e do risco, vários sinais mostram claramente que o idealismo espiritual e social dos seus adeptos é uma cortina para tapar o inconfessável.
De facto, mal se propõem fundar algo parecido a um estado é vê-los a satisfazer cobiças grosseiras em inúmeras traficâncias; a saciar ímpetos sexuais desposando uma série de raparigas incautas; a ceder a instintos homicidas trucidando populações indefesas, mesmo que muçulmanas; e a nadar em poder irrestrito para obter tudo isso. Justamente o que de forma mais cómoda fariam aqui na Europa, berço de muitos deles, caso as leis e os costumes não lho proibissem.
Nordeste - dez. 2017
Manuel Eduardo Pires. Estes montes e esta cultura sempre foram o meu alimento espiritual, por onde quer que andasse. Os primeiros para já estão menos mal, enquanto a onda avassaladora do chamado progresso não decidir arrasá-los para construir sabe-se lá o quê, mas que nunca será tão bom. A cultura, essa está moribunda, e eu com ela. Daí talvez a nostalgia e o azedume naquilo que às vezes digo. De modo que peço paciência a quem tiver a paciência de me ir lendo.
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