Por: César Urbino Rodrigues
(colaborador do "Memórias...e outras coisas...")
Nos primeiros 11 anos de vida, todo o meu mundo se resumia à aldeia de Peredo dos Castelhanos, que teria à volta de 300 habitantes. Aí fui feliz duma forma que nunca mais revivi em lado nenhum.
A adolescência e a juventude passei-as em Macau, onde tive colegas de vários cantos do mundo, desde a gigantesca China de Mao Tsé-Tung à minúscula colónia inglesa de Singapura, passando pela província portuguesa de Timor, pela ilha dos Açores e por vários pontos da metrópole nacional, de que se destacavam os concelhos de Mogadouro, Freixo de Espada à Cinta e Moncorvo.
Já com 20 anos, regressei a Portugal, tendo passado pelo seminário de Leiria e, um ano depois, pelo serviço militar em Mafra, Lisboa, Santa Margarida e, finalmente, em Bragança, em cujo BC3 “passei à peluda”, como dizíamos na nossa gíria militar, em Outubro de 1972.
A partir daí, Bragança e a minha aldeia passaram a ser, definitivamente, o centro e a sede do meu mundo. É verdade que Macau também me ficou para sempre no coração e na mente, porque ali me fiz homem, aprendi as bases do que sei e me apercebi da relatividade das raças, das culturas e das nacionalidades. No entanto, mesmo lá tão longe, as memórias da vida na aldeia nunca mais me abandonaram, tanto pela saudade dos familiares e conterrâneos, como pela nostalgia dos jogos de futebol nas Eiras ou pelos convívios inocentes e fraternos a guardar as vacas nos lameiros primaveris e nos restolhos de verão, como ainda pelas paisagens incomparáveis, sobranceiras ao rio Douro, por onde espreitávamos o comboio que se contorcia no sopé dos montes, entre as estações do Côa e do Pocinho, e nos lançava uns apitos de saudação e agradecimento por lhe acenarmos enquanto desaparecia na última curva.
Na altura de escolher uma profissão, os certificados académicos permitiam-me a instalação nas maiores urbes do litoral. Todavia, foi em Bragança que o meu coração repousou e se sentiu sempre em casa, como nos anos passados na aldeia. Em nenhuma outra cidade por onde passei, senti o conforto íntimo que a tranquilidade do modus vivendi de Bragança me dava e que era incompatível com a agitação urbana dos grandes centros.
Por isso, ao preparar-me para o meu 52º Natal em Bragança e, não obstante as dificuldades que a vida nos traz, seja qual for o local da nossa residência, quero expressar a todos os bragançanos, tanto aos que aqui nasceram como aos que por cá se fixaram por opção ou por obrigação, os votos mais profundos e sinceros dum FELIZ NATAL e dum ANO NOVO de perfeita saúde e de muita fraternidade, não obstante a diversidade de feitios, de ideologias e de crenças, sempre num quadro de tolerância recíproca e de abertura e solidariedade para com o Outro.
César Urbino Rodrigues, natural da aldeia de Peredo dos Castelhanos, concelho de Moncorvo, estudou 9 anos no Seminário de Macau, fez a licenciatura em Filosofia na Universidade do Porto, o Mestrado em Filosofia da Educação na Universidade do Minho, com uma tese sobre «As Coordenadas fundamentais da Educação no Estado Novo», e o doutoramento na Universidade de Valhadolid, em Teoria e História da Educação, com uma tese sobre a «Representação do Outro No Estado Novo. Foi professor no ensino secundário, na Escola do Magistério Primário de Bragança, no ISLA de Bragança, no Instituto Piaget de Mirandela e DAPP na Escola Superior de Educação de Bragança.
Sem comentários:
Enviar um comentário