Por: Luís Abel Carvalho
(colaborador do Memórias...e outras coisas...)
O romance “Por entre a solidão das fragas”, é-nos apresentado numa escrita esquelética, sem gordura, tal como a terra magra das ladeiras transmontanas, com os piçarros logo a flor da relha da charrua e do arado.
Fontes de Carvalho descreve magistralmente de forma crua e brutal o viver de um povo massacrado e teimoso de uma aldeia pobre e esquecida do Nordeste Transmontano! “ Um povo rural, castigado e feliz”, no dizer de Aquilino.
O romance desenrola-se nas décadas de 30, 40 e 50 do século passado, em que o povo vivia arrochado e os costumes eram caninamente vigiados pelos três poderes: o prior, o regedor e o burguês. Mesmo assim, punham a honra acima de tudo, um povo que Miguel Torga questionou: “ Que povo este! Fazem-lhe tudo, tiram-lhe tudo e continua a ajoelhar-se quando passa a procissão!”.
- Cala-te, mulher. Negro é o carvoeiro e branco o seu dinheiro.
- Mas tu queres bander a tua filha a um demónio daqueles, a um soberbão daqueles??! Tu só bês dnheiro, home de Deus? O dnheiro no se come. E a honra? Onde fica a honra? – perguntou irritada, batendo no peito com a mão aberta.
- Sei lá eu o qu´é isso da honra? Olha, fica prós pacóvios c´mo tu, qu´acreditam nessas cousas. Enquanto t´impingem essas lérias, eles vão-se governando à nossa custa e inda se riem e inda nos tchamam tchbascos e tchotchos.
- Eu tamãe penso c´mó Pai. A honra tamãe no se come e às bezes é só pr´ atrapalhar a gente – disse a Lucinda, sentindo-se apoiada pelo Pai. – A gente bem oube opadre a descer cousas do altar abaixo, mas óspois bem bai jantar a casa dos ricos e a combiber co eles. E alguns no têm honra nenhuma. Nuncá tiberam nem eles nem os seus antepassados – disse abanando afirmativamente a cabeça. – Palabras de mel e coração de fel – rematou indignada.
- Pois não! Claro qu´a honra tamãe no se come, mas ajuda-nos munto a enfrentar os dias menos bôs – disse filosoficamente a Tia Germana.
Fontes de Carvalho descreve magistralmente de forma crua e brutal o viver de um povo massacrado e teimoso de uma aldeia pobre e esquecida do Nordeste Transmontano! “ Um povo rural, castigado e feliz”, no dizer de Aquilino.
O romance desenrola-se nas décadas de 30, 40 e 50 do século passado, em que o povo vivia arrochado e os costumes eram caninamente vigiados pelos três poderes: o prior, o regedor e o burguês. Mesmo assim, punham a honra acima de tudo, um povo que Miguel Torga questionou: “ Que povo este! Fazem-lhe tudo, tiram-lhe tudo e continua a ajoelhar-se quando passa a procissão!”.
- Cala-te, mulher. Negro é o carvoeiro e branco o seu dinheiro.
- Mas tu queres bander a tua filha a um demónio daqueles, a um soberbão daqueles??! Tu só bês dnheiro, home de Deus? O dnheiro no se come. E a honra? Onde fica a honra? – perguntou irritada, batendo no peito com a mão aberta.
- Sei lá eu o qu´é isso da honra? Olha, fica prós pacóvios c´mo tu, qu´acreditam nessas cousas. Enquanto t´impingem essas lérias, eles vão-se governando à nossa custa e inda se riem e inda nos tchamam tchbascos e tchotchos.
- Eu tamãe penso c´mó Pai. A honra tamãe no se come e às bezes é só pr´ atrapalhar a gente – disse a Lucinda, sentindo-se apoiada pelo Pai. – A gente bem oube opadre a descer cousas do altar abaixo, mas óspois bem bai jantar a casa dos ricos e a combiber co eles. E alguns no têm honra nenhuma. Nuncá tiberam nem eles nem os seus antepassados – disse abanando afirmativamente a cabeça. – Palabras de mel e coração de fel – rematou indignada.
- Pois não! Claro qu´a honra tamãe no se come, mas ajuda-nos munto a enfrentar os dias menos bôs – disse filosoficamente a Tia Germana.
Pedidos através de mensagem privada AQUI.
Fontes de Carvalho, pseudónimo de Luís Abel Carvalho, nasceu no Larinho, uma aldeia transmontana do Concelho de Torre de Moncorvo, Distrito de Bragança. É o filho do meio de três irmãos.
Estudou em Moncorvo, Bragança e no Porto, onde se formou em Engenharia Geotécnica. É casado e Pai de três filhos.
Viveu no Brasil, onde passou por momentos dolorosos e de terror, a nível económico e psicológico. Chegou a viver das vendas de artesanato nas ruas e a dormir debaixo de Viadutos.
No ano de 1980 e 1981 foi Professor de Matemática em Angola, na Província de Kwanza Sul, em Wuaku-Kungo. Aí aprendeu a desmistificar certos mitos e viveu uma realidade muito diferente da propagandeada.
Em Portugal deu aulas de Matemática em diversas cidades, nomeadamente em São Pedro da Cova, Ponte de Lima, Cascais (na Escola de Alcabideche, onde deu aulas aos presos da cadeia do Linhó), Alcácer do Sal, Escola Francisco Arruda e Luís de Gusmão, em Lisboa. Frequentou durante quatro anos, como trabalhador-estudante, o curso de Engenharia Rural, no Instituto Superior de Agronomia.
Em 1995 fundou a empresa Bioprimática – Reciclagem de Consumíveis de Informática, onde trabalha até hoje como sócio-gerente.
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