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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

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COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

sexta-feira, 17 de janeiro de 2025

Por que os Brasileiros mudaram de opinião

Por: Humberto Pinho da Silva 
(colaborador do "Memórias...e outras coisas...")

Tinha vinte e poucos anos quando a aldrava da porta da casa paterna soou três rijas pancadas. Era casal com sotaque carioca. Meu pai recebe-os de braços abertos e levou-os para a salinha de visitas.
Espicaçado pelo aguilhão da curiosidade pus-me à escuta, e verifiquei que eram vergonteas da família brasileira.
Entrei a medo e cumprimentei respeitosamente.
Ele, elegante e esgrouviado; ela, graciosa e redondinha como uma pucarinha.
Simpatizei com eles, e ainda mais quando me disseram:
- "Por que não vem ao Brasil? A nossa casa é espaçosa...seria um prazer recebê-lo.
Decorrido semanas recebi sobrescrito, tarjado de verde amarelo, com missiva confirmando o convite.
Aceitei e rejubilei. Em fresca manhã de maio, parti para o Rio.
O que observei, confesso que não me agradou: nas murmurosas ruas, deambulavam humildes trabalhadores, de tronco nu, descalços, de cútis que iam de negro a branco, o que me chocou bastante.
Parti num confortável onibus para São Paulo. Visitei parentes; de tudo que vi e ouvi, verifiquei que eram amáveis e simpáticos, mas pareceu-me que não morriam de amores pelo meu país: li e ouvi que éramos ladrões, porque roubamos o oiro; éramos, quase todos, analfabetos; que chegávamos a Santos de socos e pau às costas ou de tamancos aéreos portugueses; perguntavam-me, depreciativamente, se tinha pé na cozinha, porque era moreno e de cabelo ondulado; na TV e outros meios de comunicação, o português era alvo de chalaças; afirmaram-me que em tempos remotos exportávamos os bandidos, para o Brasil; e verifiquei, com desgosto, que o português tímido, que trabalhava no Rio, escondia a nacionalidade, imitando a fala brasileira.
Voaram décadas. No início do século, voltei ao Brasil. A mentalidade demudara-se completamente:
Todos desejavam ser portugueses e europeus. Diziam, com inveja mal disfarçada, que estávamos ricos, porque ganhávamos em euros; e que existia em Portugal gente muito culta, e de grande valor…
Que milagre se passara?
Não sei. Saberão, porventura, os brasileiros?


Humberto Pinho da Silva
nasceu em Vila Nova de Gaia, Portugal, a 13 de Novembro de 1944. Frequentou o liceu Alexandre Herculano e o ICP (actual, Instituto Superior de Contabilidade e Administração). Em 1964 publicou, no semanário diocesano de Bragança, o primeiro conto, apadrinhado pelo Prof. Doutor Videira Pires. Tem colaboração espalhada pela imprensa portuguesa, brasileira, alemã, argentina, canadiana e USA. Foi redactor do jornal: “NG” e é o coordenador do Blogue luso-brasileiro "PAZ".

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