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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

domingo, 16 de dezembro de 2012

Cantar com o Diabo

Local: Torre De Moncorvo, BRAGANÇA


Nas Cabanas, era pastor e ele agarrou, à noite, que era quando costumava encerrar o gado e ia para a Foz do Sabor, para a taberna beber uns copos. Ali tinha taberna, nas Cabanas, nas de Baixo e nas de Cima. Ele era natural das Cabanas de Cima. 
E passava das Cabanas de Cima, pelas de Baixo e ia para a Foz, porque antes a Vilariça era um lugar de muita gente e depois havia muito movimento e havia lá uma taberna, era uma que se chamava "Tia Balbina", e ele ia para lá. Tinha lá violas, tinha lá guitarras, ia para lá muita gente de um lado e de outro, e começavam a cantar o fado. O tal Dionísio cantava muito bem, bebia os seus copinhos; o homem já era alegre e começava a cantar o fado. Diziam os outros: 
- Ó Sr. Dionísio, você é terrível. 
- Pois sou. 
- Para cantar o fado não há como você, não há quem o bata. Até hoje não houve quem o batesse, pelo menos por aqui. Pode haver muitos cantadores mas como ele, por aqui, ainda não houve nenhum que o fizesse calar. Então cante lá mais uma. 
- Ele canta com todos. Aquele que quiser saltar...Vamos um fado. 
Começa o homem a cantar, chega outro que diz: 
- Aquele Dionísio é danado para cantar. 
- Ó rapaz, eu até sou capaz de cantar com o diabo à meia-noite. 
E diz ele: 
- Era capaz de cantar com o diabo à meia-noite, isso é um modo de falar. 
O homem chegou as onze horas, fechou a taberna. Ele agarra, fica um bocadinho a conversar com os amigos e lá se mete das Cabanas de Baixo, e das de Baixo para as de Cima. Mas, antes de chegar às Cabanas de Cima, há ali uma quinta que lhe chamam a "Quinta da Vila Maior" e há lá um ribeiro escuro, tem muitos arbustos, muitos salgueiros... e ele ao passar do ribeiro aparece-lhe ali um homem, uma figura e diz-lhe assim: 
- Então, ó patrão, traz lume? 
- Por acaso trago. 
- Então dê-me lá lume, que eu quero acender o cigarro. 
Acendeu o cigarro, olhou-lhe para as patas e viu-lhe as patas de cabra. Era o diabo. O homem cheio de medo já é repeso daquela palavra da Foz: que era capaz de cantar à meia-noite. 
Devia de ser mais ou menos meia-noite, ficou um bocado atrapalhado. Mas, ele como era artista do fado, cantava bem, lembrou-se de uma cantiga e começou a cantar. 
- Então canta lá tu uma cantiga – o diabo para ele. 
- Não, não, canta lá tu primeiro. 
- Não, não, hás-de cantar tu primeiro – o tal Dionísio. 
O Dionísio lembrou-se então de cantar uma cantiga: 
"E Jesus, valha-me Deus 
Não sei que palavra eu dei 
Que fiz tremer o infemo 
Quando de Jesus Cristo falei." 
Aquilo desapareceu e o homem continuou a andar para a terra, para as Cabanas de Cima. 
Chegou a casa, meteu-se na cama, esteve lá três dias sem comer quase nada, não saía dali cheio de medo. Mas, nunca mais cantou cantigas dessas, nunca mais deu-lhe para essas coisas.

Fonte:AA. VV., - Arquivo do CEAO (Recolhas Inéditas) Faro, n/a,

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