Número total de visualizações do Blogue

Pesquisar neste blogue

Aderir a este Blogue

Sobre o Blogue

SOBRE O BLOG: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blog, apenas vinculam os respetivos autores.

sábado, 16 de fevereiro de 2013

CUMO QUIEN BAI DE CAMINO


ua pregunta a Alberto Caeiro // uma pergunta a Alberto Caeiro

sigues un suonho d'azeite pul rastro berde de ls zambunhos, agora armanados al matorral; dá te la risa l lhentisco, tan crecido, agora que yá nun faç falta para bardeiros; las carbalheiras deixórun caier to las folharascas, a tapar la bergonha de l suolo pula nudeç de las yerbas; berde, solo l musgo agarrado a la piçarra, que outro modo nun ten de miráren nel, agora que yá nien para persépios l quieren puis l plástico nun amporca la sala; a tous pies i nas cuordas de ls uolhos, miles de mundos apodrécen nun delor sien fin, i sentas te al meio nun talho de paç i de sossego; todo te puxa l sentido, mas son las zlidas houmanas seinhas que pónen nesta paisaige la marca que la faç defrente, puis neilhas se puoden ler todos ls segredos de l mundo: eilha ampeçou a ser custruída hai muito mais de mil anhos, i lhougo habie de ser you a quedar a la cabeceira de la cama adonde bai dandos las últimas, mas ye essa l'eidade que tamien you tengo: assisto al nacer dun nuobo mundo, anque solo un pie nel poderei poner sien chegar a saber quei ende ben; un die, quando ls arqueólogos miráren estas bistas, estas piedras, yá ls sucos de l tiempo haberan zaparecido i las folharascas todo an stierco haberan streformado: l'eissencial nunca queda agarrado a las piedras nien se deixa colgar de las palabras, agora demudadas an cunceitos, tan girales que las cuncretas cousas ténen miedo de a eilhas s'ancostar: ua piedra nunca será esta piedra, na palabra lhentisco nunca ha de caber un bardeiro de berdade, solo las folharascas seran siempre al modo, puis nada mais giral hai do que l stierco, cousa an que Alberto Caeiro nien sei se algue beç chegou a falar, al menos a pensar.
//
persegues um sonho de azeite pelo rasto verde dos zambujeiros, agora irmanados ao matagal; faz-te sorrir o lentisco, tão crescido, porque já não é necessário para vassouros; as carvalheiras deixaram cair as folhas secas, a cobrir a vergonha do chão pela nudez das ervas; verde, apenas o musgo agarrado aos xistos, pois não encontra outra maneira de olharem para ele, agora que já nem para presépios o querem porque o plástico não suja a sala; a teus pés e nas cordas dos olhos, milhares de mundos apodrecem numa dor sem fim, e sentas-te no meio sobre um banco de paz e de sossego; tudo te prende os sentidos, mas são os apagados humanos sinais que põem nesta paisagem a marca que a torna diferente, pois nela se podem ler todos os segredos do mundo: começou a ser construída há mais de mil anos, e logo tinha de ser eu a ficar à cabeceira da cama onde vai dando os últimos estertores, mas é essa a idade que também eu tenho: assisto ao nascer de um novo mundo, ainda que somente um pé nele possa colocar sem chegar a saber o que aí vem; um dia, quando os arqueólogos olharem estas paisagens, estas pedras, já os sulcos do tempo terão desaparecido e as folhas secas tudo em estrume terão transformado: o essencial nunca fica preso às pedras nem se deixa dependurar das palavras, agora tidas como conceitos, tão universais que as concretas coisas têm medo de a elas se encostar: uma pedra nunca será esta pedra, na palavra lentisco nunca caberá um verdadeiro vassouro, apenas as folhas secas sempre estarão preparadas, pois nada mais universal existe do que o estrume, coisa em que Alberto Caeiro nem sei se alguma vez chegou a falar, ou pelo menos a pensar.

Amadeu Ferreira
in:lhengua.blogspot.pt

Sem comentários:

Enviar um comentário