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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

sábado, 9 de fevereiro de 2013

Entrudo - Momento para as comunidades «se manifestarem como grupos vivos e actuantes»


Para o sociólogo das religiões, Moisés Espírito Santo, o Entrudo é a representação dos «desejos de ruptura intimamente ligados aos das colectividades» porque «são momentos de libertação das tensões». O investigador e professor catedrático da Universidade Nova de Lisboa realça que as comunidades locais procuram, com estas tradições, «manter a sua honra e personalidade cultural colectivas». Uma conversa que mergulha na história, etnografia e contexto social do Entrudo em português.
Café Portugal - Por todo o país são várias as tradições associadas ao Entrudo onde cabem caretos, entrouxes, diabos e figuras que representam esta época festiva. Todas elas figuras associadas à transgressão...
Moisés Espírito Santo - O Entrudo tradicional era uma festa de ruptura e de transgressão. Procurava-se fingir que se fazia tudo ao contrário do tempo normal. Fingia-se mudar de sexo (com roupas, adereços e gestos do outro sexo), de estatuto social, de moral. Punha-se em causa a autoridade temporal e religiosa. Era uma festa de contestação. Simbolizava o desejo de mudança social e pessoal. Sendo uma festa do fim do Inverno, também simbolizava o renascimento da Natureza e da sociedade, sob modelos diferentes e mais justos. Podemos dizer que era uma festa da ruptura, da transgressão para a reformulação e melhoramento do social. O carnaval moderno ainda se inspira neste espírito tradicional, mas é mais virado para o espectáculo, a fantasia e o lazer urbanos.
C.P. - Como podemos interpretar estas tradições à luz da antropologia e da religião?
MES - O Entrudo como o Carnaval representam desejos de ruptura e, por isso mesmo, já são gestos e visões de ruptura. Rompe-se por um dia ou dois para que tudo volte ao normal. É como um tubo de escape ou válvula de pressão. Tem efeitos, porque liberta as pressões contidas e que se esbatem durante estes dias, para que a vida possa continuar como dantes, mais aliviada, porque se escapou uma parte da pressão. Do ponto de vista religioso, passa-se o mesmo efeito de libertação de pressão. O Entrudo era o último dia antes da Quaresma que era uma época de purificação religiosa.
C.P. - O Entrudo é também uma festa simbólica, falemos de Trás-os-Montes, do Minho, do Alentejo ou das Beiras. Um simbolismo que permanece vivo pela vontade colectiva local. São as comunidades as responsáveis pela manutenção desta cultura ou os poderes instituídos também têm feito esforços para a preservar?
MES - O Entrudo e Carnaval moderno estão intimamente ligados aos desejos das colectividades, porque são momentos de libertação das tensões. Todas as aldeias do País têm costumes próprios do Entrudo/Carnaval. Algumas aldeias limitam-se a organizar bailes populares ou desfiles alegóricos onde ressalta a sátira dos costumes e dos poderes públicos. São sempre a manifestação de desejos de libertação, por vezes impossíveis ou inatingíveis. Ficam como desejos inconfessados de mudança e de melhorias sociais e antropologicas e são, por si, eficazes porque «despressionam». Os poderes locais, como as câmaras, baseiam-se na força da tradição popular que adere muito a estas manifestações. Mas já com preocupações económicas (turismo, comércio, etc.), como é natural e legítimo.
C.P. - Há quem considere que manter estas tradições carnavalescas é também uma forma de resgatar a auto-estima de aldeias e populações inteiras e revelam-se igualmente como um capital turístico importante. Concorda?
MES - Concordo. As comunidades locais têm necessidade de se manifestarem como grupos sociais vivos e actuantes. A sua preocupação também é «continuar as nossas tradições», o que significa «continuar vivo, diferentes e original» no contexto da sociedade envolvente. Procuram, assim, manter a sua honra e personalidade cultural colectivas.
C.P. - Em termos de património imaterial, o Entrudo português, de Norte a Sul, tem sido reconhecido como merece ou, na sua opinião, apenas o é a nível local?
MES - O Entrudo/Carnaval tem expressão em todo o território, embora em algumas colectividades, de maneira simples. É uma expressão cultural nacional muito forte. Simplesmente, a grandiosidade de algumas manifestações carnavalescas, muito focalizadas e mediatizadas, leva a ignorar a singeleza de outras. A meu ver, sendo uma manifestação cultural diferenciada das colectividades com tradições diferentes, eu penso que deve continuar como é: localizado, particularizado e não transposto para um evento ou manifestação massiva, homogeneizada, de tipo «nacional».

Ana Clara
in:cafeportugal.net

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