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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite, Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues, João Cameira e Rui Rendeiro Sousa.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Queijos portugueses - Sabores, saberes e prazeres

«O ABC dos Queijos Portugueses», obra recente de Manuela Barbosa, conduz-nos numa viagem pela história de um produto arreigado a todas as regiões nacionais. O factor climático, as raças produtoras de leite, o «saber fazer», são esmiuçados pela autora. Esta percorre várias regiões do país, da Serra da Estrela aos Açores, passando pela Beira Baixa, Alentejo e Trás-os-Montes. Um livro que mostra a importância económica mas também «as memórias, os sabores e os prazeres da nossa tradição queijeira».
Este é um livro que procura dar a conhecer, «de uma forma muito simples e acessível», o conjunto dos queijos tradicionais portugueses», sublinha a investigadora Manuela Barbosa em jeito de apresentação sucinta do seu mais recente título. Uma obra que parte ao encontro das especificidades dos nossos queijos, da «complexidade de apreciação e sua importância como factor de desenvolvimento económico e social, regional e nacional».
«Os queijos tradicionais constituem um património cultural e gastronómico que deve ser bem conhecido por todos nós, dignificado e preservado», considera a autora, adiantando que a obra «procura ainda sensibilizar e informar o consumidor sobre os princípios e factores que enquadram e influenciam este sector, ajudando-o a descobrir as várias regiões de produção, as memórias, os sabores e os prazeres da nossa tradição queijeira».
Além disso, vinca Manuela Barbosa, «poderá também ser um elemento de informação para quem nos visita» e, por isso mesmo, informa, «talvez possa surgir o interesse de fazer uma outra edição numa língua internacional como o Inglês».
A autora aborda questões fundamentais como o clima, as raças e o «saber fazer». Em que medida estes são pontos importantes para que tenhamos um produto final de qualidade? À pergunta, Manuela Barbosa responde prontamente: «a qualidade final de um produto é sempre a resultante da qualidade das matérias-primas e do processo de fabrico aplicado. Aqui o problema é mais complexo ainda e, portanto, exige muito rigor».
Realça, por isso, que quando falamos de queijos tradicionais e nomeadamente dos que hoje são designados como produtos DOP - Denominação de Origem Protegida, «falamos de queijos de leite crú que deve ser de excelente qualidade, feitos por um processo, um “saber fazer”, que deve respeitar a tradição transmitida de geração em geração e que deve estar convenientemente especificado em caderno de encargos».
«O leite, matéria-prima que dá origem ao queijo, provém por sua vez de animais (vacas, ovelhas ou cabras), que devem estar de perfeita saúde e serem alimentados de uma forma equilibrada, em pastagens adequadas, que por sua vez são influenciadas pelas características edafo-climáticas de cada região produtora. Portanto, o produto final “Queijo” é a resultante de toda esta envolvente, animal produtor do leite, clima, tipo de alimentação e maneio, condições de fabrico, incluindo o tipo de cura que é de importância capital. É essencial que o consumidor e até os próprios produtores percebam a diferença entre estes produtos e os produtos industriais, igualmente bons, mas diferentes na sua essência e no seu modo de produção», explica Manuela Barbosa.
O «ABC dos Queijos Portugueses», uma edição Feitoria dos Livros, «não pretende ser uma obra exaustiva, percorre o país abordando de uma forma sucinta os nossos queijos tradicionais mais conhecidos e característicos e procura evidenciar as suas especificidades. Destacam-se os queijos de leite de ovelha coagulados com a flor do cardo (Cynara cardunculus), dos quais o mais conhecido e prestigiado é o Serra da Estrela, garante da tradição milenar das actividades de pastorícia e fabrico de queijo nos Montes Hermínios na vigência do Império Romano. Seguem-se o Serpa, Azeitão, Castelo Branco, Nisa e Évora, tendo estes dois últimos características absolutamente distintas dos anteriores».
Na obra, a autora aborda ainda o Queijo Terrincho, de leite de ovelha em Trás-os-Montes, o Queijo de Cabra Transmontano, os Queijos Amarelo e Picante da Beira Baixa, fabricados com uma mistura de leite de ovelha e cabra, todos coagulados pelo coalho animal. Mas também os queijos dos Açores, destacando-se o Queijo São Jorge e o do Pico e «a relação das suas características organolépticas com a constituição do leite e a riqueza das pastagens magníficas e verdejantes que cobrem as respectivas ilhas todo o ano, graças às características edafo-climáticas particulares daquela região insular. A qualidade do leite proporciona ainda queijos industriais, não tradicionais, de muito boa qualidade», afiança.
«Temos o “saber fazer” essencial»:
Manuela Barbosa considera que temos o «saber fazer» essencial. No entanto, salienta, «o país sofreu nos últimos 30 anos transformações muito profundas que alteraram, para o bem e para o mal, muitos dos nossos conceitos e processos de trabalho agrícola e agro-pecuário verdadeiramente tradicionais». 
«A entrada do país na União Europeia, em 1986, e a obrigatoriedade de adopção de determinadas Directivas comunitárias provocaram grandes mudanças nas gentes e nas suas práticas rurais e artesanais. O excesso de zelo, se assim se pode dizer, das instituições responsáveis pelo processo e a precipitação de querer ser o tal “aluno bem comportado”, que queremos ser sempre, por falta de verdadeira convicção daquilo que somos e temos, fez-nos negligenciar a protecção do que era verdadeiramente nosso, adoptando demasiado depressa o que diziam, nos estava a ser imposto, sem tempo para uma reflexão profunda e fundamentada dos prós e contras dessa atitude. Isto levou à perda de valores, conceitos, processos e métodos que constituíam património deste sector e do país».
No livro, a autora procura «encorajar as pessoas a redescobrir esses aspectos, visitando as regiões, museus etnográficos e alguns produtores que ainda se mantenham fiéis ao tal “saber fazer” dos seus pais e avós».
A produção de queijos tradicionais tem fomentado o desenvolvimento das economias locais um pouco por todo o território. «A produção de um produto tradicional e regional é sempre uma fonte potencial de riqueza e desenvolvimento desse local ou região. Se o produto for bem feito, tiver qualidade e agradar ao consumidor este compra-o quer localmente quer nos grandes Centros dada a facilidade de transporte e comunicação que hoje existe. Também o número de eventos promocionais locais, como feiras, mercados, concursos etc., tem aumentado muito na última década, encorajando as pessoas a deslocar-se e a conhecerem as regiões, os seus produtos e os seus produtores», reconhece.
A exigência da produção artesanal:
Vinca, porém, que o período de crise que estamos a viver desde 2008 «tem afectado de certa forma esta dinâmica, mas ela terá que ser continuada e reanimada quando voltarem dias mais esperançosos». No entanto, «em qualquer tempo, a produção artesanal tem que ser muito exigente consigo própria, o que nem sempre acontece, e apresentar produtos, neste caso queijos com um nível de qualidade muito elevado para poder superar a força concorrencial da indústria que apresenta produtos mais económicos e com uma qualidade média aceitável».
Por fim, Manuela Barbosa realça que este livro é o resultado da «conjugação de duas vontades». «A vontade de uma editora, a Feitoria dos Livros, que aposta e investe na divulgação do nosso património gastronómico e da minha vontade de transmitir ao público em geral, conhecimentos adquiridos ao longo da minha vida profissional dedicada à ciência e tecnologia do leite e produtos lácteos com especial enfase e carinho pelos queijos tradicionais, que constituem um património muitas vezes ignorado, esquecido ou mesmo maltratado».
«Considero que a divulgação do conhecimento é essencial e neste âmbito há ainda muito a fazer. Os conceitos aqui transmitidos são essenciais para conhecer e apreciar melhor os nossos queijos. Conhecendo melhor a sua origem, as suas características e as suas diferenças o consumidor esclarecido pode escolher os produtos com mais segurança e com mais exigência, podendo também desfrutar de uma forma mais intensa da sua variedade e qualidade», remata.
Manuela Barbosa é licenciada em Farmácia pela Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto, tendo desenvolvido a sua actividade científica Instituto Nacional de Engenharia, Tecnologia e Inovação (de 1965 a 2006). 
A sua actividade de investigação a nível nacional e internacional esteve ligada ao estudo bioquímico de enzimas coagulantes e ao sector da tecnologia dos produtos lácteos de pequenos ruminantes, nomeadamente para a defesa da genuinidade dos produtos tradicionais. Desenvolveu várias acções de estudo e promoção da qualidade dos produtos lácteos nacionais, tendo sido coordenadora, a nível nacional, de vários projectos europeus de I&D no âmbito do estudo e protecção de Queijos de Denominação de Origem (1991-2005).

Ana Clara
in:cafeportugal.net

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