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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Linha do Tua - DESMISTIFICANDO AS CAUSAS DO ENCERRAMENTO do troço Mirandela – Bragança

Os Horários serviam as populações?

A imagem representa uma digitalização do livro de horários da CP de 1991, ilustrando os últimos horários da Linha do Tua no qual os comboios iam de Mirandela a Bragança. A principal fonte de procura de um transporte público regional são os estudantes e os trabalhadores, nas suas deslocações casa – trabalho/escola – casa. Atente-se na seguinte análise, na qual iremos focar-nos nos horários de chegada e de partida dos três principais núcleos geradores de movimento na Linha do Tua – Mirandela, Macedo de Cavaleiros, Bragança – nos horários de maior procura habitual: entradas e saídas de e para o trabalho/escola.
ENTRADA para o trabalho/escola de manhã (Sentido Tua – Bragança):
Mirandela: 07:59
Macedo de Cavaleiros: 06:16 / 09:16
Bragança: 08:16
ENTRADA para o trabalho/escola de manhã (Sentido Bragança – Tua):
Macedo de Cavaleiros: 06:52 / 09:17
Mirandela: 07:57

As chegadas a Mirandela davam-se num horário perto do ideal tanto para servir trabalhadores como estudantes, já que os primeiros entrariam ao serviço com um atraso ligeiro de até 5 minutos (se este começasse às 8 em ponto), e os estudantes tinham tempo para completar a sua viagem até à escola e entrar nas salas a tempo da primeira aula.
A chegada a Bragança era já um pouco tardia para trabalhadores (se entrando às 8 em ponto), mas no limiar para estudantes, a maior parte dos quais tinham a escola a escassas dezenas de metros da estação.
Para quem se quisesse deslocar a Macedo, não havia no entanto horários credíveis: a chegada dava-se mais de uma hora demasiado cedo, ou mais de uma hora demasiado tarde.
SAÍDA do trabalho/escola à tarde (Sentido Tua – Bragança):
Mirandela: 16:46 / 19:50
Macedo de Cavaleiros: 17:53 / 20:59
SAÍDA do trabalho/escola à tarde (Sentido Bragança – Tua):
Bragança: 15:00 / 19:40
Macedo de Cavaleiros: 16:41 / 21:34
Mirandela: 17:52

E é aqui que reside o modelo de asfixia da procura, partilhado de resto com várias linhas – até hoje!
As saídas de Mirandela davam-se, no sentido de Bragança, ou demasiado cedo tanto para trabalhadores como para estudantes, ou demasiado tarde para ambos. No sentido do Tua estaria razoavelmente bem para estudantes, mas cedo demais para trabalhadores.
Macedo de Cavaleiros estava a braços com semelhante situação: para o Tua os comboios passavam num horário demasiado cedo. Para Bragança os estudantes esperariam demais, e os trabalhadores não chegavam a tempo, sobrando-lhes apenas um estupidamente tardio nocturno.
O caso de Bragança, esse, atinge o auge da ignomínia: nenhum trabalhador ou estudante estaria sequer perto de conseguir voltar para casa às 3 da tarde, nem teria a paciência para esperar quase pela hora do noticiário da noite!
Estão expostas as lacunas que tornaram o comboio neste troço absolutamente desinteressante para as populações, que, ainda assim convém sublinhar, preferiam o comboio aos autocarros, dando à Linha do Tua nesse ano um total de 170 mil passageiros – contra os actuais 70 mil anuais, numa linha que ainda continua asfixiada.
O importante a reter é que por muito que os horários de um dos sentidos se coadunasse com as necessidades das populações, se os horários do sentido contrário não o fizessem então o comboio deixaria de ser uma opção viável – ninguém tira dois passes para o mesmo trajecto em transportes diferentes. Estava mais que lançado o triunfo da camionagem de passageiros na região.
Os Horários serviam as populações?
O vídeo que se segue é uma montagem feita pelo MCLT em 2008, aquando da realização de uma exposição de fotografias dedicadas ao tema “Linha do Tua”, promovido pelo então centro comercial “Fórum Theatrum”. As fotos que surgem no vídeo estiveram lá expostas, sendo muitas delas da autoria de alguns membros do MCLT.


Para memória futura, a sua administração foi responsável pelo único acontecimento em Bragança de celebração do centenário da chegada do caminho-de-ferro à cidade, em 2006. A eles, mais uma vez, o nosso muito obrigado.
Nele figura aquele que foi o último Chefe de Estação de Bragança – que curiosamente já havia sido o último Chefe de Estação de Sendas, até que a entrada em vigor do RES – Regime de Exploração Simplificada, em 1984, esvaziou as estações da Linha do Tua de pessoal.
Apesar de os horários que relata nesta entrevista não coincidirem exactamente com os últimos horários de 1991 (estamos a falar de um hiato de 17 anos, pelo que se apela aqui à vossa compreensão), fica aqui um testemunho de quem mais de perto poderia conhecer a realidade ferroviária da Linha do Tua em Bragança, à data destes infelizes acontecimentos. Como o próprio atesta, e como explicamos em detalhe no post anterior, os horários dos comboios em Bragança não serviam NINGUÉM – e não o contrário: NINGUÉM procurava o comboio. Este tabu perdura estupidamente até aos dias de hoje, no que resta da Linha do Tua.
Em 1991, último ano de comboios a operar em Bragança, a Linha do Tua obteve 173 mil passageiros, que ainda assim preferiam o comboio ao autocarro – mais uma vez sublinhamos, com ESTES horários. Nos dois anos seguintes, com os autocarros de substituição do comboio, perderam-se 80 mil passageiros. Daí até 1997, a Linha do Tua perdia, com estes autocarros, mais 55 mil passageiros. Em suma, com a saída dos comboios e a entrada dos autocarros com os MESMOS horários, 135 mil passageiros foram obliterados das contas da Linha do Tua.
Nos primeiros 6 meses de operação, estes autocarros de substituição registaram 4 acidentes; em 2 deles, houve a lamentar 1 morto, 5 feridos graves, e 30 ligeiros.
E é esta a receita que, 22 anos depois, querem administrar novamente na Linha do Tua, agora no troço Cachão – Tua, como vem estipulado no protocolo para a Mobilidade no vale do Tua – sobre o qual oportunamente falaremos.

O quão ridículo/canalha se poderá continuar a ser com a Linha do Tua?!

Daniel Conde – Movimento Cívico pela Linha do Tua

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