Nos meios mais afastados do mundo rural é frequente ouvir-se que conservação da natureza e promoção da biodiversidade não se compactuam com a maioria das atividades do campo, nomeadamente a pecuária, a silvicultura, a agricultura ou a cinegética.
Ao comum cidadão, menos conhecedor da realidade nestes territórios, juntam-se algumas organizações ditas protetoras do ambiente e da natureza, algumas das quais, mais extremistas, defendem mesmo que a intervenção do Homem deve cessar nos ecossistemas, deixando a natureza entregue a si própria.
Nada poderia estar mais errado e a realidade do mundo rural, por muitos desconhecida, assim o comprova.
No dia-a-dia e na generalidade do território nacional, são os proprietários rurais, os agricultores e os gestores cinegéticos que têm um papel fundamental no fomento de espécies protegidas, na conservação dos habitats e na preservação da paisagem.
São eles, em grande parte, os responsáveis pelos excelentes resultados verificados em Portugal na recuperação da águia-imperial e águia-de-bonelli, do abutre-negro, do lince-ibérico ou na manutenção de boas condições para a proliferação das mais variadas espécies animais e vegetais.
É ainda do desconhecimento da maioria dos cidadãos (e omitindo aqueles que «antipatizam» com a caça), que está demonstrado que as zonas de caça bem geridas apresentam maiores índices de biodiversidade, incluindo espécies animais com elevado valor conservacionista, relativamente a áreas sem caça. As zonas de caça são, de facto, territórios onde se gere e explora a fauna cinegética, mas onde todas as acções de gestão e de melhoramento que aí são desenvolvidas favorecem igualmente outras espécies faunísticas. São assim locais onde existe abundância de recursos alimentares, habitats favoráveis e tranquilidade, permitindo que muitas espécies protegidas tenham reaparecido ou recuperado as suas populações.
É também fundamental o papel dos agricultores, que garantem a conservação dos solos e da água, obedecendo aos mais rigorosos critérios regulamentados pelas regras comunitárias, criando, de uma forma transversal, alimento para a fauna e um mosaico de habitats altamente favoráveis para a biodiversidade.
No que respeita à conservação da floresta pelos proprietários rurais, com a gestão do seu sub-coberto, nomeadamente com a prevenção de incêndios florestais têm também um dos papéis mais importantes na ecologia da paisagem Portuguesa, em contras-senso com a falta de gestão, cuja susceptibilidade a incêndios provoca recuos de décadas na conservação da natureza e da biodiversidade.
Igualmente, a gestão do sub-coberto por pecuária em regime extensivo, para além da já referida prevenção contra incêndios, cria uma dinâmica no complexo sistema florestal, permitindo a manutenção e a gestão de sistemas agro-florestais que muitas vezes seriam deixados ao abandono se não tivessem este tipo de aproveitamento, exemplo disso é a manutenção de um dos habitats mais ricos em biodiversidade do mundo, os montados de sobro e azinho.
A crescente oferta de turismo da natureza, de bird-watching, e das mais diversas variantes de turismo do mundo rural são uma clara prova que o campo Português se tem transformado, cada vez mais, num meio de excelência da conservação da natureza e da biodiversidade.
Numa sociedade moderna, as bases da sustentabilidade dos recursos naturais e da sua biodiversidade deverão ser constituídas pelo trabalho conjunto dos ecologistas e dos agentes do mundo rural. Sendo estes últimos os actores que conferem uma dinâmica diária na conservação da Natureza e da Biodiversidade … 365 dias por ano!
Revista Sábado
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