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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

terça-feira, 6 de dezembro de 2016

O 1.º de Dezembro em Bragança

O primeiro de Dezembro em Bragança continua a lembrar-se na minha memória de forma a ser acontecimento simbólico, extraordinário, fora da litania lacrimejante ou da evocação serôdia, sim dentro da realidade singular das vivências marcantes numa adolescência cinzenta, de poucos raios luminosos no enfadonho e circular quotidiano. E, a adolescência para a maioria dos estudantes foi radiosa. Algumas e alguns talvez se lembrem do livro Juventude Radiosa, muito aconselhado aos jovens. Recordam-se?
O 1.º de Dezembro no dizer risonho da Dona Aninhas Castro é fruto da teimosia de uma espanhola. Tomo a liberdade de acrescento: uma duquesa filha do Duque de Medina Sidónia, enorme potentado ainda agora, cansada da beatitude de Vila Viçosa coagiu o marido, o Duque de Bragança, a sair do torpor e do temor obrigando-o a ser rei, pois mais valia ser rainha um hora, do que duquesa toda a vida.
A resoluta Dona Luísa de Gusmão não esquecia a triste sorte de uma ancestral, também filha de outro Duque Medina Sidónia, assassinada por Dom Jaime, igualmente Duque de Bragança, o qual no paradoxismo do ciúme matou a formosa mulher. Os interessados no drama podem ler o Pajem da Duquesa, do militar e prolixo escritor Campos Júnior.
A celebração do 1.º de Dezembro em Bragança conseguia suprir a propositada ausência de significação geral, o comércio não fechava, nem as oficinas e lojas similares, graças ao entusiasmo ao elementos de maior idade da Academia estudantil, peritos no roubo de galináceos e deambulações etílicas dando lucro aos taberneiros e prejuízos a criadores de aves de capoeira.
A figuração iconográfica estava a cargo das meninas e dos rapazes da Mocidade Portuguesa, ao fim da tarde o cortejo estudantil dominado cenograficamente pelas capas e batinas de quem as possuía e podia envergar deslocava-se até à residência do Dr. Amado, ícone da primeira República, a quem saudava. Ele agradecia atrás da vidraça nos dias de temperatura negativa. A banda do Patronato aquecia os corações levando as línguas a soltarem hurras e a lengalenga dos erres vogais.
A amostra de gratidão reflectia o vazio reinante desprovido de outras referências de cunho histórico, à noite no Cine Teatro Camões representava-se, julgo não cometer aleivosia ao referir Mestre Gil como o autor preferido, no tocante ao elenco prefiro não fazer nenhuma anotação pessoal.
Os temas circundantes ao feriado não terão sofrido alteridades até 1967, ano do afastamento. E agora como é comemorado o feriado? Agora só sei o lido nos jornais.
Talvez não provoque danos à verdade se disser que tudo desapareceu excepto as batinas e as capas pois o traje negro confere pose esvoaçante às fotografias, as fardas da Mocidade só deixaram saudades aos nostálgicos do salazarismo, as mocas estão anuladas nas proclamações do populismo mediático das tunas e órgãos quejandos, no tocante a galináceos as capoeiras deram lugar a arcas frigoríficas depositárias de frangos de ração vendidos em horário alargado.
A pulsão de exilados leva antigos estudantes a visitas a Bragança no dia da restauração da independência ao modo romagem de saudade entrelaçada no antigamente, ao contrário do sucede hoje, os rapazes apaixonados gastavam solas, horas, suores à espera da desejada, correndo riscos de não lograrem simples e rápida troca de palavras, quanto mais furtivo beijo.
Agora, a liberdade é total resmungarão contidamente as romeiras e os romeiros a olharem de esguelha a parelha escolhida noutras paragens. As duplas originárias do primeiro namoro geram exclamações ante a limpidez e perenidade da relação, no intento de não provocar invejas, ruminações interiores e torções nas orelhas resisto ao desejo de nomear duas raparigas e dois rapazes coevos que muito prezo.
A doença sentimental da saudade (sofro de outra variante) não me atacou, gosto e penso em Bragança numa perspectiva despojada de bairrismo espúrio, estúpido, gosto muito do velho burgo e de algumas pessoas, deixei de reconhecer outras, propositadamente, a maioria da população nasceu ou veio morar para cidade após o ter ingressado no vai vem da vida. É a vida!



Armando Fernandes
in:mdb.pt

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