Toda a gente sabe o que são catedrais, no entanto, o termo concatedral poderá não soar tão familiar. Em Miranda do Douro existe uma, e é ela o motivo da rivalidade secular com Bragança.
A antiga Sé de Miranda do Douro recebeu o título de Concatedral como forma de amenizar os desentendimentos com Bragança. No século XVI, Miranda do Douro foi elevada à categoria de cidade, tornando-se a primeira diocese de Trás-os-Montes. Assim, Miranda passou a ser a sede do bispado, residência do bispo, cónegos e mais autoridades eclesiásticas, bem como militares e civis, e também a capital de Trás-os-Montes. Foi então construída a catedral de Miranda do Douro, um projeto que se insere na tipologia de sés mandadas construir por D. João III, com uma fachada harmónica e interior em três naves.
No entanto, a história da cidade foi bastante atribulada. No século XVIII, caiu no domínio espanhol duas vezes. Em 1762, no contexto da Guerra dos 7 anos, o paiol com 500 barris de pólvora foi atingido por um tiro de canhão. As quatro torres do castelo e os bairros periféricos ficaram totalmente destruídos e cerca de um terço da população morreu.
Com a cidade destruída e a população dizimada, Miranda do Douro sofreu mais um duro golpe que o tempo não fez esquecer. D. Frei Aleixo Miranda Henriques - o 23º bispo - abandonou Miranda, trocando-a por Bragança, que passava a ser sede episcopal definitiva e única. Mas o bispo não foi de mãos a abanar, levou 14 carros de bois carregados de peças da, então ainda, catedral de Miranda do Douro, incluindo os sinos. Miranda ficava assim destruída, com a população dizimada, sem diocese e sendo trocada por Bragança que passava a ser sede de bispado. A população não esquece, mantendo um “ódio de estimação” pelo Frei Aleixo e uma rivalidade - saudável - com a cidade de Bragança.
Como forma de apaziguar os ânimos e amenizar os desentendimentos, foi concedido, pelo Vaticano, o título de Concatedral à Igreja Matriz de Miranda do Douro, por já ter sido, então, Catedral, assim como acontece com a antiga Sé de Coimbra, que também é considerada uma Concatedral.
Ainda há muito para ver na Concatedral de Miranda do Douro
A verdade é que o Frei Aleixo levou muito do recheio da igreja, no entanto, ainda há muito a ser visitado e apreciado.
Dentro da concatedral, num altar próprio, está a imagem do Menino Jesus da Cartolinha. A lenda mais conhecida conta que quando Miranda estava cercada de tropas espanholas e já não tinha forças nem animo para lutar – já que o cerco durava há vários dias – apareceu um menino, no cimo da muralha, a gritar e a incentivar para que continuassem a lutar. A praça foi salva e a população procurou o menino, mas nunca o encontrou, pelo que consideram se tratar de um milagre. Hoje em dia, a estátua permanece na igreja e é local de peregrinação.
Impossível não reparar, também, no retábulo da capela-mor, o primeiro em relevo que tem um conjunto escultural dedicado a Santa Maria Maior.
A Concatedral de Miranda do Douro faz parte da Rota das Catedrais a Norte, um projeto que engloba 6 dioceses da Região Norte, nomeadamente Porto, Braga, Viana do Castelo, Vila Real, Lamego e Bragança/Miranda.
Este projeto conta com um investimento total de 2,5 milhões de euros para intervenções infraestruturais de qualificação e valorização no património imóvel, móvel e integrado nas catedrais.
Se for a Miranda do Douro, não pode deixar de visitar o Museu da Terra de Miranda, onde é possível encontrar vários objetos que remetem para outros tempos e uma vasta coleção de instrumentos musicais. Pode ainda aprender e praticar a dança dos pauliteiros de Miranda. Estando em Miranda vai também ter contacto coma segunda língua oficial de Portugal: o Mirandês.
Susana Sousa Ribeiro
Viagens Sapo
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