"Conta-me Como Foi" regressa à RTP e passa da ditadura para os anos 80 |
A RTP1 está a produzir 13 telefilmes que adaptam contos portugueses, de autores que vão de Mário de Carvalho a Eça de Queirós, com realizadores como António-Pedro Vasconcelos ou António da Cunha Telles, para exibir semanalmente no final do ano. O director de programas da estação pública, José Fragoso, revelou ainda na manhã desta quarta-feira um rol de séries – entre as quais uma sobre a banda Doce e outra sobre as “mães de Bragança” –, documentários e o reforço da sua aposta no late night, com um novo programa de José Pedro Vasconcelos, e no humor.
Há cerca de nove meses no cargo, José Fragoso fez refresh no que já se sabia serem as propostas e encomendas da RTP no seu mandato — uma apresentação a olhar para 2019, com estreias pensadas para o final do ano ou mesmo para 2020. “Um ponto de situação.” Do final do programa das tardes Agora Nós nascerá na primeira semana de Abril um novo programa de Tânia Ribas de Oliveira, “mais emocional”, com “mais rua”, e o quarto título de entretenimento para os finais de noite da RTP1. José Pedro Vasconcelos troca a tarde pelas noites de sexta-feira, juntando-se a 5 para a Meia-Noite, Cá por Casa e à recém-chegada Prova Oral para “a consolidação do late night [da RTP]”, diz Fragoso.
Um talk show, tal como os vizinhos de terça a quinta-feira, “construído com humor” e ainda sem nome, mas que se distingue do que a SIC e TVI fazem no mesmo horário. Esse é um dos objectivos. Os outros são, explica o director de programas, divulgar talentos, livros, músicos e juntar-lhe “o humor que é, em termos de televisão, muito motivador dos espectadores que não se revêem nos conteúdos novela”. Públicos mais jovens, uma sobrevida em clips na Internet. “A dinâmica digital que estes conteúdos têm alastrará cada vez mais.” O humor, que tinha fixado como linha de aposta da sua grelha, virá com Patrulha da Noite e Zapping.
Este último vai funcionar como um saltitar de canal em canal da autoria de Henrique Dias, Frederico Pombares e Roberto Pereira, para ver Jorge Mourato, Ana Guiomar ou Márcia Breia a brincar com temas e hábitos que fazem a televisão actual. “O nosso actual meio televisivo merece”, sorriu José Fragoso. Patrulha da Noite será um programa também de sketches, da autoria de Eduardo Madeira e escrito por Filipe Homem Fonseca, Mário Botequilha e com convidados como Nuno Markl para situações de uma cidade à noite. Ambos, como muitos projectos apresentados aos jornalistas, estão ainda em fase embrionária e de escrita.
Uma das áreas em que José Fragoso disse querer reforçar no seu regresso ao cargo de director de programas é a dos telefilmes, e são 13 aqueles que vai ter no ar a partir de Setembro/Outubro deste ano com base em contos portugueses. Já avançadas estão as adaptações de Lavagante, de José Cardoso Pires, e Um jantar muito original, de Fernando Pessoa (sob o heterónimo de Alexander Search). Na lista estão ainda contos de Camilo Castelo Branco, Alexandre Herculano ou Eça, para as mãos de João Cayatte, José Carlos Oliveira, António-Pedro Vasconcelos ou Cunha Telles. “Cada realizador vai pegar num conto e elenco específico”, explicou Fragoso, com uma equipa técnica fixa que rodará pelos 13 projectos.
A duração de cada um será de 60 minutos e não têm apoios do Instituto do Cinema e Audiovisual (ICA). “É um projecto da RTP”, disse o responsável, sobre a proposta original da Marginal Filmes que a estação pública financia. Serão para passar em horário nobre, ainda sem dia escolhido.
As séries dos cineastas
Também na ficção, mas em formato série, estão a trabalhar alguns nomes do cinema português. João Botelho vai filmar O Ano da Morte de Ricardo Reis, de José Saramago, Joaquim Leitão e Artur Ribeiro filmam Terra Nova com base na obra de Bernardo Santareno, Sul, de Ivo Ferreira deve ser exibida “a partir de Setembro” e Jorge Paixão da Costa está a trabalhar em A Espia, história passada no Portugal e Espanha de 1941.
No terreno está a série Luz Vermelha, que já começou a ser filmada na semana passada, e se debruça sobre o caso que ficou conhecido como “as mães de Bragança” – um grupo de mulheres da cidade de Trás-os-Montes que em 2003 criou um movimento para tentar pôr fim à prostituição na localidade. O caso tornou-se conversa nacional e chegaria à capa da revista Time. Sem adiantar mais detalhes, José Fragoso indicou ainda que Patrícia Sequeira (Jogo de Damas, Terapia) está a escrever uma série sobre a emblemática girl band portuguesa Doce. As Doce, um quarteto feminino que nasceu da mente de Tozé Brito, marcaram a primeira metade dos anos 1980 portugueses, criando temas até hoje ouvidos no país e sendo uma das bandas mais associadas aos momentos televisivos do Festival da Canção.
Uma das séries mais esperadas da nova equipa da RTP é uma velha série da mesma equipa da RTP – Conta-me como Foi (2007-2011), essa “marca muito forte da ficção da RTP”, regressará no último trimestre de 2019, como o PÚBLICO já noticiou. Entre as séries na calha estão as co-produções Auga Seca (TV Galicia), já em campo, e o desejo de fazer seis episódios sobre a viagem de circum-navegação de Fernão de Magalhães, aguardando-se a resposta de parceiros como a TVE ao projecto de Leonel Vieira.
As Doce, o grupo que marcou a primeira metade dos anos 1980 portugueses DR |
Entre um novo talent show (La Banda), as viagens de Pedro Fernandes com Portugal mais Perto e novos formatos ainda em gestação de Catarina Furtado, Filomena Cautela e Vasco Palmeirim, ou o regresso de Príncipes do Nada, uma vaga de documentários preencherá a programação da RTP dentro de meses. Séries documentais, como os quatro episódios sobre a história do teatro de revista em Portugal, ou os 11 episódios sobre os refugiados acolhidos em Portugal, bem como o regresso de Arte Eléctrica, sobre a música portuguesa, agora nos anos 1990, de Mesa Portuguesa e a nova série de cinco episódios sobre vinhos históricos. E documentários de 50 minutos como o projecto de Manuel Mozos sobre Sophia de Mello Breyner, e outros tantos sobre a arte xávega, as romarias ou os trilhos do salto da emigração portuguesa.
Joana Amaral Cardoso
Ípsilon
Jornal Público
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