O preço da azeitona, na região, situa-se entre os 25 a 30 cêntimos, segundo garante o presidente da Associação dos Produtores em Protecção Integrada de Trás-os-Montes e Alto Douro. Francisco Pavão explica que o valor, mais baixo que nos anos anteriores, se deve ao preço do azeite a nível mundial. “É uma valor mais baixo que no ano passado e, sobretudo, que há dois e isto tem muito a ver com aquilo a que é o preço do azeite no mercado mundial. Ontem o azeite virgem extra andava à volta dos 2,10 euros e o ano passado, por esta altura, estaria pelas três ou 3,10 euros, baixou um euro. Nós também sentimos esse reflexo”.
Segundo um estudo recente, o Alentejo tem a maior área de olival e é a região que mais azeitona e azeite produz em Portugal, graças ao regadio do Alqueva e à transformação de olivais tradicionais em modernos. Francisco Pavão acredita que a situação também influencia o sector em Trás-os-Montes. “No Alentejo as produções são maiores por hectare, sobretudo no olival de regadio, e em Trás-os-Montes cerca de 90% da área é de sequeiro e estamos muito sujeitos aos efeitos das alterações climáticas e sobretudo às fracas produtividades do olival de sequeiro. Esta baixa de preços no olival tradicional, que existe, nas mesmas condições que Trás-os-Montes, de norte a sul do país, é bastante mais preocupante. Os custos do olival tradicional são muito mais elevados e a produtividade mais baixa, por isso é mais difícil competir com estes preços tão baixos”.
Francisco Pavão acredita que o caminho, em Trás-os-Montes passa pela produção de qualidade. “Há aqui situações em que é preciso investir e uma delas é a criação de pequenas barragens que sirvam de apoio aos agricultores e outra questão é a valorização e o apoio às especificidades deste tipo de olivais. Trás-os-Montes é, possivelmente, a região que mais prémios tem obtido em concursos nacionais e internacionais. A região tem uma capacidade enorme para produzir azeites de qualidade. Numa região que não tem condições para produzir em quantidade, o caminho que temos é a qualidade e aposta no mercado que valorize a diferenciação dos azeites”.
Jorge Pires, do Pró-Lagar, em Mirandela, esclarece que o azeite também lhe está a ser comprado a preços mais baixos que em campanhas passadas, o que acontece com outros lagareiros daquele concelho, sendo esta a origem do problema. “Aqui no meu lagar começámos com 25. O que originou isto foi o preço a que o azeite estava a ser comprado. Acabei de falar com um comprador e ofereceu-me 2,20 euros por uma azeite virgem extra. Isto não é nada”.
Jorge Pires afirma ainda que o rendimento da azeitona este ano também é baixo, ou seja, para produzir a mesma quantidade de azeite é preciso mais matéria-prima.
Jorge Pires garante mesmo que o sector, este ano, não está a ser rentável nem para os lagareiros nem para os produtores. “Quem transforma azeitona, com estes valores é um negócio complicado. Eu também sou agricultor, também acho que é um preço baixo para os custos que há. Estamos a falar em zonas em que, por hectare, pomos 200 a 220 árvores, comparado com o que se passa no Alentejo e com o regime de apanha completamente diferente, a um terço do nosso custo, é extremamente complicado ”.
Em 2018, 80% dos prémios do Concurso Nacional Azeite de Portugal nasceram em olivais tradicionais, o característico na região.
De 2017 para 2019, o preço da azeitona caiu para metade. Na origem do problema estarão o preço do azeite a nível mundial, o rendimento da azeitona e os olivais modernos a competir com os tradicionais.
Escrito por Brigantia
Jornalista: Carina Alves
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