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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

quarta-feira, 2 de março de 2022

Bragança – «Certidão de Nascimento»

 A 20 de fevereiro, Bragança celebrou 558 anos da elevação a cidade, solicitada pelo duque de Bragança D. Fernando e chancelada pelo rei D. Afonso V, em 1464. Argumento para recuarmos até Fernão Mendes, O Braganção, e à «Certidão de Nascimento» da então Vila.
Bragança tem uma existência milenar, onde emerge a origem celta dos Zoelae, a região assume-se na fase do Império Romano, dominada por duas fortificações existentes no actual cabeço de São Bartolomeu e no morro do Sardão. Com o surgimento de reinos do Norte da Europa, como os Celtiberos, Visigodos e Suevos, no século V, a invasão dos mouros do Norte de África, a partir do século VIII, e as subsequentes guerras entre cristãos e muçulmanos, o Nordeste tornou-se zona de disputa, sofrendo depredações e devastação. Entretanto, revela-se o topónimo aproximado ao actual: Vergancia, no concílio de Lugo (569 d.C), no tempo dos suevos, Bregancia, na divisão administrativa do rei visigodo Wanda (666 d.C) e Bregantia, de acordo com a escritura de Astorga (ano 974).
Recupera a partir do século XI, através da família dos braganções, que assumem a suserania do território, com sede em Castro de Avelãs, onde se fixaram monges beneditinos e ali fundaram um mosteiro. Em particular com Fernão Mendes, o quarto da linhagem, cunhado de D. Afonso Henriques por casamento com a irmã Sancha Henriques. Aquando do confronto pela Terra Portucalense, entre os senhores locais, apoiados no príncipe D. Afonso Henriques, e os galegos dos Trava e de D. Teresa, o braganção Fernão Mendes apoia o príncipe e torna-se um dos seus mais fiéis vassalos. Vencedor em São Mamede (1128), D. Afonso Henriques funda Portugal e estende o território do Mondego até ao Tejo e daqui ao Baixo Alentejo, num processo politicamente ambicioso e militarmente arrojado. Em todo este contexto, Fernão Mendes é uma figura importante. Senhor de Trás-os-Montes e de parte da Beira Interior assume, a partir de 1130, o encargo de guarnecer os locais de fronteira, através da edificação de fortalezas estratégicas e de povoamento das localidades.
Relativamente a Bragança, urbe insipiente e espalhada pelo vale a Noroeste do actual castelo, é redefinida a sua implantação para a quinta de Benquerença, iniciando-se a construção de um sistema amuralhado no «Cabeço da Vila». Plantada num local altaneiro, com duas descidas abruptas, a Sul e a Leste, em direcção ao rio Fervença, a segurança afirma-se. Situada num ponto de confluência de duas vias militares romanas, relaciona-se com Leão, através de Astorga, e com Braga, a cuja diocese pertence, além de deter a prerrogativa de cobrar direitos alfandegários e de portagem sobre pessoas e bens. Como o espaço favorece a agricultura e a pastorícia, os bens de primeira necessidade estão garantidos.
Fernão Mendes vai garantir nos trinta anos seguintes (morre em 1160) a segurança, o desenvolvimento e o bem-estar da região através de uma conduta política biunívoca, mas convergente: com Afonso VII de Leão desenvolve relações de cordialidade e boa vizinhança; a D. Afonso Henriques garante lealdade política e auxílio militar. O que atesta, no primeiro caso, a não intromissão do rei de Leão nas terras do braganção e, no segundo, a sua presença na hoste de D. Afonso Henriques em operações militares contra os mouros sempre que necessário, como aconteceu em Ourique, na batalha travada a 25 de julho de 1139, na cora de Beja, onde a sua conduta guerreira se destacou e lhe mereceu o epiteto de «O Bravo». Vitória que motiva D. Afonso Henriques a cingir a coroa régia.
Através de Fernão Mendes podemos dizer que Bragança teve a sua «certidão de nascimento». Será com D. Sancho I, que lhe passou Carta de Foral em junho de 1187, que a vila brigantina recebe a «cédula de batismo». 
A partir de então, Bragança é a atalaia que controla uma imensa região, mas esta é uma outra história.

Abílio Lousada

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