Parece nada ter a ver com o jogo do mail (palavra francesa que deriva do latim malleum, donde também derivam, através de malleolum, as portuguesas alleo e aléu) que se praticava durante a baixa Idade Média na França e pela Europa, mas era precisamente este jogo que atraía de uma forma especial os nobres.
Não é de excluir a hipótese de ser ele o jogo da choca que o 1.º Conde de Vila Real, D. Pedro de Meneses, praticava em Ceuta, logo após a conquista desta praça, em 1415, quando D. João I, preocupado com a sua defesa, o abordou, tendo ele dito que com o alleo (malho ou vara de jogar) defenderia a praça contra os mouros. [Trata-se de uma lenda muito divulgada como facto real!].
O que é certo, porém, é que em Trás-os-Montes e Beira Alta o jogo da choca difere muito do jogo do mail (em que cada jogador dispunha de uma bola, na sua variante individual, e tinha de percorrer um determinado percurso onde havia pedras de toque) e, sendo natural que D. Pedro de Meneses conhecesse o norte do país, é também natural que o jogo que praticava em Ceuta fosse o nosso jogo da reca.
Jogo que tem uma relação visível com o trabalho rural e é caracterizado por uma violência que o afidalgado jogo da choca/mail não permitia.
Regras
1.- Joga-se com uma pinha (ou pequena bola de madeira) que tem o nome de reca, choca ou porca.
2.- Participam cinco jogadores munidos de um aléu (malho ou pau) cada um, o qual pode ser curvo numa das extremidades ou não.
3.- Começa o jogo com as coquerrias da pinha (porca). Chama-se coquerrias ao acto de dar com o pau na pinha, sem a deixar cair ao chão.
4.- O jogador que menos coques der é o que vai com a porca, ocupando cada jogador dos restantes uma nicha.
5.- No centro do terreno há uma nicha ou pequena cova na terra a que se dá o nome de celeiro; em redor deste, à distância de dois a três metros, quatro nichas para os jogadores que o defendem.
6.- Ao jogador que fica com a porca chama-se porqueiro.
7.- O porqueiro tenta meter a porca no celeiro, conduzindo-a com a ponta do pau. Se o conseguir, diz estas palavras: «remeruja, porca suja. (1) Neste caso, os outros jogadores têm de mudar de nicha. O jogador que ficar sem nicha vai com a porca.
8.- Quando o porqueiro tenta meter a porca no celeiro, todos os outros jogadores fazem os possíveis para que ela não entre, evitando também que aquele ponha o pau na nicha.
9.- Depois do tempo terminado (aproximadamente quinze minutos), sem que o porqueiro tenha êxito dizem-se estas palavras: «couto, minha nicha / couto, meu celeiro,/ borro-lhe nas barbas / ao ruim porqueiro».
Os defensores cruzam os paus no celeiro, põem-lhe uma pedra em cima, vão buscar o porqueiro que tenta fugir e dão-lhe com o rabo em cima da pedra.
Assim termina o jogo.
Nota
Podem participar mais de cinco jogadores – sete, por exemplo. Nesse caso as nichas em volta do celeiro são seis.
(1) Ou «quits, nicha». «Quits» (de quitar) – deixa.
António Cabral “A perspectiva cultural dos jogos populares”, in Estudos Transmontanos, Vila Real, n.º 2, 1984 (texto editado).
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