Vespa soror. Foto: Rushen/WikiCommons |
Nas últimas décadas, a globalização tem facilitado a introdução e distribuição de algumas espécies sociais de vespas em novas regiões e países. Segundo os autores de um artigo publicado a 9 de Novembro na revista científica Ecology and Evolution, isto deve-se, por exemplo, ao facto de as vespas rainhas fertilizadas passarem a parte do ano que lhes é meteorologicamente desfavorável escondidas em materiais ou contentores que os seres humanos depois transportam para outras regiões longe do lugar original destes insectos.
Outro ponto relevante para a introdução com sucesso destas vespas é o número reduzido de indivíduos necessários para que se possam estabelecer em novas áreas.
Todas as espécies do género Vespa são endémicas da Ásia, à excepção da vespa-europeia (Vespa crabro) e da Vespa orientalis, que existem na Europa e Norte de África. Na verdade, apenas a Vespa crabro era autóctone da Península Ibérica, mas na última década têm chegado outras espécies do mesmo género, como a Vespa velutina, a Vespa orientalis e a Vespa bicolor.
Agora chegou a vez de uma outra espécie, a vespa-gigante-do-sul (Vespa soror). Esta espécie, descrita em 1905, vive nas regiões quentes da Ásia, incluindo o Nordeste da Índia, Myanmar, Tailândia, Laos, Vietname e Sul da China.
Naquele artigo científico, os investigadores apresentam o primeiro registo europeu da vespa-gigante-do-sul, das Astúrias, no Norte de Espanha. Foram recolhidos quatro espécimes em Março de 2022 e em Outubro de 2023 em El Campo, Granda, Siero, nas Astúrias. Os espécimes foram apanhados numa armadilha para vespa-asiática.
Os primeiros registos de Vespa soror na Europa são confirmados por análises genéticas e morfológicas neste artigo científico.
A vespa-gigante-do-sul tem um padrão de cor que é comum a poucas espécies asiáticas do seu género e é totalmente único no contexto europeu. Ambos os sexos têm três cores: preto ou castanho escuro, castanho claro e amarelo. A cabeça, que é excepcionalmente grande, é quase toda amarela. Tanto as antenas como as patas são quase todos castanhos e as asas são amareladas.
Segundo o Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), a vespa-gigante-do-sul “é particularmente agressiva na defesa do ninho e na caça a outros insetos”. As obreiras podem pode atingir 35 mm. “Preda sobretudo insetos, desde abelhas a louva-deus, mas também lagartixas.”
“O ICNF já alertou a rede de interlocutores municipais da plataforma STOPVespa para a necessidade de deteção e reporte da ocorrência desta e de outras potenciais vespas invasoras: Vespa orientalis: de tamanho médio, um pouco maior do que a Vespa velutina mas mais pequena do que a nativa vespa-europeia Vespa crabro; Vespa bicolor: presente no sul de Espanha”, acrescentou numa nota.
“O INIAV, IP no caso de indivíduos suspeitos de pertencerem a estas novas espécies, irá disponibilizar o serviço de envio de possíveis exemplares para identificação, livre de custos no âmbito do Plano Ação para a Vigilância e Controlo da Vespa velutina em Portugal”.
Segundo os autores do artigo, “a Vespa soror é um predador agressivo que preda invertebrados de vários tamanhos, incluindo borboletas, libélulas, louva-a-deus e gafanhotos, bem como outras vespas e até preda pequenos vertebrados como lagartixas”.
Além disso, salientam, “há registos de Vespa soror a atacar, em grupos, as colmeias da abelha do mel Apis cerana, resultando em colmeias destruídas e perdas consideráveis para os apicultores”. “Um risco semelhante pode existir nas Astúrias para colmeias de Apis mellifera, com impactos potencialmente maiores, se nos lembrarmos que a presença da Vespa velutina já está a causar graves perdas nas colónias locais de abelhas do mel”.
Os investigadores alertam que a vespa-gigante-do-sul pode ter complicações para a saúde humana, especialmente durante os meses de Setembro a Dezembro, quando as novas rainhas e as colónias se tornam grandes e muito defensivas. As picadas são muito dolorosas.
Os ninhos são feitos debaixo do solo, mistas vezes com a entrada escavada entre as raízes de grandes árvores. “Alguns ninhos estão muito perto da superfície, apenas a alguns centímetros, mas outros estão mais profundos com um ou mais túneis que podem ter 60 centímetros ou mais de comprimento entre o ninho e a entrada”.
Este registo eleva para quatro o número de espécies de Vespa introduzidas na Península Ibérica.
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