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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

sábado, 30 de novembro de 2024

Abutre-preto: Este ano contaram-se mais de 108 casais nidificantes e 48 crias bem-sucedidas

 Os números agora divulgados pelo LIFE Aegypius Return, sobre a última época de reprodução do maior abutre da Europa, indicam que a espécie se está a expandir em território nacional.

Abutre-preto. Foto: Bruno Berthemy/VCF

A época de reprodução do abutre-preto, que em Portugal está hoje classificado como Em Perigo de extinção, terminou este ano com um total de 108 a 116 casais nidificantes contados de norte a sul do país pela equipa do projeto LIFE Aegypius Return (2023-2027), com o apoio do Instituto Nacional de Conservação das Florestas, da Rewilding Portugal e da Quercus.

Este aumento registado de casais de abutre-preto nidificantes, afirma numa nota de imprensa a equipa coordenada pela Fundação Para a Conservação dos Abutres (Vulture Conservatiob Foundation), “deve-se exclusivamente à natural expansão da espécie, resultado das medidas de conservação que têm vindo a ser aplicadas em projetos anteriores – como o LIFE Habitat Lince Abutre e o LIFE Rupis –, nas atuais ações do LIFE Aegypius Return e também graças a uma tímida, mas generalizada, melhoria nas condições do habitat e tranquilidade requeridas pela espécie”.

Infografia: VCF

Ainda assim, o facto de fazerem ninho não significa que todos estes casais cheguem a produzir ovos ou a conseguir cuidar das crias com sucesso até ao momento de saída dos ninhos. Contas feitas, este ano calcula-se que tenham sobrevivido 48 ou 49 crias que se juntaram à população deste abutre em Portugal, o que significa que “o sucesso reprodutor melhorou ligeiramente, de 0,47 em 2023 para 0,51 em 2024”, nota a equipa, que sublinha que desta forma

“foi atingido outro objetivo estratégico” do projeto LIFE Aegypius Return: que pelo menos metade das posturas resultem numa cria voadora”.

Mas apesar do otimismo, é necessária cautela, sublinham. “Qualquer ameaça significativa numa das colónias – que se mantêm relativamente pequenas e sujeitas a perturbação – pode comprometer esta tendência positiva e a sustentabilidade das populações.”

Abutres-pretos no ninho. Foto: Paulo Monteiro/SPEA

Dos cerca de 109 casais nifidicantes que em Agosto passado já tinham sido contados pela equipa – que tem vindo também a marcar muitas das crias com emissores GPS/GSM – o maior número encontra-se na colónia do Tejo Internacional, onde a espécie se voltou a reproduzir com dois casais em Portugal em 2010, após 40 anos de ausência.

Nesta área protegida colada à fronteira está o maior número de casais, com um total de 61 a 64 observados este ano – incluindo 15 a 16 que optaram pela margem espanhola do Tejo – que tiveram 24 a 25 crias que conseguiram sobreviver até começar a voar. Ou seja, o sucesso reprodutor mantém-se “relativamente baixo”, indica a equipa.

“A monitorização desta colónia transfronteiriça é particularmente difícil, pois, entre ninhos ocupados e ninhos antigos, são já mais de 160”, comentam. Destes, entretanto 12 ninhos foram oportunisticamente ocupados por casais de grifos (Gyps fulvus).

Os trabalhos estão a cargo da Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA) e contam com o apoio dos vigilantes do ICNF – Direção Regional do Centro e da Quercus. “Este ano, o apoio dos ‘Agentes del Medio Natural’ da Junta de Extremadura e da equipa do Parque Natural del Tajo Internacional, em Espanha, foi determinante para o resgate de crias de abutres-pretos em situações delicadas e ainda para a confirmação de alguns dados de monitorização”, explicam os responsáveis do projeto.

Na Herdade da Contenda, no concelho alentejano de Moura, que abriga a segunda maior colónia de Portugal, foram contados este ano 20 a 21 casais e um total de sete crias que resistiram às dificuldades dos primeiros meses. Nesta colónia transfronteiriça, cinco dos casais fizeram ninho no outro lado da fronteira, com uma das crias bem-sucedida na Contienda espanhola pela primeira vez.

Esta colónia é monitorizada pela Liga para a Protecção da Natureza (LPN), em cooperação com a Herdade da Contenda (empresa municipal) e o ICNF – DR Alentejo. “A articulação entre as equipas e autoridades portuguesas e espanholas tem sido fundamental para garantir a proteção e a tranquilidade das aves em todas as áreas ocupadas pelos abutres-pretos durante a época de reprodução”, indica a equipa.

Marcação de uma cria de abutre-preto na serra da Malcata. Foto: Dora Oliveira/ICNF

Já na Serra da Malcata, onde foi encontrada uma colónia de abutres-pretos em 2021, o número de casais aumentou este ano de 14 para 18, mas apesar de todos terem feito posturas, apenas sobreviveram 12 pequenos abutres até chegarem à independência. Esta colónia tem vindo a ser monitorizada num esforço conjunto entre os técnicos e vigilantes do ICNF – Direção Regional Centro e a Rewilding Portugal. “O parceiro local Associação Transumância e Natureza (ATN) tem feito a prospeção de ninhos noutras regiões relativamente próximas e potencialmente adequadas à espécie.”

Mais a norte, no Douro Internacional, fica a colónia mais isolada de todas, que este ano surpreendeu os técnicos do projeto com o aumento registado, de três para oito casais, incluindo três ninhos no lado espanhol da fronteira. “No entanto, todos estes novos casais poderão eventualmente ser muito jovens e inexperientes, pois dos oito casais, apenas cinco fizeram postura e só quatro crias (duas em cada país) sobreviveram até se tornarem independentes”, notam os responsáveis do LIFE Aegypius Monachus.

Cria de abutre-preto marcada com um amissor GPS/GSM, no Douro Internacional. Foto: Palombar

Para lidar com a fragilidade desta colónia, que é a mais distante de outras da espécie – fica a cerca de 100 quilómetros da mais próxima, situada em Espanha – o projeto começou a libertar abutres-pretos aclimatados. Os primeiros quatro foram devolvidos à natureza no início de novembro. A monitorização desta colónia – agora transfronteiriça – conta também com o apoio inter-regional entre a Palombar, a Direção Regional do Norte do ICNF e as equipas do Parque Natural Arribes del Duero.

Quanto à colónia da Vidigueira, descoberta há poucos meses, é a mais ocidental da espécie em todo o mundo. Apesar de não ser possível fazer-se uma monitorização muito próxima por se estar em plena época reprodutora,

o ICNF confirmou a presença de cinco ninhos e a reprodução bem-sucedida num deles. “A cria, um jovem macho, foi marcado com emissor GPS/GSM e batizado de Pousio”, indicam os responsáveis do projeto. 

Em Espanha, onde a equipa prevê a monitorização da espécie em duas zonas de proteão especial – Sierra de Gata y Valle de las Pilas e Canchos de Ramiro y Ladronera – foram contados este ano 153 casais nidificantes e 90 crias bem-sucedidas.

O projeto LIFE Aegypius Return é cofinanciado pelo programa LIFE da União Europeia. É coordenado pela VCF e tem como parceiros a Palombar – Conservação da Natureza e do Património Rural (com cofinanciamento da Viridia – Conservação em Ação), Herdade da Contenda, SPEA, LPN, ATN, Fundación Naturaleza y Hombre, Guarda Nacional Republicana e Associação Nacional de Proprietários Rurais Gestão Cinegética e Biodiversidade.

Inês Sequeira

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