Uma caminhada promovida pela plataforma Uivo e que juntou portugueses, suecos, neerlandeses, bem como figuras da sociedade brigantina, como o fotógrafo e empresário António Sá, o diretor do Museu do Abade de Baçal, Jorge Costa, ou o antigo presidente da Câmara de Bragança, Jorge Nunes.
“Decidi juntar-me por estar solidário com a causa. Procurar, na medida do possível, defender os valores naturais, patrimoniais, identitários deste território, sabendo que há conciliações que têm de ser feitas, prioridades que têm de ser definidas. O meu entendimento é que o país precisa, de facto, de recursos importantes, estratégicos, para a transição energética, para a sustentabilidade da economia, mas também precisa de preservar valores estratégicos ambientais, fundamentais à vida das pessoas e, em geral, da natureza. Há que definir prioridades. Estamos num território de elevada sensibilidade ambiental, com uma biodiversidade muito rica. A biodiversidade é estratégica para a humanidade em todos os ânimos. Devemos evitar que haja estragos e danos significativos neste tipo de territórios”, sublinhou o antigo autarca.
“Por outro lado, o convívio também é importante, o conhecimento de novas pessoas, de novas perspetivas... também me animou um pouco a vontade de conhecer o movimento em si. Não estive desligado do processo mas quis conhecer os protagonistas e esta parte do território, que é belíssimo e muito diverso em termos de natureza”, disse ainda.
Jorge Nunes entende, ainda, que “o que é importante é que haja esclarecimentos”. “E os autarcas também precisam desse esclarecimento. Precisam de ter o conhecimento necessário para ponderar os vários valores em discussão. Acredito que, numa fase inicial, o conhecimento não fosse o suficiente, que as juntas tenham ficado um bocadinho mais despertas para o processo pelo contacto direto com o debate que ocorreu nas suas aldeias e acabaram por tomar uma posição correta da defesa dos interesses essenciais à preservação destes territórios”, sublinhou Jorge Nunes.
O antigo autarca entende que deveria ter sido o Estado a assumir este tipo de processos em vez de o entregar a privados. “O país deveria dispor da cartografia dos recursos naturais e a sua priorização de exploração, de utilização, e adequadamente identificar o potencial. Por outro lado, a prospeção de recursos e a emergência com que o problema agora se coloca, obrigaria, no meu ponto de vista, a que entidades estatais liderassem o processo de prospeção e cadastro. Uma coisa é a exploração, os privados. As concessões devem ser atribuídas onde os recursos têm viabilidade económica de extração. Mas em zonas sensíveis é diferente. Se este processo estivesse a ser desencadeado por uma entidade estatal, estou em crer que atuariam de uma forma muito distinta junto da população, transfeririam mais conhecimento, haveria mais ponderação e a população compreenderia com mais facilidade estes processos. Ao entregar a privados, a suspeição por parte das pessoas é mais elevada porque os interesses em causa são divergentes e não conciliáveis. A população reagiu com uma prova de cidadania interessante, que deve ser fomentada e promovida”, concluiu.
António Sá, por sua vez, fez um “balanço muito positivo”. “É o culminar de um processo, em que houve uma mobilização popular muito grande, muito rápida, muito civilizada e muito bem documentada, o que terá surpreendido os responsáveis pela empresa, que não estariam à espera. Infelizmente, estas empresas contam um bocado com a ignorância das pessoas, com uma faixa etária já bastante envelhecida, pessoas com poucas defesas naturais e esperavam que fosse um passeio.
Essa mobilização popular conseguiu mudar o rumo dos acontecimentos a nível local. Se houve uma mudança de posição das juntas de freguesia e das Câmaras devemos isso à população e às próprias juntas, que se souberam organizar para perceber que o que está em causa é muito grave, não é de ânimo leve”, disse.
Sílvia Riso, agricultora em Vinhais e porta-voz do Uivo, garante que a luta vai continuar.
“Não pararemos por aqui. A caminhada foi muito frutífera no sentido de podermos comparar diferentes pontos de vista. Daqui saem novas vias para continuar nesta luta”, destacou.
Holandeses e suecos juntaram-se à luta
Quem fez questão de marcar presença foram dois casais, um sueco e outro dos Países Baixos, que ponderam vir morar para o Nordeste Transmontano. “. Visitámos diversos locais de Portugal e queremos explorar um local para viver. A primeira paragem foi na Negreda e não fomos embora. Gostámos tanto, a natureza é incrível. O cenário muda a cada dez minutos, estamos abismados.
Queremos um local em que possamos proporcionar uma boa vida à nossa filha, onde ela possa brincar mais à vontade. Queremos uma vida mais autossuficiente. As pessoas aqui vivem com o suficiente e são muito amáveis”, contaram ao Mensageiro Ditmar e Annemieke Van Dam.
No entanto, com minas, nem pensar. “É um ambiente especial e tem de ser protegido. Se houver minas por todo o lado nem pensamos em vir para cá”, sublinham. O mesmo garante Henrique Fernadnes, da Negreda (Vinhais). “Sempre me interessei muito pelo ambiente que nos rodeia, foi o motivo porque decidi voltar para cá de vez”, frisa.
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