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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

sexta-feira, 6 de dezembro de 2024

Júlio do Carvalhal de Sousa Silveira Teles e Meneses - Os Governadores Civis do Distrito de Bragança (1835-2011)

 21.maio.1846 – 8.outubro.1846
VALPAÇOS, 10.3.1810 – CHAVES, 9.6.1872


Oficial do Exército. Proprietário.
Governador civil do distrito de Bragança (1846 e 1856). Deputado (1860, 1861-1864, 1865, 1865-1868, 1870 e 1870-1871). Presidente da Câmara Municipal de Valpaços.
Natural da freguesia de Veiga de Lila, concelho de Valpaços.
Filho de Alexandre Manuel do Carvalhal de Sousa da Silveira Teles Bettencourt e de Rosália Vicência de Frias Meneses.
Irmão de António do Carvalhal de Sousa Teles, fidalgo e cavaleiro da Casa Real, chefe do movimento popular insurrecional em Trás-os-Montes durante a Patuleia; e de Alexandre do Carvalhal Bettencourt da Silveira Teles Noronha, fidalgo cavaleiro da Casa Real, morto durante o cerco do Porto.
Casou com Maria da Piedade Ferreira Sarmento Pimentel de Lacerda e Lemos, de quem teve seis filhos: Filomena da Graça do Carvalhal, Maria Adelaide do Carvalhal; Carolina do Carvalhal, Ifigénia do Carvalhal, escritora; Beatriz Amanda do Carvalhal e César do Carvalhal.
Viúvo, casou em segundas núpcias com Maria das Dores Sarmento Pimentel de Lacerda, sua cunhada, sem geração.
Moço-fidalgo e cavaleiro da Casa Real. Cavaleiro da Ordem da Torre e Espada do Valor, Lealdade e Mérito. Medalha de ouro de comportamento exemplar.

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Nascido em Veiga de Lila, onde viria a administrar o vínculo de Nossa Senhora dos Remédios, ali sito, Júlio do Carvalhal de Sousa Teles estudou Filosofia Racional e Moral no conimbricense Real Colégio das Artes, por meados da década de 1820, antes de assentar praça voluntariamente no Regimento de Cavalaria n.º 9, em agosto de 1827, com apenas 17 anos. No ano seguinte, integrou o batalhão académico organizado em Coimbra com o propósito de apoiar as forças liberais contra o Exército miguelista. Emigrou então, com outros opositores ao regime, para a Galiza e depois para Southampton, Inglaterra, convivendo nesse período com algumas das principais figuras do pensamento político português, como Alexandre Herculano, Almeida Garrett e Passos Manuel.
Convicto liberal, em março de 1829, participou na defesa da ilha Terceira, último bastião do exército libertador, onde se conservou até julho de 1831. Em 8 de julho de 1832, participou no desembarque das tropas liberais no Pampelido, Mindelo, e acompanhou o duque da Terceira pelas províncias do Norte até à convenção de Évora Monte, que veio pôr fim à guerra civil. Durante este tempo, participou em dezoito combates e batalhas, em muitas delas prestando um contributo decisivo, o que lhe valeu diversos louvores. Em reconhecimento dos serviços relevantes prestados na Batalha de Ponte Ferreira, em 29 de setembro de 1832, foi-lhe atribuído o grau de cavaleiro da Ordem da Torre e Espada do Valor, Lealdade e Mérito.
Deste período da sua vida, diria na Câmara dos Deputados ter gasto “no exílio e nos campos de batalha os anos de juventude próprios para cultivar e aprimorar o espírito [...] importei-me muito com a eloquência dos factos e pouco com a das palavras.
Consumi a primavera da vida em defesa da liberdade [...] e julgo ter feito por ela e pela virtuosa dinastia que ocupa o trono dos nossos reis valiosos serviços [...] à força de trabalhar e sacrificar-me gastei a saúde e impossibilitei-me para o estudo das ciências”.
Por ofício de 12 de setembro de 1836, foi nomeado chefe de Estado-Maior do Governo Militar da Província de Trás-os-Montes e mais tarde exerceu as funções de governador do forte de São Neutel, em Chaves, por altura da guerra civil da Patuleia (1846-1847), servindo então de intermediário das conversações entre o seu irmão António, à época chefe do movimento popular em Trás-os-Montes, e o 1.º conde de Vinhais, Simão da Costa Pessoa, que comandava as tropas fiéis a D. Maria II.
Por 1837, encontrava-se gravemente doente, padecendo de hemoptise periódica, dores reumáticas e problemas no sistema nervoso, contraídos em serviço, sendo julgado incapaz de serviço ativo. Em sequência desta moléstia, pediu nesse mesmo ano para passar a adido à 1.ª Companhia de Veteranos da 5.ª Divisão Militar. Em 1838, depois de vários atestados médicos corroborarem o seu precário estado de saúde, uma junta médica militar declarou-o “incapaz de serviço ativo”.
Terminada a sua carreira militar, enveredou na política ativa. Foi nomeado governador civil de Bragança, cargo de que tomou posse a 21 de maio de 1846, exercendo essas funções até 8 de outubro seguinte; e segunda vez por decreto de 23 de maio de 1856, tomando posse a 23 do mês imediato, exercendo o cargo até 13 de julho de 1857. Logo no início do seu primeiro mandato, entre junho e julho de 1846, no âmbito da revolta da Maria da Fonte, Júlio do Carvalhal viu-se a braços no seu distrito com guerrilhas miguelistas.
Foi depois eleito presidente da Câmara Municipal de Valpaços, conseguindo nestas funções, por decreto de 27 de março de 1861, a elevação daquela localidade a vila. E foi também deputado, precisamente pelo círculo de Valpaços, a primeira vez em 1860, e a partir daí reeleito sucessivamente até à legislatura de 1870-1871, quase sempre recolhendo mais de 90% dos votos. Integrou as comissões de Agricultura (1860, 1861 e 1863), Obras Públicas (1861-1863 e 1865), Guerra (1865, 1867 e 1870) e Recrutamento (1865).
No Parlamento, destacou-se pela defesa dos interesses da sua província natal, admitindo mesmo na Câmara dos Deputados que ali pouco mais fizera do que “pedir estradas e melhoramentos materiais para a província de Trás-os-Montes”, por considerar que aquela era a região do País mais desfavorecida em termos de vias de comunicação. Não obstante os múltiplos projetos que apresentou neste domínio, incluindo um relativo à construção da estrada do cais de Cabanas a Bragança e outro para a estrada de Mirandela ao cais do Pinhão, a que se juntam as numerosas interpelações ao ministro das Obras Públicas e requerimentos ao Governo pedindo informações sobre estudos e andamentos de planos naquela província, a verdade é que pouco ou nada se concretizou, levando-o a afirmar, numa intervenção em abril de 1866, que apesar de todas as diligências, Trás-os-Montes não tinha ainda uma única estrada completa. Com António Alves Martins e José Luís Alves Feijó, tomou a iniciativa de propor a construção de uma linha férrea no distrito de Bragança e foi o primeiro deputado a dedicar-se à questão do caminho-de-ferro do Douro, do Porto à Régua. Afirmaria depois que votaria favoravelmente pela construção de caminhos-de-ferro em todas as localidades do País, porque o que neles se gastava não era desperdício, mas “semente que se lançava à terra, para depois produzir”.
Outra matéria que o preocupou especialmente diz respeito à administração local e regional. Neste domínio, destacam-se os projetos que apresentou para alterar a forma de eleição dos procuradores-gerais às Juntas de Distrito (1862); para a criação do concelho de Mondim de Basto (1666); para a reforma de algumas disposições do Código Administrativo relacionadas com as eleições municipais (1870); e um projeto que estabelecia que as licenças de porte e uso de armas passariam a ser autorizadas pelas administrações dos concelhos, mediante informação dos regedores das paróquias (1871). Na discussão do projeto de lei sobre a reforma da administração civil, em 1867, defendeu a existência em cada província de um só governo civil e um só governo eclesiástico. De resto, questões relacionadas com a administração e as eleições de diferentes concelhos de Vila Real levá-lo-iam a desenvolver acesas discussões com outros deputados de Trás-os-Montes.
Abandonando o Parlamento em 1871, recolheu-se à sua propriedade em Vilar de Nantes, concelho de Chaves, onde faleceu no ano seguinte, a 9 de junho de 1872, aos 62 anos.

Súplica de Júlio do Carvalhal a Dona Maria II para passar a adido à 5.ª Divisão Militar e deixar o serviço ativo, dada a sua saúde precária e os serviços prestados ao País (1837)

Júlio do Carvalhal de Sousa Silveira Teles, fidalgo cavaleiro da Casa Real, cavaleiro da Ordem da Torre e Espada de Valor, Lealdade e Mérito, deputado substituto às Cortes Gerais e capitão de Artilharia, servindo de chefe de Estado-Maior da 5.ª Divisão Militar.
Diz que tendo arruinado inteiramente a sua saúde com os trabalhos e incómodos que sofreu na campanha contra a Usurpação, se acha hoje impossibilitado de poder continuar em serviço ativo. Uma hemoptise, umas frouxidões nervosas e de cérebro e dores reumáticas, eis as moléstias que o suplicante adquiriu na defesa da Pátria e do Trono de Vossa Majestade: a primeira com o acesso do vómito na Expedição da Ilha Terceira às Ocidentais dos Açores; as duas imediatas foram provenientes de um tifo que sofreu na Cidade Eterna; e a última, dos frios e trabalhos que suportou em toda a Campanha. (...)
Agora se vê, com mágoa, tolhida a sua brilhante carreira militar que encetou com honra e tem sustentado com glória; mas a sua habitual languidez e as moléstias que a geram não só o inibem de poder continuar o serviço militar, mas até de poder adotar outro algum modo de vida. O suplicante, Senhora, pertenceu em 1828 à Divisão do Porto, imigrou pela Galiza, foi defensor da Ilha Terceira em todo tempo da sua crise, teve parte na Expedição às Ilhas Ocidentais, desembarcou nas praias do Mindelo, defendeu o Porto e acompanhou o Duque da Terceira pelas províncias do Norte até Évora Monte. Em todo este tempo, assistiu a dezoito combates ou batalhas em favor da Liberdade; coube-lhe não pequena parte em muitas delas e pode jactar-se de que em algumas ninguém concorreu mais do que ele para a glória e triunfo das Armas Libertadoras, o que provará, sendo preciso, com atestados dos mais acreditados oficiais do Exército. O suplicante não deu a vida pela Pátria, mas ofereceu-lha, arruinando por ela a sua saúde, e por ela vê de perto a meta da sua existência. O soldado que oferece a vida à Pátria e por ela arruína a saúde e encurta a existência, é digno do pão da Pátria. E é debaixo destes princípios de sã e reta justiça que o suplicante vai respeitosamente implorar a Vossa Majestade a graça de mandar que seja adido à 5.ª Divisão Militar, ordenando para este fim que seja inspecionado pela Junta de Saúde Militar que vai reunir-se em Chaves no próximo mês de janeiro.
O suplicante, Senhora, ufano com seus serviços, seguro na sua justiça e confiado nos sentimentos paternais de sua Augusta Soberana, espera que Vossa Majestade defira a um soldado benemérito pretensão tão justa.
Chaves, 10 de dezembro de 1837
Júlio do Carvalhal de Sousa Teles

Fonte: Arquivo Histórico Militar, processo individual de Júlio do Carvalhal de Sousa Silveira Teles e Meneses.

Ofício de Júlio do Carvalhal sobre o comportamento de alguns párocos de Santalha (13.6.1846)

Tenho a honra de passar às mãos de V. Exa. para ser presente a Sua Majestade a Rainha cópia de um ofício que me dirigiu o administrador do concelho de Santalha acerca do irregular comportamento de alguns párocos daquele concelho, e especialmente do abade de Quirás, que se acha colado naquela igreja.
Sobre todos eles já oficiei ao governador deste Bispado para lhes tirar as igrejas àqueles que são simplesmente encomendados, mas pelo que respeita ao abade de Quirás, entendo que devo dirigir-me a V. Exa. para providenciar, visto achar-se colado.
Outrossim também é necessário que V. Exa. providencie acerca do juiz ordinário do Julgado de Santalha, que não convém continuar a exercer jurisdição máxima na presente ocasião, em que têm de se instaurar alguns processos contra os implicados na revolta miguelista, e da qual foi um dos instigadores.
J. do C. S. Teles

Fonte: Arquivo Distrital de Bragança, Governo Civil de Bragança, Correspondência Expedida, cx. 10, liv. 34, fl. 90, v. 91.

Fontes e Bibliografia
Arquivo Distrital de Bragança, documentos vários.
Arquivo Histórico Militar, Processo individual de Júlio do Carvalhal de Sousa Teles.
Boletim Official de Bragança, Bragança, 1846.
Diário da Câmara dos Deputados, 1860-1875.
ALVES, Francisco Manuel. 2000. Memórias arqueológico-históricas do distrito de Bragança, vol. VII. Bragança:
Câmara Municipal de Bragança / Instituto Português de Museus.
LOPO, Joaquim de Castro Lopo. 1954. O Concelho de Valpaços. Valpaços: Ed. do Autor.
MARTINS, A. Veloso. 1978. Monografia de Valpaços, Porto: Ed. do Autor.
MÓNICA, Maria Filomena (coord.). 2004. Dicionário Biográfico Parlamentar (1834-1910), vol. II. Lisboa: 
Assembleia da República.
Geneall – Portal de Genealogia (disponível em geneall.net).

Publicação da C.M. Bragança

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