Há quem tenha visto uma pequena oportunidade para o comércio, neste rumar de gente a Podence, tanto durante o Entrudo, como no resto do ano. Egas Soares tem 71 anos e é proprietário de um espaço onde se vende de tudo um pouco, grande parte das coisas alusivas aos caretos.
“Tenho ali um botecozinho. Eu sei fazer licores, sei fazer vinhos. E tenho a casa dos licores. Depois tenho também um bocado de artesanato, faço uns bonequinhos muito lindos que pinto, muito rudimentares”, disse.
Quem também viu uma oportunidade nesta tradição foi Sofia Pombares. A artesã, de 25 anos, abriu um atelier em Podence, onde confecciona as máscaras e os fatos coloridos que os caretos utilizam. A aprendizagem começou em 2017 e tem valido muito a pena porque as encomendas são muitas.
“Não consigo mesmo ter mão para tantas encomendas. Há pessoas que querem um fato só porque sim. No outro dia tive uma senhora que o marido fazia anos e o marido gostava muito de ter um fato e comprou um fato”, referiu a artesã.
Além de ser pouca a gente que sabe produzir fatos e máscaras, neste momento, também não são assim tantos os que ainda se vestem de careto. A tradição esteve muito adormecida mas, depois do 25 de Abril de 74, reavivou. Trazê-la até aos dias de hoje foi uma aventura complicada e é com muito espirito de missão que ainda há quase 30 pessoas que pertencem ao grupo de mascarados. Egas Soares é um dos integrantes do grupo. É o membro mais velho e não é propriamente da aldeia. É natural do Peso da Régua e veio para Trás-os-Montes porque se apaixonou por uma habitante de Podence. Entretanto… apaixonou-se também pela tradição.
“Num belo dia de manhã, numa visita do ex e falecido presidente Jorge Sampaio, quando veio ali ao Azibo, levantei-me e vim tomar o pequeno almoço, vim tomar a minha bicazinha da manhã e comprar um maço de tabaco. Passaram uma meia dúzia de artistas que me desencaminharam. Eu nunca me tinha vestido. Viemos para a adega do Tio Albano, que Deus tenha-nos um bom lugar, e ele emprestou-me um fado dele. Tive uma praxe, tive a beber uma canequinha de vinho da pipa de cada um deles, eram sete, foram sete canecas que tive a beber, e fomos para o Azibo. Portanto, a partir daí, saí mais uma ou duas vezes com os fatos emprestados, até que por fim fiz um fato para mim”, contou.
José Correia é da aldeia e veste-se desde criança. A tradição mudou muito, mas ainda bem que assim foi. "Temos que receber as pessoas, porque as pessoas vêm cá para nos fotografar, temos que ter paciência para elas, para os miúdos, principalmente, interagir com os meninos. Tinha que ser assim, também tínhamos que evoluir um bocadinho, não podíamos ser tão fechados", vincou.
Tal como diz este careto… as coisas mudaram, mas é com carinho e agrado que este reconhecimento chegou a Podence e que milhares de pessoas por ali passam. Cecília Reis é de Podence e não podia estar mais agradada por ver tanta gente passar pela aldeia.
António Carneiro é o presidente e criador da Associação Grupo de Caretos de Podence, que existe desde 2002. É um dos grandes responsáveis pela distinção da UNESCO e não podia estar mais orgulhoso do que se conseguiu.
“Temos o nosso site e temos uma aplicação em que conseguimos ver quem é que visita o nosso site, de toda a parte do mundo. E nós no intrudo temos gente de toda a parte do mundo, dos Estados Unidos, da China, do Japão, da Inglaterra, uma coisa fenomenal. E nós estamos ainda...é três meses do evento e 80% do alojamento em Trás-os-Montes está praticamente lotado”, garantiu.
O aniversário é celebrado no sábado, com várias actividades, como a inauguração da Oficina do Careto, a apresentação do livro “Ser Careto Rumo à UNESCO” e da obra “O Crepitar da Terracota”. Há ainda uma cerimónia evocativa, bolo de anos, poesia e animação de rua.
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