Formil pertence à freguesia de Gostei, juntamente com a aldeia de Castanheira e o Fundo da Veiga. Dista 8km a Oeste de Bragança, implantada na meia encosta que sobe para a serra da Nogueira, a 850 mt de altitude. As Fragas do Castro, ou Feira dos Mouros, sitas num cabeço sobranceiro ao povoado, ‘falam-nos’ de presença humana do tempo Celta dos Zoelas. Em meados do século XIII, Filmir era foreira do rei D. Afonso III, com alguns casais adstritos ao Mosteiro do Castro de Avelãs. Surge individualizada como freguesia da comarca de Bragança, enquanto as outras povoações formavam um concelho de pertença ao Mosteiro do Castro.
Com a abolição deste em 1545, as três aldeias juntam-se em concelho, extinto em 1836. A Igreja, de estrutura simples e rústica, e orientação Este-Oeste, está implantada no interior do povoado, numa planura adaptada ao declive do terreno, ladeada por adro. Quem observa a simplicidade seiscentista do frontispício, surpreende-se com a beleza e riqueza setecentista do interior. A nave contém coro-alto, compartimento de batistério e púlpito policromado balaustrado, de supedâneo de granito sobre mísula decorada, encimado por dossel com pomba do Espírito Santo. Dos santos expostos, referência para São Joãozinho (Papa São João I), com festa a 27 de maio. Dois arcossólios laterais vazados de cada lado indicam disposições posteriores nos altares barrocos de talha dourada, de colunas salomónicas e capitel coríntio, adossados colateralmente às paredes do arco triunfal e dedicados a Nossa Senhora de Fátima e ao Sagrado Coração de Jesus. O arco triunfal, de volta perfeita sobre impostas, está revestido a talha dourada no extradorso, prolongado às paredes que acolhem os altares, coroado por coração entre volutas.
No teto sobressaem dez telas emolduradas pintadas no século XX. Referenciam a ligação entre o Antigo e o Novo Testamento, ou a Aliança cumprida em Jesus Cristo, com os profetas maiores Isaías-Jeremias-Ezequiel-Daniel e os evangelistas Mateus-Marcos-Lucas-João. Originalidade de forte mensagem bíblica judaico-cristã. O espaçoso presbitério acolhe requintado altar-mor rocaille de três eixos, policromado e decoração dourada com predomínio de concheados e acantos enrolados. Se a mesa das celebrações, com data de 1793, segue o registo em urna dos altares colaterais, a adossada ao retábulo é paralelepipédica e moldurada, em marmoreado fingido, onde assenta sacrário com porta de registo eucarístico relevado. Entre pilastras a azul abre-se profunda tribuna, de moldura dourada recortada e arco de volta perfeita, coroado por resplendor. De revestimento apainelado e cúpula de um quarto de esfera, com trono expositivo escalonado de quatro degraus, expõe-se o Orago São Sebastião, de pequena e jovial graciosidade, encimado por Coração Crístico dourado em resplendor; com Festa a 20 de janeiro. Nos eixos laterais, entre colunas de fuste liso a rosa, com marcas douradas e de capitéis coríntios, constam imagens de Nossa Senhora da Encarnação com o Menino e de Santo Amaro, sobre mísulas e de cobertura concheada. No coroamento do retábulo destacam-se a imagem do Menino Jesus de Praga e de Maria em criança, além de dois anjos alados sobre cornija.
Outra distinção é o conjunto de vinte pinturas em caixotões no teto do presbitério.
Damião Bustamante também passou por Formil? Sem registos escritos que o comprovem, a sua marca pictórica a óleo parece marcar presença. Pintor de Valladolid, instalado nas terras Nordestinas na segunda metade do século XVIII, notabilizou-se nas pinturas hagiográficas em diversas Igrejas, com especial destaque para a sacristia da Igreja-Basílica de Outeiro. Depois secundado pelo filho João, verifica-se a sua marca nas igrejas de Gimonde, Quintela, Viduedo e Vila Franca. Se nas últimas duas igrejas o registo se centra nos Apóstolos, na de Formil, à semelhança de Gimonde, o enfoque vai para os Mistérios Gozosos, Dolorosos e Gloriosos do Santo Rosário, com acrescento de S. Luzia, S. Miguel, S. Bárbara, S. Jerónimo e S. Catarina.
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