O céu estava nublado, cinzento-escuro e o vento fazia tremer, mas dentro dos fatos e com as máscaras, os caretos são imparáveis.
Este sábado, os Reis de Salsas voltaram a comemorar-se e as ruas da aldeia do concelho de Bragança encheram-se de mascarados da região, mas também de Espanha.
Mesmo quem já não vive na localidade, faz questão de estar presente. Luís Cabral mora há mais de 20 anos em Lisboa, mas a tradição fá-lo regressar à terra. “Uma tradição que nos faz regressar às nossas origens, à nossa essência da aldeia, da infância que se viveu. Quando me visto de careto sinto coisas que de outra maneira não as conseguiria fazer e não sou apenas eu, há mais alguma coisa comigo. Em criança, chegava a um ponto que desejava que o ano passasse rápido para voltar ao dia 1 de Janeiro, que era a primeira noite de caretos”, contou.
No desfile pelas ruas da aldeia também participaram os caretos de Grijó. Há vários anos que o fazem, pela amizade, mas também para preservar a tradição. “Amizade, manter as tradições, porque há cada vez menos gente e tentamos que não se perca esta tradição. Preocupa-me, porque a natalidade é baixa e a mortalidade é alta. Temos perdido caretos”, adiantou o representante André Seca.
Mas nem todos os caretos participantes eram da região. E bem distintos do que se vê por aqui. É o caso dos de Lazarim, disse quem o sente na pele, Manuel Pereira. “Para nos divertirmos e para nos darmos a conhecer. As nossas máscaras são únicas no país. Somos os únicos que fazemos máscaras em madeira, que não têm nenhum tipo de pintura, são feitas em peças únicas e os próprios fatos também se diferenciam, porque fazemos fatos com coisas que apanhamos no campo, como restos que sobram da agricultura”, explicou.
Do país vizinho participaram três grupos, um deles de Alija del Infantado. Vestidos de branco, com peles às costas e cabeças de animais, também se distinguiam dos restantes. “Cada localidade tem seu traje, que era o que se usava naquela época. Usamos sapatos de esparto, calças de pele de cabra e ovelha, camisa velha de linho e capa de ovelha natural”, esclareceu Victoriano Bilhar.
No total, participaram 18 grupos. Filipe Caldas, da organização, estava satisfeito por dar continuidade à tradição, que este ano atraiu mais visitantes que nos anos anteriores. “Este ano em Salsas está muito mais gente do que nos últimos quatro ou cinco anos. O que estamos a mostrar é o que temos de bom e as pessoas gostam e vêm outra vez. É genuíno, não quer dizer que seja como há 100 anos, mas está um bocadinho melhor, porque temos os grupos de “, realçou.
O desfile terminou com a queima de um boneco que simboliza o Ano Velho.
As comemorações contaram ainda com a apresentação do livro “Pretérito Imperfeito”, do professor e investigador António Tiza. A obra dá a conhecer tradições que se mantêm.
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