(Colaborador do "Memórias...e outras coisas...")
Numas terras que orgulho deveriam ter em ser bilingues, cada vez há mais «parabenizadores», mesmo em cargos importantes, que deveriam saber que «parabenizar» é uma invenção sem lógica do chamado «Português Brasileiro», criação para a qual nem os Linguistas Brasileiros encontram lógica alguma. E nós, considerando que erudição é, lá vamos tratando de importar o que importado não deveria ser...
Nada me move contra estrangeirismos ou, até, neologismos. As Línguas são «seres vivos», em permanente evolução. Por vezes, adoptam ou criam palavras, ou por não existirem equivalentes na própria Língua, como são bons exemplos o «croissant» ou a «pizza», ou por ser mais fácil a pronúncia original do que a sua correspondente, como será bom exemplo «net», que ninguém designa como «rede». Esta evolução deve acontecer, porém, sem a existência de ilogismos ou palavras sem nexo algum.
O que é o caso de «parabenizar». E tudo começa por causa do sufixo [-izar], uma importação mais do Latim, a partir de [-izare]. Sufixo este cujo significado original é «tornar», «fazer» ou «transformar em». O qual, na Língua Portuguesa, evoluiu para duas formas distintas, [-izar] e [-isar]. Sendo que, grosso modo, a segunda forma, [-isar], é utilizada nas formações verbais a partir de substantivos ou adjectivos cujo radical contém a forma [is]. Como serão bons exemplos, «liso – alisar», «aviso – avisar», «improviso – improvisar» ou «análise – analisar», havendo, contudo algumas raras excepções, como «catecismo – catequizar». Nos restantes casos, a forma correcta é [-izar], sendo bons exemplos «social – socializar», «evangelho – evangelizar», «eterno – eternizar» ou «capital – capitalizar». Ou seja, «alisar» é «tornar liso», «eternizar» é «transformar em eterno», «avisar» é «fazer aviso».
Posto isto, e é por isso que nem os Linguistas Brasileiros o entendem, «parabenizar» seria «tornar parabéns», «transformar em parabéns» ou «fazer parabéns». Em qualquer uma das opções, «não bate a bota com a perdigota», sendo, por isso, o «parabenizar» um autêntico disparate! Vai «parabenizar-me» por esta humilde explicação? Não o faça, por favor…
Sempre poderá «felicitar», «congratular», «saudar» ou, até, limitar-se ao mais comum «dar os parabéns». Ou «parabienes», se pelo Mirandés optar. Por Mirandés mencionar, não estou a ver o mesmo a ser corrompido com um «parabienizar»...
Nada me movendo contra a variante Brasileira do Português. Aliás, convosco partilho algo. Tive uma namorada Brasileira. A qual, quando em Portugal, substituía o «banheiro» por «casa-dji-bãio». Dizia-lhe: «Podes dizer banheiro, não há problema algum». Naquele seu estilo muito peculiar, respondia-me, a sorrir: «Ué, tou em Portugau, tem dji adaptá»… E agora tenho de ir ao «banheiro»… Ops, à casa-de-banho, que em Portugal estou… E não quero o «nosso» Luís (de Macedo) Vaz de Camões às voltas no túmulo...
Já agora, a forma verbal correcta, em Português, se eruditos quiserem parecer, embora ninguém a use, é parabentear...
Rui Rendeiro Sousa – Doutorado «em amor à terra», com mestrado «em essência», pós-graduações «em tcharro falar», e licenciatura «em genuinidade». É professor de «inusitada paixão» ao bragançano distrito, em particular, a Macedo de Cavaleiros, terra que o viu nascer e crescer.
Investigador das nossas terras, das suas história, linguística, etnografia, etnologia, genética, e de tudo mais o que houver, há mais de três décadas.
Colabora, há bastantes anos, com jornais e revistas, bem como com canais televisivos, nos quais já participou em diversos programas, sendo autor de alguns, sempre tendo como mote a região bragançana.
É autor de mais de quatro dezenas de livros sobre a história das freguesias do concelho de Macedo de Cavaleiros.
E mais “alguas cousas que num são pr’áqui tchamadas”.
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