(Colaborador do "Memórias...e outras coisas...")
Para os que leram os capítulos que este antecederam, deverão ter percebido que o «Mendo Bofinho» que construiu o magnífico Castelo de Algoso, foi o neto, não o avô. Também deverão ter percebido que os ditos «Bofinho» eram oriundos “d’ua família du catantchu’e”, e afinal, eram primos dos Bragançãos. Os tais que, efectivamente, mandavam nestas terras. Por isso surgiria uma troca do dito Castelo de Algoso pela vila de Vimioso. Que era de um Braganção…
Troca essa que já ocorreria com o filho do dito «Bofinho», que detentor ficou sobre os direitos do castelo que era do pai. Lá tendo ficado o novo «Bofinho», de seu nome Rodrigo, a mandar em Vimioso. Embora também mandasse noutras zonas mais afastadas… Rodrigo esse com o qual, mais uma vez, dizem que por intermédio de D. Sancho I, seria trocado Vimioso pelas herdades da Cernadela, magnífica aldeia anexa da freguesia dos Cortiços, no meu concelho «sem história». Diz a documentação que Cernadela se situava nas «Terras de Ledra», o que verdade é. Terras essas que eram dos… Bragançãos! Aliás, um deles, neto do grande Fernão Mendes de Bragança, «o Bravo», até ganharia, à custa disso, a alcunha de «o Ledrão» (que alguma historiografia maliciosa corrompeu em «o Ladrão»… porque a nossa historiografia «oficial» sempre tentou deturpar a importância dos Bragançãos e das «Terras de Bragança»!).
Terras de Cernadela que ficariam na posse, por herança, do filho do dito Rodrigo «Bofinho». E que acabariam por ser adquiridas por uma importantíssima figura das «Terras de Bragança», o seu tio. No entanto, diz-nos a tradicional historiografia que as mesmas foram usurpadas ao rei pelo dito tio. Que mentira mais descarada, por entre tantas outras, usadas para denegrir os Bragançãos e os seus familiares! Tio esse que, conjuntamente com o irmão, criariam a ilustríssima linhagem dos «de Bornes», pela ancestral ligação que já por lá havia desde os primeiros «Bofinho», no início do século XII.
Um dos «de Bornes» até seria uma das testemunhas elencadas no presumível casamento de D. Pedro com D. Inês de Castro, em Bragança... Um outro «de Bornes» tomaria, por doação, em «Terras de Ledra», a aldeia de Mascarenhas. A partir daí largando o toponímico apelido «de Bornes», substituindo-o pelo «de Mascarenhas», início dando à célebre linhagem dos «Mascarenhas», da qual sairiam Vice-Reis, Governadores, e até as conhecidas Ilhas Mascarenhas, (re)descobertas pelo futuro Vice-Rei da Índia. Facto que não teria acontecido sem… «sangue bragançano»!
E, ainda, o Castelo de Algoso… Que passaria para a Ordem do Hospital, os Hospitalários, futura Ordem de Malta, “dize que” por doação de D. Sancho II, o chamado «rex inutilis», o «rei inútil». O que me parece mais uma falácia… Mas “prontus’e”… Também diz, a «oficial cartilha», que Mogadouro e Penas Róias foram doadas aos Templários por D. Afonso Henriques, o que também é uma descarada mentira... A verdade é que, em Algoso, seria constituída uma Comenda Hospitalária riquíssima, a Comenda de S. Sebastião, cujo primeiro comendador foi o marido de... uma «de Bornes», descendente, como tal, do construtor do Castelo de Algoso, o seu avô!
A Comenda de Algoso absorveria, posteriormente, a mais antiga e rendosa Comenda de S. Cristóvão, situada que era na actual aldeia de Malta, no meu concelho «sem história». Daí ter tido o concelho de Algoso um enclave no meu concelho, situação que apenas se alteraria na primeira metade do século XIX, quando o concelho de Algoso foi extinto pelas Reformas Administrativas de Mouzinho da Silveira.
As “cousas” que estas terras guardam! Sem elas, sem os primos dos Bragançãos, os «Bofinho», e sem os seus descendentes «de Bornes», não teria existido a linhagem dos «Mascarenhas» e, como tal, os Marqueses de Fronteira. E sem estes descendentes de «sangue bragançano», não haveria o seu sumptuoso palácio do século XVII, que ainda hoje existe em Lisboa… “Bá”, e não teríamos as Ilhas Mascarenhas… E muitas outras “cousas” mais… Já agora, para ilusões não criar, alguns dos actuais e conhecidos «Mascarenhas» destas terras, nomeadamente os de Macedo, nada têm a ver com isto, que a sua origem é outra...
“Sêmus uas terras du catantchu’e, que bu-jiu digu ou’e! Um home inté fica assarapantadu’e!”
(Nota adicional: o «culpado» de ter trazido aqui o Castelo de Algoso e os eventos associados, nomeadamente as terras de Cernadela, é um dos nossos amigos aqui das «Memórias», um entusiasta com o «seu Castelo do Alto do Prado». Sendo esta a minha singela forma de o incentivar a não desistir do seu entusiasmo)
(Foto: Retirada da página "Vimioso, concelho", e cujo autor, pela assinatura, será Aníbal Gonçalves)
Rui Rendeiro Sousa – Doutorado «em amor à terra», com mestrado «em essência», pós-graduações «em tcharro falar», e licenciatura «em genuinidade». É professor de «inusitada paixão» ao bragançano distrito, em particular, a Macedo de Cavaleiros, terra que o viu nascer e crescer.
Investigador das nossas terras, das suas história, linguística, etnografia, etnologia, genética, e de tudo mais o que houver, há mais de três décadas.
Colabora, há bastantes anos, com jornais e revistas, bem como com canais televisivos, nos quais já participou em diversos programas, sendo autor de alguns, sempre tendo como mote a região bragançana.
É autor de mais de quatro dezenas de livros sobre a história das freguesias do concelho de Macedo de Cavaleiros.
E mais “alguas cousas que num são pr’áqui tchamadas”.

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