domingo, 19 de outubro de 2014

Já estamos cozidos

Luís Alves de Fraga
Vem-me à lembrança a história da rã que, se metida em água a ferver, dá um salto e escapa-se da cozedura imediata, mas, se metida em água fria, que alguém aquece lentamente, se vai habituando à subida de temperatura e acaba, sem dar por isso, cozinhada nessa água, a princípio tépida e no fim, fervente. E vem-me à lembrança por causa dessa extraordinária manifestação “espontânea” e “inorgânica” ocorrida poucos meses depois da tomada de posse deste Governo de coligação eleito pelos votos de muitos portugueses! A manifestação que, por todo o país, pôs multidões na rua foi o “salto da rã escaldada”! Os governantes estiveram-se nas tintas para o salto; “arrefeceram a água” puseram a rã lá dentro e foram aumentando a temperatura até cozer os Portugueses sem qualquer queixume destes!

É verdade! Foi-se embora a Troika, mas, função disto e daquilo, tudo continuou a piorar – só melhorando aos olhos vesgos dos governantes incapazes de olhar a realidade à nossa volta – e estamos agora pior do que nunca!
Justificações?! Há-as em abundância, mas essa abundância não põe pão na mesa dos mais desfavorecidos, nem lhes repõe os cortes salariais ou de pensão e, menos ainda, arranja emprego aos desempregados!
A “Grande Rã” que, por acaso, dá pelo nome de Portugueses, deixou-se cozer no caldeirão da austeridade!

E, pergunto-me: - A discórdia no Partido Socialista e a ruptura no Bloco de Esquerda e o eurodeputado, eleito por um partido, que agora funda outro, não serão “bons toros de madeira” deixados no fogo que aquece o “caldeirão” onde está ainda a cozer a “Grande Rã”?
É que não precisamos de cisões partidárias nem de mais partidos! Do que precisamos é de quem ouse tornar slogan os versos de José Afonso: «O que faz falta é animar a malta»! Animar a malta a vir para a rua, a subir as escadas do Parlamento, a desobedecer, tendo à frente as forças de segurança civil, a não dar aulas, a atender nos hospitais sem cobrar taxas moderadoras, numa palavra: a rebentar com o “caldeirão” e com a “fogueira” que aquece a “água” onde nos estão a acabar de cozer!

Mas, esta minúscula “célula” da “pele” da “Grande Rã” que sou eu e o meu escrito, acaba de reconhecer que já pouco ou nada resta do que era esse “bicho” capaz de se manifestar espontaneamente, de subir escadarias do parlamento, de saltar e esbracejar, de gritar!
Já estamos cozidos! E bem cozidos!

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