Luís Pires foi um dos pioneiros em Portugal com o Ensino Profissional. Criou em Bragança a Escola Profissional Prática Universal há 25 anos.
Começou numa casa na Estacada, em outubro de 1989. Apesar de o presente ser cinzento, acredita num futuro risonho.
Mensageiro de Bragança: Como surgiu a EPPU, pioneira no ensino profissional na região?
Luís Pires: Na altura já existia a Escola Prática Universal, que teve um papel preponderante na região, com cursos como Dactilografia, Contabilidade ou Desenho da Construção Civil. Entretanto, vi uma notícia no jornal em que o professor Joaquim Azevedo apelava à sociedade civil para, quem tivesse alguma experiência, dirigirem a um gabinete, no Porto, para conversar. Assim fiz. Falei com ele e com o professor Matias Alves. Elaborou-se o processo, que foi aprovado, e a escola abriu. Foi inaugurada pelo Secretário de Estado Dora e Cunha. Iniciámos com poucos alunos, com os cursos de Contabilidade e Desenho de Construção Civil (oito em cada). Correu bem, chegaram ao fim meia dúzia deles. O segundo ano já correu melhor e, no terceiro, já tivemos de adaptar a escola a outro tipo de estruturas, devido à procura. A decisão era crescer ou morrer. Encontrámos estas instalações e em maio de 1992 mudámos para aqui, com a esperança de aqui ficar uns cinco anos, oito no máximo, e ir para outras instalações. Mas a conjuntura alterou-se e chegámos a um ponto em que a procura excedia muito a nossa oferta. Tivemos de fazer obras. Entretanto, em 2004 surgiu a oportunidade de, num grupo de escolas em que nos incluíamos, avançámos para o nível 4 de qualificação. Queríamos harmonizar as habilitações com Espanha, o que não acontece com licenciaturas. Meia dúzia de escolas desenhámos o currículo dos CETs (Cursos de Especialização Tecnológica), que fomos pioneiros a lançar, mesmo em todo o país.
Apresentámos o plano de estudos de Condução de Obra, que foi aprovado e ainda existe.
MB.: Foram uma aposta ganha?
LP.: Sim, caíram muito bem aqui na escola. Tivemos um aluno que até ganhou um concurso para a Câmara do Porto, que tinha o nível 3, entrou e ensinou os colegas a trabalhar e tem sido promovido desde então. E tivemos outros casos de sucesso. Demos três ciclos de formação e foi uma pena a forma como decidiram retirar-nos esses cursos, transitando para o ensino superior. Nem um telefonema, nem um fax nem um mail. Foi mesmo uma pena. Mandei duas turmas completas para o Politécnico, com 22 alunos cada.
Eles já estavam a identificar os CETs como quarto ano. Os primeiros que entraram, em condução de obra, têm estado a combater o mercado. Acarinhavam o curso. Se não tivessem acabado, talvez a escola tivesse arranjado outras alternativas que estavam a ser pensadas.
MB.: Em Rebordãos?
LP.: Sim, pensámos mudar para lá e criar condições, como uma residencial e haver mesmo um cruzamento de gerações, começando nos mais novos até à terceira idade.
MB.: A falta de crianças na região tem afetado a escola?
LP.: Está a ser um flagelo. Estamos com uma baixa taxa de natalidade, que se vem sentindo desde 2004. Atingiu-nos quase mortalmente há cinco, seis anos. A taxa de natalidade é quase fatal. Encontramo-nos numa situação de decréscimo de alunos. Associado a isso deu-se a crise económica, que rebentou em 2007. Por outro lado, tínhamos alunos de Cabo Verde e S. Tomé e Príncipe que, no entanto, deixaram de ser apoiados. Como não têm direito aos apoios sociais que os alunos de cá têm e é incomportável para eles. Era uma das fontes de alunos.
Por outro lado, a baixa taxa de natalidade aliada à emigração, abalou um pouco a cidade. No ano passado, por exemplo, perdemos dezenas de alunos devido à emigração. É uma crise que ainda vai continuar e que nos marcou.
MB.: Esperam-se alterações a breve prazo na formação profissional?
LP.: Ainda não tenho nenhuma novidade mas houve recentemente uma reunião na ANQEP sobre os Cursos de Especialização Tecnológica. Se a legislação não for alterada, o Ensino Superior não volta a dar estes cursos. Há aqui uma esperança. Os que entraram já podem finalizar mas a partir de 2016 não entra mais ninguém. Vão dar outro tipo de formação, de dois anos, mas não devo falar sobre isso.
in:mdb.pt
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