Cartoon: oserrano |
É diferente de todos os outros, este trabalho de cortar as uvas, em grupo, de as transportar e, à noite, as músicas populares a animarem os lagares que ainda existem nas quintas e nas casas de algumas famílias para fabricar aquele vinho especial e tradicional, pisadas as uvas com pés e pernas.
Nos dias de hoje, com as facilidades de transporte, os trabalhadores deslocam-se rapidamente, em carros e camionetas, desde as suas aldeias à região do vinho. Há uns anos, quarenta ou cinquenta, os vindimadores partiam das suas casas e percorriam muitos quilómetros, a pé, até chegarem às Quintas do Douro onde permaneciam dia e noite durante um mês ou mais. Grupos de pessoas, nesta fase do ano chamadas em grande número, a que se davam o nome de "rogas".
As rogas que presenciei na infância, em S. Lourenço, concelho de Sabrosa, vinham da montanha - Delgada, Arcã, Vilar Celas -, localidades pertencentes àquela freguesia, e por ali passavam, contentes pelo trabalho que conseguiram, pelo "dinherinho" que iam ganhar e também porque sair do pequeno lugar onde viviam por trinta dias era por si só uma alegria. Ali passavam para adquirirem pequenas coisas ou beber um "caneco" a acompanhar o farnel que traziam. Iam felizes, trouxas às costas, bombos e concertinas e o olhar atento do mestre da roga - pessoa, em princípio a mais velha, que dirigia e tomava conta do grupo e reprimia os seus excessos.
No regresso, pelo mesmo caminho, a roga voltava e mais uma vez parava na freguesia e os seus elementos, agora de cores mais rosadas, exibiam nas suas algibeiras o tilintar dos trocos que traziam; as notas, essas vinham bem escondidas. Os instrumentos musicais tocavam agora outra alegria, a saudade de casa, os lameiros, os pastos e os animais que tinham de cuidar... até dali a um ano.
Texto: Raul Coutinho
Fonte:
A. Fernando Vilela
in:jornal.netbila.net
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