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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

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COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Mirandês continua a precisar de ser resgatado


Foto: Direitos ReservadosSérgio Ferreira, sociólogo
Treze anos após a oficialização da língua mirandesa, continua a ser necessário investir para resgatar o mirandês do perigo de se perder.
A maioria das línguas minoritárias, como o mirandês, correm riscos face ao uso predominante das dominantes. 
Esta opinião é defendida por Sérgio Ferreira, um sociólogo, residente em Bragança, que está a desenvolver uma tese intitulada “Classe, cultura e língua nas Terras de Miranda: Um estudo sociológico sobre a Produção e a Crise de Reprodução da Cultura e Língua Mirandesa”. A cultura e a língua encontram-se em fase de reconfiguração, revitalização e recuperação, mas não estão em declínio, todavia é preciso apostar em estratégias de revitalização para fazer esse resgate. 
O investigador pretende que a língua e a cultura mirandesa ganhem mais visibilidade no espaço nacional. “É preciso uma luta interna e externa para isso. O que é justo, porque o mirandês faz parte da cultura portuguesa e conseguiu sobreviver, apesar de existir um certo silenciamento e até há uma certa anulação dessa língua na sua presença nos meios de comunicação e no panorama nacional em geral”, explicou. 
Sérgio Ferreira defende que há muita recolha para fazer no concelho, sobretudo as histórias de vida dos mirandeses, que permitam a recuperação de uma memória. “Há uma geração que é a que fala melhor mirandês, os mais velhos são os mais proficientes, que é preciso ouvir”, frisou. Este é o momento ideal e vital para recolher os depoimentos das pessoas enquanto estão vivas.
O estudo cruza metodologias qualitativas e quantitativas. Observa com mais atenção os casos das aldeias de Sendim, mais dinâmica, e de Constantim, que tem um reduzido número de habitantes, para fazer uma comparação. Uma é vila, tem mais de 1300 habitantes e a outra tem 109 residentes. “Vou tentar apanhar as histórias de vida de famílias que representem tipos de acontecimentos que são marcantes”, referiu. Apesar de se ensinar na escola continua a ser uma língua minoritária em risco. Resgatar uma língua nos modelos anteriores é um mito, por isso o objectivo final da sua revitalização é que os mais jovens se tornem tão proficientes como os mais velhos. O enquadramento social e económico já não é o mesmo. Os suportes materiais e simbólicos da língua são outros. 
Os jovens têm um papel determinante na revitalização através de novos suportes, como a internet, a música, manifestações culturais. Todavia, continua a ser uma língua usada por uma minoria de falantes, pelo que se mantém em perigo face à força que as línguas dominantes. Sérgio Martins considera importante fazer uma planificação linguística, porque a língua para além de ser falada tem de estar presente no domínio público e semipúblico de forma a garantir equidade com o português. “Eu não gosto de pensar na instrumentalização da língua e da cultura para o turismo mas é importante que a comunidade mantenha o seu uso e, expressar na sua língua, pode tornar-se numa mais valia até em termos turísticos, porque pode ter um alto valor cultural”, acrescentou. 
O investigador vai apresentar conjuntamente com Cláudia Martins, docente da Escola Superior de Educação de Bragana, no festival de cinema, em Avança, uma proposta para desafiar para que se traduzam e se dobrem animações para a língua mirandesa. O que serviria para fazer a ponte entre as gerações mais novas e mais velhas. “Não significa que sejam emitidos na televisão mas para projectar em auditórios nas aldeias”, frisou. A transmissão familiar é fundamental porque a continuação das línguas minoritárias não depende só do ensino na escola e da presença no espaço público, por exemplo nas placas toponímicas. Há que apostar na transmissão dentro da família, por isso é estratégico fomentar o uso. 
Os espaços sociais de transmissão da língua entraram em declínio e é preciso reconfigurá-los. É uma luta de uma minoria, intelectuais, oriundos do espaço mirandês. As medidas implementadas até agora não chegam é preciso trabalhar para dinamizar com animadores culturais, novas licenciaturas, reformulação de currículos, para revitalizar o uso dentro dos espaços comunitários. A internet é um dos meios onde mais se revitaliza o mirandês porque há dezenas de blogues, por ser um meio livre. 
O futuro da língua é usá-la, os jovens são capazes de o fazer, “mas é preciso oferecer um tapete vantajoso para que se faça nos mesmos meios que a língua dominante”, sublinhou. O mirandês tem um futuro assegurado só que não é tendo como meta a revitalização do mirandês típico dos antigos. A criação de um organismo que funcione uma placa giratória de acções e estratégias também é fundamental, para criar parcerias com os movimentos sociais e as associações locais.
Estudo abarca 60 anos
A investigação, realizada no âmbito de uma tese de doutoramento, tem como objectivo compreender o território transfronteiriço do espaço falante do mirandês, bem como oferecer prioridade a uma abordagem sociológica sobre o quadro existencial da singularidade da língua e cultura de Miranda do Douro. Para esse propósito será necessário compreender as transformações sociais que ocorreram nos últimos 60 anos (1950-2011), observando-se as alterações no domínio das estruturas sociais, locais e das prática simbólicas das populações residentes naquele território. 
Foi na década de 50-60 que aconteceu a grande vaga de emigração, um fenómeno de esvaziamento das zonas rurais. Mas no espaço mirandês aconteceu outro fenómeno, que provocou uma grande ruptura na transmissão da língua e cultura mirandesa, que foi a construção das três barragens, em Picote, Miranda do Douro e Bemposta. “Vieram cerca de 3500 trabalhadores com as suas famílias, invadiram o espaço falante do mirandês, que praticamente era o que se falava, já que o português era muito residual”, descreveu. 
Os locais deixaram de falar com os filhos em mirandês por vergonha social e medo de rotulagem. Deu-se a transformação dos domínios onde se transmitia a língua, que era a língua do campo, do amor e da família. A oficialização da língua em 1999, “é quase inacreditável”, se for avaliado como se leva à Assembleia da República uma língua que estava em franca fase de decadência. 
O projecto foi dinamizado por Júlio Meirinhos, figura central porque conseguiu conjugar a herança do António Maria Mourinho transportando-a para um plano de resgate cultural, em que a lei era um marco fundamental. Opera de duas maneiras, por um lado oficializa a língua e reúne os requisitos de uma língua, dando-lhe equiparação jurídica como ao português. 
A oficialização tem um efeito simbólico importantíssimo, porque as pessoas se agarram a isso e dizem que a língua tem valor porque foi legislada. Houve um retorno e uma revalorização por parte de várias gerações, não só dos mais velhos, que falavam fluentemente, mas também dos mais novos, que estavam a perder o elo de ligação e voltaram a dar algum valor à língua, em várias manifestações como o teatro, música, danças.


Por: G.L.
in:mdb.pt

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