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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

Memórias Orais// Belarmino Quintas

“Quando regressei de Moçambique comecei tudo de novo. Trouxe 300 contos pra cá embrulhados com um bocado de lã, pra ninguém desconfiar que vinha dinheiro mas não o trocaram”.
Passou a maior parte da sua vida em Fornos, onde trabalhou como serralheiro, mas a maior aventura do seu trajeto talvez tenha sido no tempo em que esteve em África.
Com 27 anos, Belarmino Quintas foi para Moçambique e levou a mulher e um filho. Os tempos por lá eram duros e o pensamento preferia ter apagado muita coisa. O trabalho que foi tendo ajudava a esquecer, ou a não lembrar tantas vezes. “Primeiro estive na barragem da Chicamba de chofer agarrado a um camião; depois fui pra Vila Pery p’ra uma pensão a olhar pela cozinha e pelo bar; depois arranjei um camião a fazer transportes. Fiz logo duas casas com ele, transportar areia e cimento e fazia o  que aparecia. Depois comprei outro e depois outro, pus três camiões. Carregava um vagão de madeira por dia pra Lourenço Marques, aí é que me deu dinheiro pra fazer mais uma casa e trazer a mobília toda que trouxe , um Land Rover e a família”.
Regressou pelo 25 de Abril e para trás deixou quase tudo. Trouxe o mais importante, a família, e recomeçou a sua vida na aldeia, de onde partiu novo e com a 4ª classe. O que ganhou em Moçambique não serviu em Portugal, e a sua vida haveria de recomeçar com 30 contos no bolso. “O banco deu-me 10 contos, 2 contos por cada um, éramos cinco. Depois fui à IARN. Na IARN nunca vi uma coisa assim, comecei no 3º andar com a mesma cantiga até ao fundo pra me darem 30 contos, um cheque de 5 contos, um cheque de 3, outro de 2...”.
Conseguiu montar a sua oficina onde foi passando a maior parte do tempo. Agora trabalha só para ele, diz. “Arranjo a vinha, podei-a, atei-a, lavrei-a, agora estava-lhe a dar enxofre mas com o vento assim não se pode. Colho o vinho e vendo logo as uvas,  vêm logo a vindimar que é p’ra não me chatear, vendo as uvas a um rapaz que mas vem buscar quase há 20 anos”.
“Agora estou sossegado”, refere Belarmino, mas sem a companhia de uma vida. A vivacidade que incute nas suas histórias só quebra quando fala da mulher por saber que as forças já não permitiam que só ele a ajudasse. Deixaram de ser só eles os dois.

Agora a companhia são os filhos e netos, para que os dias não lhe pareçam tão longos.


Gabinete de Comunicação da CM de Freixo de Espada à Cinta
Joana Vargas

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