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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

segunda-feira, 23 de maio de 2016

Memórias Orais: Maria Saldenha

Maria e o marido foram toda a sua vida, pastores. De menina tomou conta de três irmãos, a sua mãe tinha falecido e ela era a mais velha e por isso tinha que assumir as responsabilidades da casa e da família.
Ao mesmo tempo tinha que andar nos pastos com o gado e por lá ia esquecendo as preocupações de uma criança que tinha sido adulta demasiado cedo. “Eu e os meus três irmãos dormiam juntos numa cama, um dormia para os pés outros dormiam para cima. E outra caminha para o meu pai e as raparigas dormíamos também as duas mas tínhamos uma cama no chão. Só tínhamos dois quartinhos pequeninos e deitávamo-nos no chão, na salinha. Púnhamos a roupa para nos deitarmos”. 
Depois que casou a vida que conheceu foi a mesma de menina. Não teve filhos mas ainda criou quatro sobrinhos. “Cheguei a guardar o gado, com um nas costas e traçado com um xaile atado assim atrás”. Ainda se lembra da primeira jeira que ganhou, à azeitona, 25 tostões. E de quando a água chegou a Freixo, “Deus tenha o Senhor Almirante lá no reino da Glória”, diz. 
A vida sempre foi de muito trabalho, para por vezes só se comer “um bocado de pão”. Era o que tinha que ser que a vida havia de melhorar. “Trabalhei muito. Andava pela rua a apregoar o leite, a vender às pessoas. Vinha duas horas de caminho com um cântaro de leite à cabeça para casa, depois fazia o queijo, secava-o e vendia-o ao povo a quem mo comprava, cheguei a fazer oito e nove queijos. E a segar, era muita coisa, foi uma vida muito escrava senhor”.
Tem quase 90 anos, já está no Lar. Diz que ainda não há muitos anos que a vida viu melhoras. Hoje já não come pão enresinado. Mas há muita fartura que se estraga, “um pecado”, diz. As horas de caminho a conhecer tudo quanto a rodeava também já vão longe. Agora a vida é de descanso e as horas já não são de preocupação.

Texto: Joana Vargas
(abril de 2015)



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