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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

quinta-feira, 11 de janeiro de 2018

Notícias da aldeia

Por: Fernando Calado
(colaborador do Memórias...e outras coisas...)

Houve um tempo em que somente o Sr. Padre tinha um rádio. Na altura não entendia porque o Sr. Padre, piedosamente, desligava o rádio quando o correspondente da Emissora Nacional, Costa Ferreira iniciava as sua crónicas de Luanda com um hino de Euclídes Ribeiro: “Angola...é nossa !... Angola...é nossa !... Angola é nossa gritarei. É carne é sangue da nossa grei. Sem hesitar p’ ra defender. É pelejar até vencer...”
O Sr. Padre também não gostava dos fados da Amália e só aumentava o volume do som do rádio quando se ouvia: “Povo que lavas no rio; Que talhas com o teu machado; As tábuas do meu caixão. Pode haver quem te defenda; Quem compre o teu chão sagrado; Mas a tua vida não.”
Aqui o Sr. Padre acenava com a cabeça que sim…outras vezes ficava muito sério… coisas de padres. Pensava eu.
No dia 13 de Maio, o Sr. Padre colocava o rádio na janela da sua casa para que todos ouvissem a voz do Papa. Atemorizados, todos se benziam no respeito pelo divino que chegava das terras do fim do mundo…não se sabe como!
Quando o Sr. Padre estava bem disposto, domingo à tarde, também deixava ouvir os fados à desgarrada, ou a radionovela onde a rapariga pobre, pela força da sua bondade e ajuda de Deus havia de casar, sempre, com o filho dos patrões ricos, poderosos e maus.
- Deus queira que a rapariga do rádio tenha sorte…que os sogros não são grande fazenda… Dizia a Tia Angélica enquanto acendia a lâmpada do Santíssimo. Depois o Sr. Padre desligava o rádio pois já não lhe interessavam as façanhas dos nossos exércitos aquém e além-mar em África!
Então toda aldeia regressava a casa. Acendíamos o lume. Comíamos o caldo…e cismávamos com as coisas que o Padre sabia…e com as coisas que se ouviam na rádio… deve estar para acontecer o fim do Mundo…diziam os mais sábios do povoado. Nesse tempo eramos todos muito pobres! Voltamos a ser!
Algumas vezes, pela noite dentro, fechado no seu quarto, o Padre ligava o rádio que se ouvia assobiar e uma voz do fim do mundo dizia: - Aqui Rádio Argel! A Voz da Liberdade – Um programa de Manuel Alegre.
O padre nunca deixava ninguém ouvir essa Voz da Liberdade…só ele… com o seu rádio que cada vez assobiava mais e mais…
… O padre devia estar a ouvir e a falar com Deus! 
…hoje penso que sim!


Fernando Calado nasceu em 1951, em Milhão, Bragança. É licenciado em Filosofia pela Universidade do Porto e foi professor de Filosofia na Escola Secundária Abade de Baçal em Bragança. Curriculares do doutoramento na Universidade de Valladolid. Foi ainda professor na Escola Superior de Saúde de Bragança e no Instituto Jean Piaget de Macedo de Cavaleiros. Exerceu os cargos de Delegado dos Assuntos Consulares, Coordenador do Centro da Área Educativa e de Diretor do Centro de Formação Profissional do IEFP em Bragança. 
Publicou com assiduidade artigos de opinião e literários em vários Jornais. Foi diretor da revista cultural e etnográfica “Amigos de Bragança”.

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