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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

sexta-feira, 21 de outubro de 2016

Mais Três Lendas do Concelho de Mogadouro

A moura do castelo de Bemposta

Na vila de Bemposta [concelho de Mogadouro] houve em tempos uma mulher, casada, que tinha forno em casa onde todos os meses cozia o pão para sustento da sua família. Quando uma vez estava a começar a amassar, entra pela porta do forno uma mulher desconhecida, mas nova, bela e encantadora, ainda que no semblante se lhe denotava tristeza; sem dar palavra deitou-lhe água na masseira e retirou-se.
A mulher nada lhe disse, mas contou o sucedido ao marido e este respondeu-lhe que se tornasse a ver essa mulher lhe perguntasse o que queria. Dias depois, e à hora de começar a amassar, apareceu a dita mulher. Então a dona do forno pergunta-lhe:
– Quem sois vós, mulher?
– Uma moura, encantada no castelo da vila, e se fores capaz de me desencantar dar-te-ei enormes tesouros que tenho – respondeu ela.
Disse-lhe a outra que aceitava, mas era preciso que lhe dissesse o que ela tinha a fazer, para dar conhecimento ao marido. No rosto da moura raiou a alegria, a sua alma encheu-se de esperança, por lhe parecer chegada a hora de se ver livre de tão penoso cativeiro, e disse:
– Não precisas mais do que ter coragem; na noite de S. João, à meia noite em ponto, hás-de estar no largo do castelo, firme como uma estátua de mármore. Não tenhas medo, não fujas nem fales no teu Deus. O teu marido pode acompanhar-te, mas deve estar oculto. Então irá uma cobra ter contigo, assobiando e fazendo barulho; darte-á uma volta à cintura e um beijo na testa; depois, logo ali, a sua pele cairá despedaçada em bocados. Não tenhas medo que essa cobra sou eu, e ficarei logo desencantada e livre, e livre ficará toda a minha riqueza e toda será tua.
Assim ficou combinado, e ao bater no relógio as doze horas da noite de S. João lá estava a mulher no local designado, e o marido oculto, ali, noutro lugar, próximo.
Pouco depois ouvem-se assobios medonhos, um barulho estranho e a cobra aparece ao longe assobiando de instante a instante. Mas a mulher, apesar de resoluta, começou a apavorar-se, e quando a cobra ia chegando próximo dela, foge transida de medo,
gritando:
– Ai Jesus, quem me acode! Ai Jesus, quem me acode!...
Ao mesmo tempo a moura, que se julgava quase livre, rompe em doloridos e longos suspiros, exclamando:
– Ai que me dobraste o meu encanto, mulher! Ai que estou perdida para séculos!
E nas trevas da noite foram-se perdendo aqueles dolorosos e enternecidos ais da moura encantada, enquanto a mulher e o marido fugiam aterrados para casa.

Fonte: PEREIRA, José Manuel Martins, As Terras de Entre Sabor e Douro, Setúbal, J.L. Santos, 1908, pp. 337-339.

O castelo dos mouros de Vilarinho dos Galegos

No castelo dos mouros, de Vilarinho dos Galegos [concelho de Mogadouro], segundo diz a lenda, estão encantados um mouro e uma moura. Os tesouros neste castelo são enormes – diz-se. Ali existem teares de ouro, baús e malas atestadinhos de moedas de ouro, barras de ouro e prata, aos montes. Este tesouro desencantado chegaria para enriquecer o país inteiro.
Conta-se que em tempos um homem destes sítios visitava amiudadas vezes o castelo. Um dia apareceram-lhe os mouros, mostraram-lhe aquela grandiosa riqueza e disseram-lhe:
– Se queres ser senhor de todos estes tesouros, hás-de desencantar-nos. Para isso basta que tenhas coragem. Estás aqui, neste local, na noite de S. João, à meia noite em ponto; aqui virá ter um toiro bravo, urrando e fazendo barulho, mas não tenhas medo, que o toiro sou eu; não hás-de fugir nem falar no teu Deus; logo que chegue a ti põe-lhe a mão na testa, e basta.
O homem aceitou. Na noite de S. João, à meia noite, lá estava no lugar marcado. Mas, eis que aparece o toiro, urrando e escavando no chão com as mãos e pés; e o homem, cheio de medo, vendo aproximar o toiro, foge gritando:
– Ai Jesus, quem me acode! Ai Jesus, quem me acode!
Tudo estava transtornado, é claro, e os mouros que se julgavam livres, desapareceram no meio de suspiros e dolorosos ais, e lá voltaram para o seu penoso cativeiro com o encanto dobrado.

Fonte: PEREIRA, José Manuel Martins, As Terras de Entre Sabor e Douro, Setúbal, J.L. Santos, 1908, pp. 338-339.

O castelo do Mau Vizinho

Por baixo deste lugar [Algozinho, concelho de Mogadouro] se vê, e ainda fora da terra, em cinquenta palmos de altura, um castelo demolido, que dizem ser fabricado pelos mouros e, pelos vestígios que manifesta, fora bem fortalecido.
A povoação de Algosinho (...) assenta na encosta da ribeira de Algosinho, coisa de seiscentos metros acima do Castelo do Mau Vizinho, também chamado Castelo dos Mouros, ou simplesmente Castelo, que é um pequeno recinto de vinte metros de diâmetro, pouco mais ou menos, cercado de muros de mais de metro de grossura, por um fosso e por uma faixa de dez metros de largura cravada de pedras de mais de metro de altura com a ponta aguçada para cima, à laia de estrepes, a fim de dificultar os
ataques da cavalaria e infantaria.

Fonte: ALVES, Francisco M. – Memórias Arqueológico-Históricas do Distrito de Bragança, Porto, vol. IX, 1934, p. 107.

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