Na pág. 188 e seguintes apontámos vários criminosos célebres do distrito, e agora, aditando, acrescentamos: O Canedo (pág. 190), «homem valente e destemido», de nome António Martins Padrão, também conhecido por António Canedo, como declara uma carta confidencial do administrador do Vimioso de 20 de Fevereiro de 1863 para o governador civil, participando-lhe que, juntamente com Sebastião Chumbo, de Argozelo, cometeram um crime no dia 14 na feira de Outeiro. «São temiveis e lestos», diz o administrador.
A tradição diz que o Canedo era tão valente que partia as algemas com que o manietavam e que por mais de uma vez arrebentou as grades da cadeia do Vimioso.
Parece que o tal apodo: capadeiras de Rebordãos, de que falámos na página 188, teve origem no facto relatado numa carta do juiz de direito da comarca de Bragança ao administrador do concelho. Diz ela:
«Ill.mo Snr. – Tendosse instaurado hum processo crime contra hûas mulheres de Rebordãos, por causa de hum acontecimento que entre ellas e hum criado do Estafeta de Rebordãos houve; e tendosse espalhado hontem e hoje que o dito criado apareceu morto no Adro da Igreja da Senhora da Serra; e constandome que V. S.ª já procedera a varias averiguações a tal respeito, rogo a V. S.ª que com a maior brevidade me informe sobre o resultado das suas averiguações, por assim o exigir o andamento do processo......
Bragança
16 de Agosto de 1855. O Juiz de Direito, B.meu Car.al de M.es Th...».
(Seguem mais letras imperceptíveis).
O professor de Vinhais, assassinado em 12 de Janeiro de 1870 por motivos políticos, de que falámos no tomo I, pág. 230, destas Memórias, chamava-se José Manuel de Sousa Figueiredo e como réus foram acusados João Atanásio, João Gonçalves, António Bento Gomes e Manuel Bento Gomes, estes dois últimos guardas da Alfândega de Chaves. Por este tempo celebrizou-se tristemente um tal António, filho de Júlia Correia, mais conhecido pela alcunha de Pombelíca, deixando terrífica fama pela série de espancamentos praticados à sombra de uma facção política que o mantinha como mastim de alma danada, terrorista contra os adversários.
Foi assassinado a golpes de machado em plena vila, na noite de S. João, quando apregoava carne fresca e barata para o dia seguinte nos Alvaredos, onde iria matar o pároco, mesmo debaixo do pálio, na procissão da festa!...
José Nicolau, conhecido pelo Bragança, natural de Quintela de Lampaças, filho de José Marcelino e de Maria Violante, fazia parte da «quadrilha do célebre José do Telhado» e foi preso em Vila Real em 1859. Os assassinos Carrégas eram naturais de Vila Franca, e chamavam-se José Luís, o Carréga, José Valentim e João António Frei, tidos como «homens temíveis».
Foram julgados e condenados em Bragança em Abril de 1894.
Também pelos anos de 1886 se celebrizou em Bragança o burlão espanhol Manuel Peres Herbela, hábil curandeiro, que obteve carta de cirurgião-dentista passada pela Escola Médica do Porto e autorização do governador civil deste distrito, de 6 de Julho de 1891, para exercer a sua profissão.
Cometeu, porém, tantas traficâncias, que os políticos se viram obrigados a depor as rivalidades que os separavam para ele ser escorraçado, como foi, tal a arteirice com que se havia nas suas escroquerias, ainda hoje memoradas com espanto na lenda popular.
Memórias Arqueológico-Históricas do Distrito de Bragança
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