A grande vencedora da 6ª Edição do Prémio Cooperação e Solidariedade António Sérgio, na categoria de “Personalidade do Ano 2017” foi Celmira Macedo. Voluntária e empreendedora social de coração e vocação, a atual presidente da LEQUE – Associação de Pais e Amigos de Pessoas com Necessidades Especiais, reconhece ter sido uma “boa surpresa” e “um motivo de orgulho, tal como deveria ser para qualquer transmontano”.
Criado em 2012 pela Cooperativa António Sérgio para a Economia Social (CASES),o Prémio Cooperação e Solidariedade António Sérgio destina-se a “homenagear as pessoas singulares e coletivas que, em cada ano, mais se tenham distinguido no setor da Economia Social”, sendo atribuído nas categorias de Inovação e Sustentabilidade, Estudos e Investigação, Formação Pós-Graduada, Trabalhos de Âmbito Escolar e Personalidade do Ano. A cada uma das primeiras quatro categorias corresponde um prémio de três mil euros. No entanto, ao Prémio Especial Personalidade da Economia Social, atribuído a Celmira Macedo, não corresponde qualquer valor pecuniário, sendo meramente honorífico, pois trata-se de uma distinção a uma pessoa e não a uma organização. Este último, de acordo com a CASES, pretende “homenagear uma personalidade que se tenha distinguido na área da Economia Social ou contribuído significativamente para o seu reconhecimento ou desenvolvimento públicos”.
A presidente da direção da LEQUE foi distinguida com o Prémio Cooperação e Solidariedade António Sérgio atribuído pela CASES, na categoria de “Personalidade do Ano 2017”
Apesar de este reconhecimento ter resultado de uma candidatura, isso não lhe tira qualquer valor, bem pelo contrário, até porque a CASES recebe milhares de candidaturas todos os anos e ter sido Celmira Macedo a escolhida, só reflete a importância do seu trabalho na área social. “Todos os anos fazemos centenas de candidaturas, sempre a pensar na sustentabilidade e divulgação da Associação Leque e do Projeto EKUI. Com sorte, por cada cem candidaturas que fazemos ganhamos uma. Esta foi uma delas”, revelou a homenageada ao Diário de Trás-os-Montes, acrescentando que “o facto de ter sido uma candidatura não deve desprestigiar a distinção. Aliás, atribui-lhe uma notoriedade superior, um cariz democrático, mais amplo e livre de possíveis instrumentalizações”. Até porque, “o método do concurso implica uma divulgação nacional”, o que na sua opinião, assegura uma “verdadeira descentralização e transparência e um real e efetivo escrutínio do trabalho de centenas ou milhares de portugueses anónimos extraordinários, passíveis de serem eleitos”.
Quanto ao verdadeiro significado de mais um reconhecimento numa longa lista de prémios, galardões e troféus, a laureada diz sentir-se “muito honrada”, contudo, “permitam-me endereçá-lo a todos os heróis anónimos. Aqueles que todos os dias, nas suas aldeias, bairros ou comunidades, se predispõem a ajudar os outros”, começou por sustentar, não querendo, por ventura, desvalorizar “os que o fazem no âmbito da sua atividade profissional, onde recebem o seu justo salário, mas dedico esta distinção aos que, como eu, o fazem de forma altruísta e voluntária”.
Questionada sobre aquilo que poderá ter, eventualmente, chamado a atenção do júri para a sua ilustre pessoa e, principalmente, para o seu notável trabalho no setor social, Celmira Macedo é perentória ao testemunhar que possa ter sido o facto de, “apesar da fragilidade da minha saúde nos últimos anos, nunca ter desistido lutar, mesmo no backstage, por uma sociedade mais justa e inclusiva”. De sublinhar que, entre 2009 e 2017, Celmira foi vítima de dois Acidentes Vasculares Cerebrais (AVC), foi alvo de uma operação ao coração e uma operação de implante de Reveal.
A Cerimónia Pública de entrega do Prémio desta 6ª edição irá realizar-se no dia 22 de janeiro em Coimbra na Antiga Igreja do Convento São Francisco.
Apesar de tamanho infortúnio, Celmira não se limitou a sobreviver e sem nunca desistir de si, foi na luta pelos outros que liderou pelo exemplo. “Quando está em causa a justiça e a inclusão não desisto, persisto, persisto e persisto. Essa é a postura que sempre assumi enquanto empreendedora social”, garantiu quem na batalha da vida, já saiu vencedora.
Clinicamente fragilizada, a cara e a voz da LEQUE adianta que, as suas funções na Associação poderão sofrer alterações”, em função do seu estado de saúde atual, garantindo, no entanto que “mesmo através de casa ou muitas vezes do hospital, a minha equipa e as milhares de pessoas que beneficiaram e beneficiam dos projetos que fui desenvolvendo ao longo dos últimos 10 anos, sabem que podem contar comigo, mesmo que indiretamente”.
Para 2018, através das equipas da Leque e EKUI, a vencedora do Prémio Personalidade do Ano avisa que quer continuar a contar com todos os transmontanos “para nos apoiarem nesta caminhada, pois muitos dos projetos que desenvolvemos são inovadores, mesmo a nível internacional, o que prova que o interior transmontano está vivo e tem massa crítica”.
E se existe algo que Celmira Macedo não tenha quaisquer dúvidas, é que nada poderá travar a sua “paixão pelo terceiro sector”. “É o meu objetivo de vida e a minha missão. Está no meu ADN”, defende, em jeito de conclusão, mas não sem antes deixar um “obrigado” a todos aqueles que fizeram e fazem parte de um caminho que pelo bem dos outros tem vindo a trilhar com sucesso.
"No meio das trevas, sorrio à vida, como se conhecesse a fórmula mágica que transforma o mal e a tristeza em claridade e em felicidade. Então, procuro uma razão para esta alegria, não a acho e não posso deixar de rir de mim mesma. Creio que a própria vida é o único segredo"
(Rosa Luxemburgo), in facebook de Celmira Macedo
UM POUCO DO PERCURSO DE CELMIRA MACEDO…
Apesar de ser professora de educação especial desde 1992, a obra de Celmira Macedo na área social começou em 2006, quando realizou um estudo inédito, no âmbito da sua tese de doutoramento, sobre as necessidades das famílias e cuidadores informais de pessoas com deficiência.
Em 2009, deixa a tese em modo de espera para poder fundar a Associação LEQUE com o objetivo de dar resposta aos inúmeros problemas por ela identificados e apoiar estas famílias e os seus filhos. Reconhecida por ter imprimido à Associação Leque, desde muito cedo, uma forte componente de inovação e empreendedorismo social, desenvolve respostas imediatas, atuais e disruptivas.
Em 2012, escreve o livro “Escola de Pais.nee – Formação para a parentalidade positiva na deficiência” com o intuito de “difundir uma metodologia de formação altamente eficaz no fortalecimento e capacitação as famílias de pessoas com deficiência”. Sendo de salientar que as receitas reverteram para a Associação Leque.
Em 2013, arranja finalmente o tempo necessário para terminar a sua tese doutoramento em Educação Especial pela Universidade de Salamanca.
Já em 2015, Celmira Macedo, a criativa, lança a Metodologia EKUI, a primeira Metodologia de Alfabetização para pessoas com (e sem) deficiência, que utiliza 4 formas de comunicação: a Gráfica, a Língua Gestual, o braille, e o Alfabeto Fonético). Projeto com alcance internacional e cuja receita reverte para a Associação Leque.
A sua forma de atuação e liderança no terceiro sector é reconhecida como referência nacional, tendo-lhe valido diversos prémios, entre os quais, o primeiro prémio no II Bootcamp de Empreendedorismo Social em 2011 com a EKUI e o Troféu Português de Voluntariado em 2014. No ano de 2015, Celmira recebe dois prémios MIES “ES +", relacionados com iniciativas de elevado poder de Empreendedorismo e Inovação Social com os projetos EKUI e “Escola de Pais.nee – Formação para a parentalidade positiva na deficiência”. Recentemente, em 2016, a empreendedora é notabilizada com o "Prémio INSEAD”, na categoria de “Empreendedor Social". Com tantas distinções e mais trabalho desenvolvido na área social, não é de admirar, portanto, que Celmira seja convidada de honra enquanto oradora em conferências nacionais e internacionais.
Nascida em Angola e já adotada por Trás-os-Montes, a vencedora do Prémio Especial da CASES realiza, ainda, projetos de investigação no âmbito da Deficiência; Formação Parental; Metodologias de Alfabetização; Economia Social; Inclusão e empreendedorismo social.
Bacharel em Educação de Infância (1992), licenciada em Educação para a Primeira Infância (2002) e Pós-Graduada na área da deficiência (Domínio Cognitivo – Motor) em 2004, Celmira Macedo obteve equivalência a Mestrado na área Mestrado em Didática e Organização Escolar em 2006.
É professora de educação especial desde 1992 e foi docente Universitária entre 2003 e 2014 no Departamento de Supervisão da Prática Pedagógica na ESE Bragança e no Mestrado em Educação Especial no ISCE Penafiel.
Bruno Mateus Filena
in:diariodetrasosmontes.com
Ler AQUI a entrevista feita pelo Diário de Trás-os-Montes a Celmira Macedo em março de 2016
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