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SOBRE O BLOG: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blog, apenas vinculam os respetivos autores.

terça-feira, 2 de abril de 2019

A Barulheira do Peneiro em Bragança (1856)

Em meados do século XIX, mais concretamente entre 1853 e 1856, Portugal viu-se afetado por uma crise cerealífera que levou a uma generalizada alta de preços.
Por decreto de 2.8.1854, o Governo autorizou a entrada de milho estrangeiro pelos portos de Trás-os-Montes, até 15 de outubro, autorização prorrogada por decreto de 6.11.1854, até 31 de dezembro, importação esta a que outras se seguiram para atenuar a gravidade da situação.


O preço do centeio em Bragança, dos 200 réis o alqueire em 1852, vai subir para 340 réis em 1853, para 380 réis em 1854-1855 e para 880 réis em 1856, descendo a partir do ano seguinte para os 300 réis, ou seja, o preço do centeio em 1856, no Concelho de Bragança atingiu, de longe, o valor mais elevado da região, entre 1820 (revolução liberal) e 1916 (entrada de Portugal na Primeira Guerra Mundial), e o preço do trigo, naqueles anos, vai ultrapassar os 1 000 réis.
Este movimento ascendente dos preços do centeio a partir de 1852, violento entre 1853 1856, como escreveu David Justino, insere-se no âmbito da alta geral dos preços dos cereais em Portugal. A crise cerealífera afetou particularmente o norte de Portugal, devido às más colheitas de cereais de 1854, 1855 e 1856, sobrepondo-se à quebra da produção vinícola (mais tardia no Concelho de Bragança) e à epidemia da cólera-morbus que então se fez sentir em Portugal, nomeadamente no Distrito de Bragança, em 1855. Tumultos ocorreram em várias cidades do País, nomeadamente no Porto (1854) e Lisboa (1856).
O inverno de 1855-1856 – regista a Câmara de Bragança – caracterizou-se por ser muito chuvoso e “pelas tristíssimas e escassas colheitas que se seguiram, principalmente de cereais, devido a que as chuvas não deixaram fazer as sementeiras”. O Diário do Governo refere mesmo que o ano de 1856 foi “assaz funesto e de triste recordação para este Reino, sendo acompanhado por uma colheita escassa, aniquilada pelas excessivas chuvas e intempéries do ano antecedente.
Em setembro de 1856, ocorreu em Bragança a denominada Barulheira do Peneiro, antes do decreto do Governo, de 25 de setembro de 1856, que autorizou a Câmara de Bragança a contrair um empréstimo de cinco contos de réis, destinados exclusivamente à compra de cereais, para fazer face à crise de subsistências e à compra das sementes necessárias aos lavradores para a lavoura das suas terras.


É neste contexto, de escassez de cereais e do pão, que devemos situar a designada Barulheira do Peneiro, que Francisco Manuel Alves qualifica de motim popular, dando a entender que o mesmo teria ocorrido em 1856. Contudo, Augusto Ernesto de Castilho e Melo, secretário-geral do Governo Civil de Bragança em funções de Governador Civil, refere que a “pouco importante manifestação popular (alcunhada do Peneiro)” teve lugar em Bragança, em março de 1857. E acrescenta que não se pode falar de “verdadeiro motim”, uma vez que apenas grupos de populares manifestaram “por palavras, mas nunca insultuosas, a sua desaprovação a uma postura da Câmara Municipal sobre a venda de pão cozido”. Estes grupos ter-se-iam dispersado imediatamente perante a força militar que interveio, não tendo sido necessário empregar qualquer violência. Apesar disso, alguns indivíduos foram pronunciados como amotinadores, presos e levados, alguns meses depois, a tribunal. Conclui Augusto Castilho e Melo que tal facto não teve “a importância que se lhe pretendeu dar-lhe”.

Cliché de A. Soucasaux, de Barcelos, retratando Raul Teixeira, Abade e José Montanha, na década de trinta

A versão de Francisco Manuel Alves é, porém, como vimos, diferente desta, uma vez que, segundo ele, o povo “entrou na Cidade tumultuariamente e destruiu, esfrangalhou e queimou uns aparelhos de preparação de farinhas para a sua conversão em pão, que a Câmara tinha montado no intento de tirar aos açambarcadores os lucros exorbitantes que estavam percebendo”. À frente deste motim estaria o bacharel Albino Augusto Garcia de Lima, nomeado Administrador do Concelho de Bragança em 20 de outubro de 1857.
Dois anos depois, nas noites de 15 e 16 de abril de 1858, alguns soldados da guarnição militar de Bragança e estudantes manifestaram-se contra a Câmara Municipal, o que levou à demissão do seu Presidente, Manuel José Ribeiro, e de três dos seus vereadores. Tal demissão, contudo, não veio a efetuar-se devido à intervenção do Governador Civil de Bragança, que conseguiu evitar a dissolução da Câmara.

Título: Bragança na Época Contemporânea (1820-2012)
Edição: Câmara Municipal de Bragança
Investigação: CEPESE – Centro de Estudos da População, Economia e Sociedade
Coordenação: Fernando de Sousa

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