Por decreto de 2.8.1854, o Governo autorizou a entrada de milho estrangeiro pelos portos de Trás-os-Montes, até 15 de outubro, autorização prorrogada por decreto de 6.11.1854, até 31 de dezembro, importação esta a que outras se seguiram para atenuar a gravidade da situação.
O preço do centeio em Bragança, dos 200 réis o alqueire em 1852, vai subir para 340 réis em 1853, para 380 réis em 1854-1855 e para 880 réis em 1856, descendo a partir do ano seguinte para os 300 réis, ou seja, o preço do centeio em 1856, no Concelho de Bragança atingiu, de longe, o valor mais elevado da região, entre 1820 (revolução liberal) e 1916 (entrada de Portugal na Primeira Guerra Mundial), e o preço do trigo, naqueles anos, vai ultrapassar os 1 000 réis.
Este movimento ascendente dos preços do centeio a partir de 1852, violento entre 1853 1856, como escreveu David Justino, insere-se no âmbito da alta geral dos preços dos cereais em Portugal. A crise cerealífera afetou particularmente o norte de Portugal, devido às más colheitas de cereais de 1854, 1855 e 1856, sobrepondo-se à quebra da produção vinícola (mais tardia no Concelho de Bragança) e à epidemia da cólera-morbus que então se fez sentir em Portugal, nomeadamente no Distrito de Bragança, em 1855. Tumultos ocorreram em várias cidades do País, nomeadamente no Porto (1854) e Lisboa (1856).
O inverno de 1855-1856 – regista a Câmara de Bragança – caracterizou-se por ser muito chuvoso e “pelas tristíssimas e escassas colheitas que se seguiram, principalmente de cereais, devido a que as chuvas não deixaram fazer as sementeiras”. O Diário do Governo refere mesmo que o ano de 1856 foi “assaz funesto e de triste recordação para este Reino, sendo acompanhado por uma colheita escassa, aniquilada pelas excessivas chuvas e intempéries do ano antecedente.
Em setembro de 1856, ocorreu em Bragança a denominada Barulheira do Peneiro, antes do decreto do Governo, de 25 de setembro de 1856, que autorizou a Câmara de Bragança a contrair um empréstimo de cinco contos de réis, destinados exclusivamente à compra de cereais, para fazer face à crise de subsistências e à compra das sementes necessárias aos lavradores para a lavoura das suas terras.
É neste contexto, de escassez de cereais e do pão, que devemos situar a designada Barulheira do Peneiro, que Francisco Manuel Alves qualifica de motim popular, dando a entender que o mesmo teria ocorrido em 1856. Contudo, Augusto Ernesto de Castilho e Melo, secretário-geral do Governo Civil de Bragança em funções de Governador Civil, refere que a “pouco importante manifestação popular (alcunhada do Peneiro)” teve lugar em Bragança, em março de 1857. E acrescenta que não se pode falar de “verdadeiro motim”, uma vez que apenas grupos de populares manifestaram “por palavras, mas nunca insultuosas, a sua desaprovação a uma postura da Câmara Municipal sobre a venda de pão cozido”. Estes grupos ter-se-iam dispersado imediatamente perante a força militar que interveio, não tendo sido necessário empregar qualquer violência. Apesar disso, alguns indivíduos foram pronunciados como amotinadores, presos e levados, alguns meses depois, a tribunal. Conclui Augusto Castilho e Melo que tal facto não teve “a importância que se lhe pretendeu dar-lhe”.
Cliché de A. Soucasaux, de Barcelos, retratando Raul Teixeira, Abade e José Montanha, na década de trinta |
A versão de Francisco Manuel Alves é, porém, como vimos, diferente desta, uma vez que, segundo ele, o povo “entrou na Cidade tumultuariamente e destruiu, esfrangalhou e queimou uns aparelhos de preparação de farinhas para a sua conversão em pão, que a Câmara tinha montado no intento de tirar aos açambarcadores os lucros exorbitantes que estavam percebendo”. À frente deste motim estaria o bacharel Albino Augusto Garcia de Lima, nomeado Administrador do Concelho de Bragança em 20 de outubro de 1857.
Dois anos depois, nas noites de 15 e 16 de abril de 1858, alguns soldados da guarnição militar de Bragança e estudantes manifestaram-se contra a Câmara Municipal, o que levou à demissão do seu Presidente, Manuel José Ribeiro, e de três dos seus vereadores. Tal demissão, contudo, não veio a efetuar-se devido à intervenção do Governador Civil de Bragança, que conseguiu evitar a dissolução da Câmara.
Título: Bragança na Época Contemporânea (1820-2012)
Edição: Câmara Municipal de Bragança
Investigação: CEPESE – Centro de Estudos da População, Economia e Sociedade
Coordenação: Fernando de Sousa
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