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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

sexta-feira, 26 de abril de 2019

O Capitão-do-Mato e o Ladrão de Manga

Por: Antônio Carlos Affonso dos Santos – ACAS
São Paulo (Brasil)
(colaborador do Memórias...e outras coisas)



Quem manda tem razão; e com efeito
Vou falar do escravo que trabalhava no eito
Faminto e cansado por passar uma noite insone
Entrou no pomar do Sinhô, para matar a fome!

Eis que um capitão do mato, sabedor de seu poder
Resolve dar corretivo no irmão de pele escura
- Oh zifío; qué que tu faiz aqui, no pormá do Sinhô?
Tu é um nêgo feio e atrevido da nação nagô!
Num viu a sinhazinha debáxo da mangueira?
Puseste ela em perigo, de carqué manêra!

O jovem escravo tentou argumentar:

- Mai vosmicê precisa me escuitá,
Ieu inté intendo toda sua zanga
Mai entrei aqui cum muita fome,
Campiãno no chão, uma bendita manga!
O capitão sabe que a manguêra tá cheia
E que ieu nunca ía bulí cum as coisa alheia!

Mas, o capitão do mato retruca de pronto,
Cheio de raiva, mostrando faca e fuzil
E como o escravo ainda reclama
O capitão do mato diz: - aqui é Brasil!

- Mai ieu sô fío de mucama cum branco: sô mulato
Só num sô mai branco pro causo do destino
- Mai vossuncê num é branco, e nem é minino
 E vossuncê é ladrão e vai pagá o pato!

- Mai ieu tenho sua cor, vossuncê é irmão de valô
Inda mais, ieu nunca robei nada, não sinhô!
- Irmão, capitão-do-mato; sô um cativo
Me pegaram à força, lá em Benin
Onde era feliz, cum minha famía
E num carecia que vossuncê me tratasse assim!

Peço sua permissão pra vortà lá pra senzala
Aqui ieu num quero ficá mais; me retiro!

(E corre para a floresta, seu último recesso,
Mas, o jovem escravo estaca ao receber um tiro)

Sucesso: o capitão–do-mato resolveu a questão;
Sem sequer uma testemunha, e sem nenhum processo!

Glossário: (época anterior a 1888).
- capitão-do-mato: negro escravo, porém de confiança do seu dono, que exercia a função de milícia. 
Andava armado, era melhor alimentado e tinha várias vantagens no cargo que ocupava. 
Era encarregado de tropilha que caçava,  a laço e a tiro, nos campos, matas e mocambos, os escravos fugidos das senzalas. 
A maioria deles extrapolava seu poder junto aos outros escravos, mormente quando não haviam testemunhas.
Julgava-se "branco", ou quase; portanto ente superior aos outros escravos!
- mucama: escrava, ou criada negra, geralmente jovem, que vivia mais próxima dos seus senhores (donos). 
Sua principal função era ajudar nos serviços caseiros e fazer companhia à sua senhora em passeios.
Também costumava ser usada como ama-de-leite dos filhos dos seus senhores e senhoras.

Antônio Carlos Affonso dos Santos – ACAS. É natural de Cravinhos-SP. É Físico, poeta e contista. Tem textos publicados em 8 livros, sendo 4 “solos e entre eles, o Pequeno Dicionário de Caipirês e o livro infantil “A Sementinha” além de quatro outros publicados em antologias junto a outros escritores.

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