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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

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COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

sexta-feira, 26 de abril de 2019

Retorno à anterior crónica que, como estava a ficar longa, achei por bem abreviar o seu fim

Por: António Orlando dos Santos 
(colaborador do "Memórias...e outras coisas...")

...continuação
Creio que os leitores depois de lida a parte final da crónica, nomeadamente quando refiro que os meus condiscípulos aprenderam todos uma arte ou ofício, não significa que eu ache que a sociedade estava bem assim e não seria necessário dar-lhe mais formação e educação. A simples menção às profissões que elenco faz-nos vir à mente que sendo ocupações, digamos, artesanais seriam de índole pouco exigente se tivermos em conta a qualidade dos produtos por elas produzidos, quando comparados com os seus competidores em países mais desenvolvidos e mais exigentes tanto na qualidade substantiva como na qualidade estética.

É inquestionável que o país precisava de avanço tecnológico e de capacidade de "savoir faire" que lhe permitisse produzir em quantidade e qualidade.
Como não me sinto capaz de produzir dando à estampa um Ensaio sobre "Know How" quedar-me-ei pela comparação elementar aos níveis de independência financeira entre a minha geração e a dos nossos primogénitos.
Para não ser repetitivo cito apenas que todos os nascidos entre 1950/1955 e que se quedaram com apenas a instrução primária ganharam para se sustentarem, ainda que modestamente, e os que foram estudar e fizeram o secundário, preencheram e melhoraram os serviços do Estado, Banca, Seguros e Empresas. Estes, grosso modo, cursaram as especialidades que as Escolas Industriais e Comerciais lhes ofereciam, sendo de realçar o número elevado de bons técnicos de Artes Mecânicas e de Eletrotecnia e uma miríade que concluiu o Curso Geral do Comércio, que foi o Curso mais frequentado em Bragança, preencheram os quadros das várias Repartições do Estado com predominância no sector da Fazenda Pública, Segurança Social, Câmaras Municipais, Obras Públicas e outras.
Resumidamente está aqui gizado o quadro de emprego que a minha geração ocupou, incluindo também o Professorado que absorveu muitíssimos homens e mulheres que garantiram para si empregos estáveis e medianamente remunerados, sendo após a Revolução beneficiados, pois os Sindicatos que estavam bem organizados conseguiram tetos salariais muito generosos para as competências deste setor da sociedade. 
Os que concluíram o sétimo ano dos Liceus e rumaram às Universidades fizeram-se Médicos, Engenheiros, Economistas etc. e os que por vocação ou aproveitamento foram para as Forças Armadas conseguiram níveis de êxito que lhes garantiu reformas antecipadas e salários acima da média.
Bem, chegados aqui temos que ser cautelosos porque o raciocínio pode estar em contradição com o dos que aqui menciono como privilegiados em oposição aos que relevo na crónica anterior. Os operários ou artesãos, que tendo os seus conhecimentos das artes e ofícios e dada a incipiente capacidade financeira da região e do país no seu todo, não tinham os seus salários valorizados em função da produtividade e os quadros das empresas, quase todas micro, não os classificava como especialistas dada a falta de diplomas do Ministério da Educação que lhes facultasse a titularidade que com a mudança de nomenclatura impediu que o grau de 1º oficial de qualquer arte tivesse aceitação nos quadros que só aceitavam títulos académicos, mesmo que a literacia dos preteridos fosse igual ou superior aos incluídos. No entanto estes não eram parasitas pois exerciam a sua atividade nas condições de operários nas empresas privadas que pagavam muito menos que o Estado. E é aqui que ainda hoje, mesmo que o panorama seja diferente, não o é muito, pois continuam a ser os do setor privado que pagam os salários dos do público mesmo ganhando menos que estes. Foi possível parcialmente resolver em parte está questão de injustiça com o processo que os trabalhadores mais mal remunerados se aproveitaram com a Emigração. 
Ao mudarem-se para Franças e Araganças os operários e camponeses passaram a receber pelo mesmo número de horas de trabalho o triplo ou o quádruplo do que recebiam em Portugal. Resumindo a minha geração teve sempre vida trabalhosa, mas, sempre ganhou cá e lá o bastante para si e para educar os descendentes. Outras questões se levantam. 
Ao melhor nível salarial que a partir da segunda metade da década de 60 era notório não se utilizaram métodos de ensino que num curto espaço temporal equipasse a população menos letrada, que era a maioria com conhecimentos ao menos de cultura geral capazes de evitar as humilhações que os franceses e alemães infringiram às comunidades emigradas, que incapazes de responderem com atos de jaez cosmopolita o fizeram com a sua capacidade de trabalho e vontade indómita de melhorar o seu modus vivendi, partindo da sua capacidade de sacrifício e um comportamento cívico que os fez serem aceites por quem antes os ostracizava. E mais, foram as remessas de moeda forte que o Governo da Nação usou para conseguir na década de 60 um crescimento de mais de 5% ao ano, números jamais igualados no antes e depois desta época. Chegados aqui e com pena minha terei que dizer a razão porque segundo a minha análise não conseguimos transmitir aos nossos filhos a capacidade de sacrifício e a resiliência que colocamos na vontade de seguir em frente e hoje temos os filhos em casa até aos quarenta anos alguns sem nunca terem trabalhado, consumindo diariamente elevadas somas, porque não conseguem arranjar trabalho, alguns e outros nem sequer o procuram.
Gastámos rios de dinheiro para fazerem cursos sem saída e financiámos a educação superior aos empregados de supermercados, que usam as suas competências para reporem "stocks" nas prateleiras das grandes superfícies ou atendem as caixas de pagamento, auferindo o ordenado mínimo que é 150 vezes menor que o referencial de pagamento "without bonuses" do diretor dum armazém duma firma tipo Pingo Doce. Temos entre a geração dos nossos filhos e netos uma percentagem de "Viciados em drogas" alta, aos quais se faz tudo para lhes dar uma vida dignam, embora não consigamos mais que tê-los calmos à hora da refeição.
Temos escolas onde os alunos adolescentes insultam e agridem professores(as) e as cadeias a abarrotar de delinquentes que estão lá porque não houve quem se preocupasse a ensinar-lhe a distinguir entre o que é o bem e o que é o mal. Para isto tudo nós pagamos e achamos que é uma obra de misericórdia que temos obrigação de financiar. 
Aqui falhamos redondamente, é um facto! Claro que o que digo não se aplica a muita gente que foi capaz de ser gente de bem e muito úteis à sociedade. Em Bragança há um rácio deveres meritório de gente com habilitações académicas e que ocupam lugares de destaque nas mais variadas frentes da investigação, formação e gestão tanto nas Universidades como nas empresas nacionais e internacionais. Desses devemos orgulharmo-nos e prestar-lhes a nossa homenagem, mas devemos também pressioná-los para que sejam inventivos e solidários para influenciarem os poderes públicos a tomarem mais atenção aos problemas da sociedade tentando otimizar as Instituições para obstarem à derrocada para onde caminha a geração à qual demos vida e porque a nós nos prepararam sem muitas mesuras e mariquice, o resultado foi o que se constata.
Fomos ingénuos e néscios, pois fomos no conto do vigário e entregamos o nosso futuro na mão dos mais pérfidos traficantes de tudo o que fede e é nocivo à humanidade.
Deixámos que os políticos mais mafiosos ascendessem a lugares de topo de onde comandam a camararilha que os faz uns nababos em pouco tempo e demos poder aos bancários para em vez de serem eles a serem roubados serem eles a roubar-nos e a acusarem-nos de vivermos acima das nossas posses. ( Vide, Ricardo Salgado e sus muchachos). 
A crónica hoje por mim escrita está impregnada de um pessimismo que não agradará a muito boa gente, nem sequer a mim próprio, que a escrevi. Deixa no entanto espaço para louvar os diligentes, os sensatos, os cautelosos e todos os homens e mulheres honrados e trabalhadores, que possam dar exemplo às novas gerações que quando chegam encontram um mundo onde já não é agradável viver, por culpa nossa.
Tenhamos fé e metamos ombros ao trabalho de corrigir o que fizemos de mal. Precisamos de uma nova ordem, onde as escalas de valores não estejam invertidas e nos deem as coordenadas certas para atingirmos o Norte que as últimas cinco décadas nos fizeram perder! É 
por ela que me enfeito de agasalhos/ Em vez daquela manga curta colorida/ Vais sair minha nação nos cabeçalhos/Ainda a tiritar de frio acometida/. ( Fausto Bordalo Dias - Album: O despertar dos Alquimistas).


Nota: a redação deste texto inclui-me sempre como parte dos grupos que falhando ou vencendo são os responsáveis pelas decisões certas ou erradas que aqui assumo coletivamente. Pessoalmente e honestamente, considero que o lado negativo implícito neste texto, não se aplica à minha pessoa ou ao meu agregado familiar no respeitante ao seu formato nuclear. Por esta razão estou à vontade, permitindo a mim próprio discorrer sobre tema tão candente.






Bragança 23/04/2019
A .O. dos Santos
(Bombadas)

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