O Jornal Nordeste, na sua última edição, dá notícia de um projeto ibérico sobre o aproveitamento do lixo orgânico para integração em blocos de construção, filtros de substâncias poluentes, entre outros. Um dos parceiros, desta interessantíssima iniciativa, é a empresa intermunicipal Resíduos do Nordeste herdeira do projeto de recolha e valorização de resíduos urbanos, iniciado na Associação de Municípios da Terra Quente Transmontana de que fui dirigente operacional, entre 1993 e 1997. Foi um caminho longo que remonta à fundação da AMTQT, em 1982 mas que, há vinte e cinco anos, resolveu dar um salto qualitativo ao deliberar iniciar o processo de encerramento das quatro lixeiras a céu aberto e construir o Aterro Sanitário hoje gerido e mantido pela referida Resíduos do Nordeste.
Aquilo que na altura parecia quase uma veleidade de difícil concretização (em crónicas vindouras irei abordar o tema desvendando algumas curiosidades e pormenores dos bastidores) é hoje a base sólida de outras veleidades como a maior valorização dos resíduos que chegam diariamente ao aterro. Longo e rico esse caminho, que foi evoluindo nas realizações e, felizmente, nas ambições crescentes fruto da liderança competente mas, igualmente e por isso mesmo, do desenvolvimento do conhecimento e dos avanços tecnológicos e científicos, nesta área.
O que era na altura uma ambição de realização difícil e duvidosa, é hoje um dado adquirido e quase banal. Por outro lado, pormenores e situações banais na altura, conquistaram, para os dias de hoje, relevância e importância crescente. Mudaram, com o tempo, não só as mentalidades (é bom não esquecer a dificuldade com que se fez e conseguiu fazer aceitar a instalação do aterro), mas igualmente os conceitos e a forma como são vistos e aceites (ou não!).
Ainda há pouco tempo era sinónimo de progresso e urbanidade, sem qualquer censura ou recriminação, a limpeza total das ruas (e até caminhos) de toda a vegetação recorrendo, frequentemente e sem restrições a herbicidas e outros meios de eliminação de ervas e pequenos arbustos. Isso é, definitivamente uma ideia em mutação, não só pela condenação crescente do uso do glifosato e derivados (apesar de continuar a resistir à sua ilegalização), como inclusivamente é questionável a eliminação da vegetação rasteira, mesmo que por meios puramente mecânicos. Para quê e com que objetivo se “limpam” as ruas, caminhos, passeios e valetas da vegetação rasteira e natural? Para além de humanizar a paisagem, servem para manter a biodiversidade e restringem a erosão, com todas as consequências benéficas no controle das crescentes inundações recorrentes nos ambientes urbanos.
Ao necessário combate contra a asfaltação massiva dos arruamentos urbanos impõe-se a nova luta pelo fim da remoção da vegetação daninha que nasce e cresce, de forma espontânea, por todo o lado com vantagens ecológicos de todo o género.
José Mário Leite
in:jornalnordeste.com
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