(colaborador do "Memórias...e outras coisas..."
Dizia, certa vez, alguém, cujo nome já não me recordo, que: Cultura, é o que resta, depois de tudo se ter esquecido.
É a essência, que permanece da: educação, que recebemos; dos costumes; tradições e valores, que alicerçam a sociedade, em que estamos inseridos.
Saber: é ter conhecimento de certa matéria ou determinado assunto. Cultura: é o sumo de vários conhecimentos, que foram “ esquecidos”, ao longo da vida e servem para: pensar, criticar, raciocinar… e escrever.
Nem só o académico, que frequentou a Universidade, se pode dizer que é culto; o ignorante, o humilde trabalhador do campo, pode ser sábio, e ensinar-nos muito, que empiricamente foi adquirindo, por experiência própria ou recebida dos seus maiores.
Muitas vezes, a gente rude, são verdadeiros livros abertos, no modo como se exprime, e na vernaculidade dos termos que emprega.
Cultura e liberdade, andam de mãos dadas. Não pode sobreviver a cultura de um povo, se o invasor, impõe: religião, língua, tradições, valores da sua civilização.
Antigos conquistadores, conheciam que o modo eficaz de dominaram um povo, era inculcarem: costumes e tradições alheias, ao longo dos anos.
A lavagem cultural, pode ser pela violência (decreto); ou levá-lo a aceitar, por imitação ou complexo de inferioridade.
Foi o método usado pelos europeus, na época dos descobrimentos. Pelos romanos, ao expandirem o Império; e, segundo parece, o processo, que certos lideres muçulmanos pretendiam fazer, de modo pacífico, primeiro ao Ocidente, depois ao Oriente.
A globalização acelera o fim da cultura característica dos povos, criando a mestiçagem da cultura, e fomentando a mobilização, e a perda de identidade dos povos.
É, porém, verdade, que a amálgama de tradições e costumes, enfim, da cultura de vários povos, enriquecem os países; mas, também, é verdade, que os descaracteriza.
Cada povo tem sua cultura, seu modo de pensar e agir, transmitidos de geração a geração. A globalização, lentamente, vai igualando, impondo aos povos mais fracos, a perda de identidade; acabando assimilados.
Perseverar a língua, é defender a cultura de um povo.
Em “ A Correspondência de Fradique Mendes”, Eça, depois de afirmar que :” Na língua verdadeiramente reside a nacionalidade”, exprime a opinião sobre o poliglota: “Nunca é patriota. Com cada idioma alheio que assimila, introduzem-se-lhe no organismo moral modos alheios de pensar, modos alheios de sentir. O seu patriotismo desaparece, diluído em estrangeirismo.” (*)
Infelizmente, a língua portuguesa, tem sofrido tantos saltos de polé, enxertada de tantos estrangeirismos, tão desprezada, pelas figuras públicas, inclusive a classe politica, que anda mais remendada, que capa de pedinte, como dizia o nosso clássico.
Na época de Eça, éramos “colonizados” pela França. Para se ser considerado culto, era necessário conhecer a língua francesa.
Tudo vinha de Paris: a moda, a ciência, a arte…e até os janotas da alta-sociedade, iam, à Capital da Luz, buscar noiva! …
Agora, tudo nos chega da terra do Tio Sam: os costumes, tradições, as ideias…; até a nossa língua sofre – e de que maneira, – com a subserviência…
(*) – Edição de Lelo & Irmão, Porto,1960 – Pág. 128
Humberto Pinho da Silva nasceu em Vila Nova de Gaia, Portugal, a 13 de Novembro de 1944. Frequentou o liceu Alexandre Herculano e o ICP (actual, Instituto Superior de Contabilidade e Administração). Em 1964 publicou, no semanário diocesano de Bragança, o primeiro conto, apadrinhado pelo Prof. Doutor Videira Pires. Tem colaboração espalhada pela imprensa portuguesa, brasileira, alemã, argentina, canadiana e USA. Foi redactor do jornal: “NG”. e é o coordenador do Blogue luso-brasileiro "PAZ".
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