O Partido Republicano Português, fundado em 1876, herdeiro das tradições, ideias e princípios republicanos que remontam a 1820, registou até 1890 uma escassa implantação nas massas populares. Nesse ano, porém, a afronta do Ultimatum permitiu que os republicanos acusassem a Monarquia da cedência dos territórios africanos aos ingleses e transformassem rapidamente as manifestações antibritânicas em manifestações antimonárquicas.
A crise económica de 1891-1892 e os difíceis anos que lhe seguiram, com a depreciação da moeda, o aumento da dívida pública, a contração dos investimentos e o crescimento da emigração, demonstravam à opinião pública a falência da Monarquia, assim como dos partidos e dos governos que a suportavam, aqueles fragmentados por graves dissensões, estes desacreditados pela corrupção política.
O Partido Republicano, antimonárquico por definição e anticlerical por formação, consubstanciava em si os anseios da pequena e média burguesia urbana, a qual, preocupada com a nossa dependência económica e o futuro das nossas colónias, sentia que o progresso e o desenvolvimento nacional obrigavam à mudança do regime.
Com efeito, a aspiração republicana de uma boa parte da burguesia portuguesa, após 1890, face à extinção na nossa economia dos traços fundamentais do Antigo Regime, assumiu o caráter de uma tomada de consciência nacional, que visava a modernização do País (Joel Serrão).
Assim, não é de admirar que a propagação das ideias republicanas, lenta mas progressivamente, se revelasse uma constante da sociedade portuguesa de fins do século XIX e princípios do século XX, detetável, sobretudo, na população dos mais importantes aglomerados urbanos como Lisboa, Porto, Coimbra e Setúbal.
Os primeiros anos do século XX vão assistir a um reacender da tradição revolucionária do Partido Republicano.
Em 1906, deu-se a revolta dos marinheiros e, em 1907, a greve académica culminou um período de forte agitação social que levou à instauração da Ditadura franquista. Em 1908, fracassou uma nova tentativa de conquista do poder. Mas, nesse mesmo ano, o Rei D. Carlos e o príncipe herdeiro tombavam assassinados. No ano seguinte, a Maçonaria, organização formada na sua maioria esmagadora por republicanos, mandatou uma comissão para levar a efeito a revolução.
Em 1910, a 28 de agosto, o Partido Republicano obteve em Lisboa uma estrondosa vitória, elegendo dez deputados pela capital.
Finalmente, a 5 de outubro, na sequência de uma revolução que teve lugar em Lisboa, e que permaneceu fiel ao modelo já definido pela Revolta do Porto de 31 de Janeiro de 1891, foi proclamada a República.
Quando os republicanos saíram à rua em 5 de Outubro, praticamente ninguém apareceu a bater-se pela Monarquia. Bastou um golpe de “audácia” permitido pela “cumplicidade do Exército”. Por que razão “as tropas do Rei se manifestaram cúmplices ou mantiveram indiferentes quando o estrondear do canhão e o chover da metralha anunciaram o golpe de Estado de outubro de 1910?” – pergunta Léon Poinsard. Porque no fundo, “toda a gente estava cansada, não da Monarquia, mas do regímen político, melhor, da forma de governar, de um sistema velho, gasto, falso, venal, impotente, ao qual a Monarquia servia de rótulo”.
Em Bragança, na primeira década do século XX, o republicanismo era praticamente ignorado. Trindade Coelho, em 1901, escreverá que “neste Distrito… não há republicanos. Há dois partidos: Regenerador e Progressista”.
Contudo, nas vésperas da implantação da República, inicia-se uma fase de difusão do seu ideário “junto de alguma burguesia comercial, alguns funcionários da edilidade e organismos do Estado, incluindo o Exército, e algumas profissões ditas liberais. Todavia, estas convicções raramente eram tomadas com evidência pública, salvo poucas exceções referenciadas na imprensa local”. Tais convicções, depois da fundação do semanário A Pátria Nova, em 1908, reafirmam-se e ganham outro dinamismo. Aliás, em 1908-1909, “com o objetivo de reforçar a rede clandestina das organizações maçónica e carbonária”, António Granjo e Luz de Almeida irão deslocar-se aos principais centros urbanos de Trás-os-Montes, nomeadamente Bragança – apesar de termos informação de que só após a implantação da República surgiu o primeiro triângulo maçónico nesta Cidade, constituído por José António Rodrigues de Paula, António Augusto Pires e um funcionário dos telégrafos.
Na urbe, como em muitos outros locais, pese embora a fraca implantação dos republicanos em Bragança, o 5 de Outubro não foi hostilizado. A transição de regime chegou por telégrafo e foi anunciada em mornas solenidades públicas. Mas a República continuou a suscitar resistências, mesmo após a mudança de sistema político, entre proprietários, parte do clero, oficiais do exército “até junto de gente de humilde condição”, como se verá.
À data da implantação da República, no Distrito praticamente não existiam comissões municipais republicanas – o que não impediu que, em 1911, já existissem uma Comissão Distrital, comissões municipais nos doze concelhos que integravam aquele e quatro comissões paroquiais.
Incursões Monárquicas de 1911, filme da época
Paiva Couceiro comandou a incursão monárquica de 1911; a 4 de Outubro de 1911 as suas tropas entram em Portugal por Cova de Lua, Espinhosela e Vinhais, onde foi hasteada na varanda da Câmara Municipal a bandeira azul e branca, e tomam Chaves. Três dias mais tarde, derrotadas pelas forças republicanas, as tropas de Paiva Couceiro retiram-se para a Galiza.
A Cidade de Bragança, após a proclamação da República em 1910, foi objeto de uma significativa agitação sociopolítica, que atingiu o máximo da sua intensidade aquando das incursões monárquicas que ocorreram no Norte de Portugal (1911-1912) e ainda durante o Reino da Traulitânia, em 1919, a tentativa mais séria de derrubar a República e reinstaurar a Monarquia em Portugal.
Título: Bragança na Época Contemporânea (1820-2012)
Edição: Câmara Municipal de Bragança
Investigação: CEPESE – Centro de Estudos da População, Economia e Sociedade
Coordenação: Fernando de Sousa

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