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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite, Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues, João Cameira e Rui Rendeiro Sousa.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

quinta-feira, 11 de abril de 2019

BRAGANÇA DURANTE A PRIMEIRA REPÚBLICA (1910-1926)

A Revolução de 5 de Outubro de 1910, que estabeleceu a República em Portugal, deve ser considerada como o termo final de um processo revolucionário, aberto no Porto a 31 de janeiro de 1891.
O Partido Republicano Português, fundado em 1876, herdeiro das tradições, ideias e princípios republicanos que remontam a 1820, registou até 1890 uma escassa implantação nas massas populares. Nesse ano, porém, a afronta do Ultimatum permitiu que os republicanos acusassem a Monarquia da cedência dos territórios africanos aos ingleses e transformassem rapidamente as manifestações antibritânicas em manifestações antimonárquicas.

Daí em diante, o Partido Republicano não só engrossou as suas fileiras, como se gerou no País uma importante corrente de opinião favorável ao estabelecimento da República.
A crise económica de 1891-1892 e os difíceis anos que lhe seguiram, com a depreciação da moeda, o aumento da dívida pública, a contração dos investimentos e o crescimento da emigração, demonstravam à opinião pública a falência da Monarquia, assim como dos partidos e dos governos que a suportavam, aqueles fragmentados por graves dissensões, estes desacreditados pela corrupção política.
O Partido Republicano, antimonárquico por definição e anticlerical por formação, consubstanciava em si os anseios da pequena e média burguesia urbana, a qual, preocupada com a nossa dependência económica e o futuro das nossas colónias, sentia que o progresso e o desenvolvimento nacional obrigavam à mudança do regime.
Com efeito, a aspiração republicana de uma boa parte da burguesia portuguesa, após 1890, face à extinção na nossa economia dos traços fundamentais do Antigo Regime, assumiu o caráter de uma tomada de consciência nacional, que visava a modernização do País (Joel Serrão).
Assim, não é de admirar que a propagação das ideias republicanas, lenta mas progressivamente, se revelasse uma constante da sociedade portuguesa de fins do século XIX e princípios do século XX, detetável, sobretudo, na população dos mais importantes aglomerados urbanos como Lisboa, Porto, Coimbra e Setúbal.
Os primeiros anos do século XX vão assistir a um reacender da tradição revolucionária do Partido Republicano.
Em 1906, deu-se a revolta dos marinheiros e, em 1907, a greve académica culminou um período de forte agitação social que levou à instauração da Ditadura franquista. Em 1908, fracassou uma nova tentativa de conquista do poder. Mas, nesse mesmo ano, o Rei D. Carlos e o príncipe herdeiro tombavam assassinados. No ano seguinte, a Maçonaria, organização formada na sua maioria esmagadora por republicanos, mandatou uma comissão para levar a efeito a revolução.
Em 1910, a 28 de agosto, o Partido Republicano obteve em Lisboa uma estrondosa vitória, elegendo dez deputados pela capital.
Finalmente, a 5 de outubro, na sequência de uma revolução que teve lugar em Lisboa, e que permaneceu fiel ao modelo já definido pela Revolta do Porto de 31 de Janeiro de 1891, foi proclamada a República.
Quando os republicanos saíram à rua em 5 de Outubro, praticamente ninguém apareceu a bater-se pela Monarquia. Bastou um golpe de “audácia” permitido pela “cumplicidade do Exército”. Por que razão “as tropas do Rei se manifestaram cúmplices ou mantiveram indiferentes quando o estrondear do canhão e o chover da metralha anunciaram o golpe de Estado de outubro de 1910?” – pergunta Léon Poinsard. Porque no fundo, “toda a gente estava cansada, não da Monarquia, mas do regímen político, melhor, da forma de governar, de um sistema velho, gasto, falso, venal, impotente, ao qual a Monarquia servia de rótulo”.
Em Bragança, na primeira década do século XX, o republicanismo era praticamente ignorado. Trindade Coelho, em 1901, escreverá que “neste Distrito… não há republicanos. Há dois partidos: Regenerador e Progressista”.
Contudo, nas vésperas da implantação da República, inicia-se uma fase de difusão do seu ideário “junto de alguma burguesia comercial, alguns funcionários da edilidade e organismos do Estado, incluindo o Exército, e algumas profissões ditas liberais. Todavia, estas convicções raramente eram tomadas com evidência pública, salvo poucas exceções referenciadas na imprensa local”. Tais convicções, depois da fundação do semanário A Pátria Nova, em 1908, reafirmam-se e ganham outro dinamismo. Aliás, em 1908-1909, “com o objetivo de reforçar a rede clandestina das organizações maçónica e carbonária”, António Granjo e Luz de Almeida irão deslocar-se aos principais centros urbanos de Trás-os-Montes, nomeadamente Bragança – apesar de termos informação de que só após a implantação da República surgiu o primeiro triângulo maçónico nesta Cidade, constituído por José António Rodrigues de Paula, António Augusto Pires e um funcionário dos telégrafos.
Na urbe, como em muitos outros locais, pese embora a fraca implantação dos republicanos em Bragança, o 5 de Outubro não foi hostilizado. A transição de regime chegou por telégrafo e foi anunciada em mornas solenidades públicas. Mas a República continuou a suscitar resistências, mesmo após a mudança de sistema político, entre proprietários, parte do clero, oficiais do exército “até junto de gente de humilde condição”, como se verá.
À data da implantação da República, no Distrito praticamente não existiam comissões municipais republicanas – o que não impediu que, em 1911, já existissem uma Comissão Distrital, comissões municipais nos doze concelhos que integravam aquele e quatro comissões paroquiais.



Incursões Monárquicas de 1911, filme da época

Paiva Couceiro comandou a incursão monárquica de 1911; a 4 de Outubro de 1911 as suas tropas entram em Portugal por Cova de Lua, Espinhosela e Vinhais, onde foi hasteada na varanda da Câmara Municipal a bandeira azul e branca, e tomam Chaves. Três dias mais tarde, derrotadas pelas forças republicanas, as tropas de Paiva Couceiro retiram-se para a Galiza.

A Cidade de Bragança, após a proclamação da República em 1910, foi objeto de uma significativa agitação sociopolítica, que atingiu o máximo da sua intensidade aquando das incursões monárquicas que ocorreram no Norte de Portugal (1911-1912) e ainda durante o Reino da Traulitânia, em 1919, a tentativa mais séria de derrubar a República e reinstaurar a Monarquia em Portugal.

Título: Bragança na Época Contemporânea (1820-2012)
Edição: Câmara Municipal de Bragança
Investigação: CEPESE – Centro de Estudos da População, Economia e Sociedade
Coordenação: Fernando de Sousa

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