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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

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COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

domingo, 7 de abril de 2019

Comentário escrito e análise sucinta ao que observei em França e particularmente na Normandia, onde às vezes passo uns dias diferentes e agradáveis.

Por: António Orlando dos Santos 
(colaborador do "Memórias...e outras coisas...")
Dedico este escrito aos alunos (as) da Universidade Sénior de Bragança, que estão a pensar fazer uma semana de férias em La Haye du Theil no próximo mês de Agosto.
Acredito que fui parco nas referências que fiz a esta região francesa que é apenas mais um mosaico que compõe o grande painel que é a Pátria francesa no que respeita ao território e ao património, strictus sensus. Tentarei ser isento nas observações, para que a informação chegue aos leitores sem distorções que a favoreçam ou apouquem, é deveras positiva a minha opinião pois o estado civilizacional deste país é avançadíssimo. A marca de bom gosto está patente em todos os lugares.
Sendo tudo relativo é visível que a infraestrutura está distribuída em cima de uma superestrutura que foi pensada com grande conhecimento das artes e das ciências.
Li há algum tempo atrás, dois livros de um escritor francês chamado Antoine Saint Exupéry que considero sublimes, dada a fluência narrativa impressionante e a lucidez da análise feita a partir do cockpit de um avião em missão de reconhecimento sobre território francês ocupado por tropas alemãs, nazis. Perpassa pelas páginas desta obra prima a capacidade suprema de fazer compreender a ideia abstrata aos outros, de maneira tão natural que só os dotados que a possuem logram conseguir. Há de facto talento na escrita deste homem, que descreve sublimemente a tensão imposta pelas circunstâncias a três aviadores militares que numa missão impossível possuem ainda capacidade para filosofar acerca do que se passa em terra, ocasionado por erros humanos que conduziram à guerra e à facilidade com que os alemães ocuparam a França, bem assim como quase toda a Europa e para vergonha da França quase sem resistência.
Aberto este preâmbulo regresso ao meu sentido crítico de apreciação das maravilhas naturais e das edificadas que se me oferecem livremente para gáudio dos meus olhos e sentidos. Aqui os dias são claros, com sol e chuva, numa mescla de verde, cinzento e azul. As flores possuem e exibem uma miríade de cores agradáveis e suaves que têm o condão de realçar a beleza dos pássaros que numa azáfama permanente após os primeiros raios da aurora se afadigam a construir os ninhos onde farão as posturas iniciando o advento das novas gerações. 
Terra fértil e saudável possui o encanto das coisas por Deus amadas, Igrejinhas com os seus pináculos que apontam ao céu e nos trazem de volta a ideia das coisas maravilhosas da nossa juventude feitas de ambições desmedidas a que Deus dava a exata proporção e parecem hoje, terem sido ali colocadas pelo poder de uma entidade possuidora de um conceito estético que de todo transcendesse o dos homens. Planícies cuja linha do horizonte é elemento etéreo que obsta à sua continuação até ao infinito. Terras cultivadas de ervas altas, as mais variadas, que sentimos como uma sinfonia que nos alerta para a paga que a Natureza dá aos homens que a trabalham e regam com o suor dos seus rostos. 
No sopé dos montes maneirinhos, florestas esparsas onde se pressente o coelho, a lebre, a perdiz e até o gamo. Festa para caçadores em grupos que no começo de Outubro, fazem alarde com espingardas e merendas. Ruídos de vozes e atitudes excitadas pelo ladrar dos cães e o fascínio da prática de atividade cinegética velha como a própria humanidade. Tendo tomado atenção a todos estes pormenores não posso deixar de dizer que amo a Normandia. Não como amo Bragança, pois aí há o passado meu e dos meus Há o que resta do cordão umbilical que me ligou à mãe que me carregou dentro de si, há o simples passar dos dias que formou o meu carácter e o contacto com as gentes que me transmitiram princípios morais e senso comum acumulado ao longo de gerações, tendo sedimentado para se tornar num ser e sentir que se designa por humanidade. 
Achei porém na Normandia algo semelhante, um certo sentir que a Natureza dá aos homens e aos bichos que não é mais do que o sentido gregário de grupos de indivíduos que interferem a seu modo com tudo que a vida necessita para que as espécies sobrevivam. Das leituras feitas e das conversas havidas, sei que a Natureza tem os seus mecanismos imutáveis, mas não os havia jamais observado acontecerem de forma cronológica e determinada como os observei agora.
As flores surgirem nos ramos, transformarem-se em botões e depois abrirem-se, até ao esplendor e em seguida exangues e falhas da seiva vital decaírem e se desfazerem em pétalas que ao juncarem o chão criam uma outra beleza não menos admirável que fecundará o solo e as repetirá vezes infindas até à consumação dos tempos. Cumpridos os ciclos, bichos e homens após comerem e procriarem estão prontos a se finarem. 
Mas apenas nós que fomos os que mais nos deleitámos com o processo da vida em ascensão contínua, temos a consciência de que o fim nos aguarda e outra geração está pronta em tempo para ocupar o lugar da nossa, num processo descrito pelo francês Lavoisier, que comparando os tempos e ciclos concluiu que: -Nada nasce nem morre, tudo se transforma! 
Da constatação da harmonia na vida social, direi que há uma Paz instituída pela matriz europeia e mantida pelo uso de uma autoridade que se vale da lei escrita e devidamente fundamentada, em que as corporações que têm por missão a lei e a justiça se complementam num esforço de servir as gentes e a República.
A interacção social faz-se sem grandes fricções através de equilíbrios inatos que devem ser analisados através da matriz cultural de séculos e também dos fluxos migratórios mais numerosos a partir de finais de oitocentos (sec.XIX). 
A administração pública é eficiente embora assaz burocrática e o apreço pelo bem comum elevadíssimo. Estradas e caminhos bem cuidados, propriedades agrícolas e urbanas encontram-se diligentemente assistidas. Nos vales é frequente encontrarem-se Mosteiros e Igrejas seculares. Verifica-se que através dos séculos a vida religiosa e o estudo foram parte substancial da vida da nação francesa. Até à Revolução e consequente mudança de paradigma concretizado com a queda do Antigo Regime, a Igreja Católica deve ter tido um poder Espiritual e Secular que será para mim de dificuldade maior tentar analisar, dado que os meus conhecimentos de História Francesa são poucos, não indo além do elementar. Constata-se no entanto que ainda hoje possui recursos humanos e financeiros fantásticos, que lhe permite continuar a obra multissecular que influenciou toda a civilização ocidental.
Nas cidades e vilas a vida é de padrão elevado prevalecendo a ideia de excelência ligado ao povo francês. Os estabelecimentos são arrumados e limpos com montras onde os produtos expostos foram colocados com arte para atrair a clientela que habituada a ver coisas de qualidade é difícil de satisfazer. Lojas de roupas que fazem sonhar o belo sexo e pastelarias onde artesãos hábeis produzem coisas lindas e saborosas. Nos talhos e peixarias, os alimentos estão à vista devidamente preparados, as carnes colocadas sobre verduras e o peixe sobre gelo moído grosso para lhe conservar a frescura. As praças são largas e elegantes, havendo em quase todas Igrejas monumentais, em que os arcos das portas e os cumeais são ornados de figuras em relevo que retratam anjos e demónios em doses equitativas. Trabalho de artistas, construtores de Catedrais que deixaram marcas da sua ciência por essa Europa, onde a fama dos Maçons, ditos pedreiros livres era respeitado pelos pensadores e gente que os tinha como os possuidores da ciência para ser possível construir a cidade dos homens em honra do ser Supremo a quem chamaram o Arquiteto do Universo. Vidas que conheceram e têm memória de um passado de guerras e grandeza e que vivem um presente mais condizente com o "motto" da Revolução: Liberdade, igualdade e fraternidade! 
É do Ideal do Humanismo de alguns pensadores que nasce esta filosofia de progresso que dá garantias de futuro à humanidade através da distribuição feita com mais equidade.
Da rede de estradas e auto estradas fica-nos a sensação agradável da obra bem-feita. As ligações rodoviárias às cidades de renome, como Deuville ou Henfleur, Porto do Havre ou Rouen, faz- se da maneira mais simples e conseguida. Para tal foram construídas obras de arte que fazem a glória dos engenheiros de pontes franceses. Na A-13, Chamada Route de La Normandy e perto de La Haye du Theil há um viaduto edificado sobre um vale que visto do solo e na vertical, impressiona pelo tabuleiro rodoviário sustentado por colunas de betão armado que consubstanciam um Fly Over de grande envergadura. Evitou-se assim a destruição do vale com a estrada já que os pilares ocupam espaços diminutos comparados com o volume que a estrada no solo ocuparia. O tráfego é fluído porque a infra-estrutura é boa e o parque automóvel é novo e de qualidade. O policiamento é eficaz mas fica-nos a impressão de uma cultura policial mais repressiva que preventiva. Se compararmos o sistema policial francês ao dos vizinhos ingleses, fica-nos a ideia de que a caça à multa em França é uma questão cultural enquanto no Reino Unida é puramente preventiva. Ali os cidadãos não estão sujeitos às patrulhas emboscadas que sem serem vistas flagram os automobilistas em plena auto estrada e depois lhes mandam a comunicação das multas e subsequente perda de pontos na carta de condução.
A Normandia aqui retratada é um espaço grande e em termos geográficos diversa das outras regiões europeias. Parece-me justo realçar tudo o que pode ser superlativo, e é muito pois ficamos assim seguros de sermos fiáveis e capazes de isenção q.b. para desfrutar do que se nos apresenta e constitui património que eleva a humanidade a patamares civilizacionais altíssimos.
Por tudo isto aconselho os meus amigos(as) a aproveitarem a ocasião de em Agosto verem de facto uma das mais belas regiões da Europa. 
Junto algumas fotos sugestivas do nível estético das construções civis com o seu peculiar estilo Normando , muito semelhante ao estilo Tudor da Grã –Bretanha. 






Vila Nova de Gaia, 02/04/2019
A. O. dos Santos
(Bombadas)

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